Vila Franca de Xira está a perder a sua cultura de rua
Jorge Carvalho, 39 anos, é jurista e trabalha no Museu do Neo-Realismo. Toda a vida teve empregos precários e diz que essa é uma chaga dos tempos modernos. Diz que Vila Franca de Xira deve voltar a ter a cultura de rua e a boa vizinhança que teve em tempos e se tem perdido. É uma pessoa apaixonada por música que gosta de tocar guitarra nos tempos livres.
A cidade de Vila Franca de Xira precisa de voltar a ganhar rapidamente a cultura de rua e o bairrismo de outros tempos e que era um grande pilar de apoio e entreajuda para a comunidade. A opinião é de Jorge Carvalho, 39 anos, jurista e natural da cidade.
“Era impensável há uns anos ver a cidade deserta à noite como a vemos hoje. É uma das grandes penas que tenho. Vila Franca de Xira tem uma grande cultura de rua e foi isso que sempre estimulou a minha vida. É fundamental que voltemos a ter essa cultura e se promova a amizade, solidariedade e a boa vizinhança”, defende a O MIRANTE.
Jorge Carvalho teve várias profissões ao longo da vida, a maior parte delas precárias, facto que o leva a considerar esse modelo laboral como uma das chagas dos tempos modernos. “É uma chaga que só acabará quando a Assembleia da República e o Governo decidirem acabar com esses modelos de precariedade. É uma decisão política”, lamenta. Actualmente trabalha no Museu do Neo-Realismo, situação que lhe permite manter uma vida estável. Vive na cidade e demora dez minutos a chegar ao emprego. Não usa carro dentro da cidade.
“Mesmo no tempo da troika lembro-me de sair do trabalho para tomar café e encontrar gente conhecida para conviver um pouco. Isso hoje já não está a acontecer. As pessoas estão mais em casa e a pandemia veio trazer isso ainda mais ao de cima e agravar um problema que já se sentia antes disso”, lamenta.
Jorge Carvalho nasceu em Vila Franca de Xira, cidade onde passou toda a sua infância. Aos oito anos a família mudou-se para São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, onde ficou praticamente até aos 30 anos, tendo depois regressado a Vila Franca de Xira. “Há um íman que parece pedir-nos para regressar à nossa terra. Tenho memórias muito bonitas da minha infância, era uma cidade muito viva, cheia de actividades e movimento de rua, comércio, pessoas que vinham de fora e isso inspirou-me muito”, recorda.
O sonho do carrinho do lixo
Diz que nunca teve uma profissão de sonho quando era pequeno, embora confesse que, a dada altura, sonhava ser trabalhador da recolha do lixo. “A rua dos meus avós era muito inclinada e achava que o carrinho da recolha era espectacular para descer a rua montado nele”, brinca. Mais tarde teve de optar entre Jornalismo ou Direito. “Acabei por escolher Direito pela sua dimensão sócio-económica e a forma como ele consegue abranger um conjunto de matérias que permitam ter os instrumentos necessários para contribuir para a sociedade de forma mais concreta”, afirma.
Na faculdade estudava e trabalhava num escritório de advogados. O seu primeiro emprego foi a dar formação de ciências numa empresa que promovia eventos e workshops de ciência para crianças. Depois foi músico num bar do Porto durante dois anos e meio e ainda hoje toca guitarra nos tempos livres.
Entretanto, quando voltou a Vila Franca de Xira foi trabalhar em Lisboa numa sociedade de advogados contratada para fazer a migração dos processos físicos de contencioso de um banco para as plataformas digitais. Voltou ao desemprego e acabou chamado para trabalhar numa instituição de ensino superior na área da responsabilidade social e empregabilidade. O contrato entretanto terminou e Jorge voltou ao desemprego. Em 2014 mandou currículo para o município e acabou chamado através do centro de emprego para uma entrevista. Acabou por ficar.
É apaixonado por música e diz não ter um estilo que o defina. “Todos os dias tenho uma banda preferida”, nota. Led Zeppelin, Clash e Queens of the Stone Age são algumas das suas bandas favoritas. “Neste momento considero a Billie Eilish a melhor artista do século XXI”, afirma.