Jornalistas são Prémio Nobel da Paz pela primeira vez
Prémio Nobel da Paz, Maria Ressa, esteve em Portugal em 2018 no Congresso Mundial de Jornalista onde ganhou a Caneta de Ouro da Liberdade.
“Os novos guardiões da democracia são as empresas de tecnologia”; foi com estas palavras que Maria Ressa, jornalista das filipinas que ganhou este ano o prémio Nobel da Paz, em conjunto com o jornalista russo Dmitry Muratov, discursou em Março de 2018, no Estoril, onde se realizou o 70º Congresso Mundial de Jornalistas que reuniu em Portugal os mais influentes profissionais do sector de todo o mundo. Uma das iniciativas mais importantes do congresso, que teve o patrocínio de O MIRANTE, foi a atribuição da Caneta de Ouro da Liberdade a Maria Ressa.
David Callaway, presidente do World Editors Forum, apresentou a jornalista e directora executiva da empresa Rappler, das Filipinas, como uma jornalista verdadeira exemplar. Na altura, David Callaway deu conta que Maria Ressa e a sua empresa sofreram vários ataques do poder político das filipinas. “Nos piores períodos ela contou 90 ataques pessoais por hora, desde mensagens virtuais até notícias nos media. Estupro e ameaças de morte, mensagens direccionadas para si e para a sua família, extensivas aos repórteres do Rappler, fazem com que o trabalho de informar seja uma actividade perigosa nas Filipinas”, disse na altura David Callaway, perante uma plateia repleta dos mais influentes jornalistas e editores do mundo.
JORNALISTAS DE TODO O MUNDO TRABALHAM EM CONJUNTO
A atribuição do Prémio Nobel da Paz a dois jornalistas, coisa inédita e surpreendente, está longe do impacto da revelação contida nos Panamá Papers e Pandora Papers, nomeadamente dos nomes famosos da política e da sociedade, envolvidos em esquemas de corrupção financeira.
O total de informação é de tal modo gigantesca que as empresas de comunicação, que tiveram acesso aos documentos, organizaram-se num consórcio internacional de jornalistas que juntam os títulos mais prestigiados do mundo. Até há pouco tempo estavam envolvidos nestas investigações jornalistas de mais de 90 jornais e outros órgãos de informação de mais de 120 países.
Os milhões de documentos comprometedores para centenas de dirigentes políticos e empresários fez com que fosse criada uma gigantesca base de dados estruturada que permite aceder em poucos segundos aos documentos, um labor de classificação e inter-relação entre os documentos, inédita na história do jornalismo.
O caso Rui Pinto, também com repercussão mundial, é outro exemplo do paraíso perfeito em que vivem alguns dirigentes políticos e desportivos, seja ao nível do mau funcionamento da Justiça seja dos governantes que não promovem a reforma do sistema e permitem as maiores injustiças.
Enquanto a actividade jornalística vai provando que esta é uma das melhores formas de defender a democracia, e de lutar contra o poder dos mais ricos e corruptos, o jornalismo perde todos os dias a batalha da sobrevivência. Tal como disse Maria Ressa no Congresso de Jornalistas no Estoril, em Março de 2018, as empresas de tecnologia tomaram conta do mercado que dominam a seu belo prazer; primeiro conquistaram o mercado publicitário e agora vão conquistar o mercado dos leitores que vão ler apenas aquilo que eles entenderem que é informação e jornalismo.
Bem-vindos ao século XXI e ao ano em que dois jornalistas, uma das profissões que atravessa a maior crise de sempre, ganham o Prémio Nobel da Paz.