“Um dador de sangue tem consciência que está a salvar vidas”
Anabela Lima é presidente do Grupo de Dadores Benévolos de Sangue da Portela das Padeira.
Anabela Lima é licenciada em engenharia civil mas não exerce. É gestora de clientes numa multinacional em Lisboa. Desde a pandemia que está em teletrabalho e vai continuar a trabalhar a partir de casa, em Santarém. É presidente do Grupo de Dadores Benévolos de Sangue da Portela das Padeiras, que comemorou 27 anos a 7 de Maio. A dirigente associativa apela aos jovens que se tornem dadores de sangue e alerta para a escassez das reservas de sangue.
Quando decidi engravidar descobri que tinha cancro de mama. Tinha 29 anos quando decidi fazer exames para saber se estava tudo bem para engravidar, quando me foi detectado um carcinoma. A verdade é que nunca dramatizei e encarei a doença sempre de modo positivo. Só chorei no primeiro dia e a partir daí decidi que tinha que ultrapassar a doença e foi o que fiz. Não queria que a minha família sofresse, porque o meu pai morreu com a mesma doença. Só não permitia que me vissem nos dias em que fazia quimioterapia, porque era muito complicado, mas no dia seguinte tinha os meus irmãos em casa para verem como estava.
Depois de ser mãe a vida transforma-se e tudo se torna mais bonito. É uma mudança radical quando um filho chega à nossa vida. As prioridades mudam e a vida ganha outro sentido. Temos sempre receio que alguma coisa lhe aconteça, mas tudo o que faço é sempre em prol do meu filho. Todos os passos e decisões que tomo é a pensar no que é melhor para ele. O que mais me encanta na maternidade é educar um ser humano e prepará-lo para as dificuldades da vida, para ele saber lidar com serenidade e aprender a gerir as frustrações que lhe vão aparecer no caminho.
Estou no associativismo há cerca de seis anos. Num dos almoços de aniversário do Grupo de Dadores Benévolos de Sangue da Portela das Padeiras o meu irmão apelou para que as pessoas aderissem ao associativismo e voluntariei-me. Na altura convidou-me para ser vice-presidente, cargo que não estava à espera. Quando me voluntariei foi só para ajudar, “para fazer número”. O meu irmão, Carlos Lima, foi presidente do grupo durante 22 anos e quando teve um problema de saúde fiquei como presidente. Nunca tinha estado envolvida no associativismo mas fui tomando o gosto.
Um dador de sangue tem consciência que está a salvar vidas. Admiro o empenho dos dadores, que além do sangue, disponibilizam o seu tempo. Muitas vezes ficam ao sol ou à chuva à espera para poderem contribuir com o seu gesto de solidariedade. Várias das nossas recolhas são ao domingo de manhã e é tempo que deixam de estar com a família e amigos para darem sangue, por isso elogio-os muito. Por ano conseguimos cerca de 400 dádivas no nosso grupo.
Os mais jovens são o futuro do país e por isso são fundamentais para continuarmos a dar sangue. Ao longo dos anos vão-se perdendo dadores porque são os mais velhos que costumam participar. Criamos uma comissão de jovens, que ainda não está no terreno, mas pretendemos que esses elementos sejam os porta-vozes do nosso grupo junto das camadas mais jovens. Esperamos conseguir chegar a eles, porque são o futuro da solidariedade.
Falta-nos uma sede em condições na Portela das Padeiras. Temos uma sala pequena nas instalações da Cruz de Cristo Futebol Clube onde é impossível reunir e guardar as nossas coisas. O anterior presidente da União de Freguesias da Cidade de Santarém, Carlos Marçal, sensibilizou-se com a nossa causa e disponibilizou um espaço na Ribeira de Santarém, que agradecemos muito. No entanto, vamos continuar a tentar para que a nossa sede seja na Portela das Padeiras ou na cidade porque somos daqui.
As redes sociais e jornais são fundamentais para divulgarmos a nossa actividade e chegarmos a mais pessoas. A nossa maior promoção é feita através das redes sociais mas continuamos a apostar também no jornal, nomeadamente em O MIRANTE, porque consideramos que existe uma grande fatia de pessoas que continua a ler jornais e chegamos a um público diferente do das redes sociais.
Gosto de estar em paz no meu mundo. A pandemia trouxe-me ainda mais a possibilidade de estar no meu mundo. Também percebi quem realmente importa e quem se importa connosco. Estou em teletrabalho desde o início da pandemia e vai manter-se assim. Adoro Lisboa mas ganhei mais tempo para mim ao deixar de fazer a viagem todos os dias. Tenho mais tempo para as minhas caminhadas. Adoro ouvir música e ler. Estou a ler “GP3S Divórcio Consciente”, uma co-autoria de uma grande amiga, Marcela Almeida. Um livro que me ficou na memória foi “O Perfume”, do alemão Patrick Süskind.