Os maus hábitos alimentares, muitas vezes transmitidos pelos pais, a falta de exercício físico e um elevado número de horas em frente aos ecrãs são algumas das causas que levam à obesidade infantil. O nutricionista Miguel Silva, que dá consultas na clínica médica Jardim da República, em Almeirim, defende que, além destas causas, também os factores genéticos, hormonais, stress e falta de sono contribuem para o excesso de peso. “Além de todos estes factores temos de olhar para a comida que damos aos nossos filhos. Essa é a principal causa da obesidade nos mais novos”, explica o nutricionista, de 43 anos, a O MIRANTE.

Na sua opinião, cabe aos pais conhecerem melhor a importância de cada alimento e apostar numa alimentação saudável. “Os bons hábitos alimentares começam em casa. É necessário aumentar o consumo de frutas e vegetais, que são os alimentos mais nutritivos e com mais vitaminas. Tem que se ensinar às crianças a descascar mais e desembrulhar menos”, esclarece.

Uma má alimentação pode trazer problemas de saúde como hipertensão, problemas cardiovasculares, diabetes, doenças auto-imunes, cancro, distúrbios alimentares (anorexia e bulimia), obesidade mórbida, quadros de doenças mentais e problemas de relacionamento como depressão e baixa auto-estima, entre outras. Miguel Silva preocupa-se não só com as crianças com excesso de peso como com as que têm peso insuficiente para a sua idade e altura devido a possíveis distúrbios alimentares graves.

O nutricionista sublinha a importância de hábitos regulares de exercício físico porque, desta forma, as crianças vão tornar-se adultos menos sedentários, menos obesos e com melhor qualidade de vida. No entanto, explica, já há crianças e jovens que se vão preocupando com o que comem, o que reflecte a preocupação dos pais sobre o assunto. A participação de nutricionistas na elaboração das ementas escolares também ajuda a saberem fazer uma melhor escolha.

BULLYING ESCOLAR EM CRIANÇAS COM OBESIDADE

Sessenta e cinco por cento das crianças com obesidade em Portugal sofrem de bullying escolar, segundo uma sondagem divulgada pela Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil (APCOI) que aponta para um agravamento da situação devido ao confinamento provocado pela pandemia de Covid-19.

A sondagem indica também que uma em cada cinco crianças com obesidade foi vítima pela primeira vez de um ataque de cyberbulling nas redes sociais durante os meses de confinamento e ensino à distância. Insultos, alcunhas e comentários inapropriados foram os principais actos discriminatórios cometidos contra crianças com excesso de peso na faixa etária entre os seis e os 14 anos.

Os episódios de bullying reportados foram, segundo a sondagem, na maioria realizados por colegas da mesma turma (47%), seguindo-se situações com alunos de outras turmas da escola (40%) e ainda ocorrências com professores ou pessoal não docente (13%). A maioria dos 512 encarregados de educação inquiridos revelou já ter lidado com pelo menos um episódio de bullying escolar ou preconceito relacionado com o peso da criança, nos últimos dois anos letivos.

O nutricionista Miguel Silva explica que o bullying leva ao isolamento social e se a criança não tiver o devido apoio familiar pode encontrar o seu ‘conforto’ na comida mais rica em gordura e açúcares de uma forma compensatória favorecendo o excesso de peso e obesidade. “É um ciclo com efeito ‘bola de neve’ que deve ser controlado desde o início”, reforça.