Leitura na infância estreita laços afectivos e facilita no desenvolvimento
A Biblioteca de Azambuja conta histórias aos mais novos, incentivando-os à leitura e estimulando o seu desenvolvimento cognitivo. Em casa os pais devem continuar o trabalho facilitando o acesso ao livro e a ler para os filhos, defende a coordenadora do serviço, Joanna Whitfield.
Uma vez por mês duas dezenas de crianças entre os três e os nove anos, repartidas por grupos, juntam-se na Biblioteca Municipal de Azambuja para escutar uma história. É Joanna Whitfield que lhe dá voz. Na retaguarda, pais e mães observam em silêncio para no final interagirem com os pequenos numa actividade lúdica. “O que se pretende é criar momentos em família e despertar para a importância de os mais pequenos ouvirem uma leitura em voz alta, algo que nem sempre acontece em casa”, explica a coordenadora do serviço de bibliotecas do município.
A pequena Constança Carrondo, de seis anos, é a última a sentar-se no chão e a cruzar as pernas. Nesse sábado de Outono lê-se um conto que remete para esta estação do ano. Há três anos que a menina viaja com a sua mãe, Inês Mendes, do Cartaxo a Azambuja para participar na actividade ALBA - A Ler Brincamos e Aprendemos. “Desde muito cedo começou a memorizar as histórias que eram lidas e a contá-las em casa”, nota Inês Mendes.
Sabendo-se que a leitura é fundamental no desenvolvimento cognitivo das crianças e jovens, ao nível da memória, linguagem, criatividade, concentração e sociabilidade, importa estimular o hábito da leitura por prazer. “Ler não pode estar sempre associado a uma actividade escolar que vai exigir um trabalho ou resposta a perguntas”, alerta Joanna Whitfield, acrescentando que tanto professores como pais devem estar envolvidos no propósito de aproximar as crianças da leitura e facilitar-lhes o acesso aos livros.
Depois de mais uma sessão do ALBA a maioria das famílias concentra-se junto às estantes de livros infantis. Um ou dois contos, mais jogos didácticos e livros juvenis são requisitados. Se vão ser lidos? Espera-se que sim. Mas “o simples facto de levar livros para casa e deixá-los num local acessível já é um passo importante. Na primeira infância, por exemplo, se o livro for deixado junto aos brinquedos o bebé vai associá-lo à brincadeira e criar uma ligação com aquele objecto”, refere a bibliotecária.
Estreitar laços afectivos
Os benefícios da leitura são tantos que quanto mais cedo se começar melhor, ou seja, “quando o bebé ainda está dentro da barriga da mãe”, defende Joanna Whitfield, acompanhando a tese de vários especialistas. “Está provado que quem ouve na barriga tem facilidade na aquisição da linguagem”, sublinha.
Além de auxiliar no desenvolvimento através da introdução de vocabulário e de imagens coloridas e com diferentes formas, a leitura vai estreitar os laços afectivos entre pais e filhos. “E para isso bastam cinco ou dez minutos, por isso não há desculpas para falta de tempo”, lembra Joanna Whitfield.
Também não pode ser ignorado o facto de à volta de uma história lida em voz alta a uma criança se criar um ambiente propício à literacia da informação que deve começar cada vez mais cedo. “Não saber o que se está a ler, interpretar, nem conseguir distinguir informação verídica de falsa ou fictícia é perigoso. Quando vemos crianças com telemóveis na mão devemos perguntar-nos se sabem o que estão a ler [ou ouvir]”, alerta.
No entanto, ressalva, a leitura também acontece nos tablets e telemóveis através de livros digitais que não são uma concorrência indesejada aos livros em papel. “O que importa é mostrar o caminho certo para a leitura e isso também implica adaptá-la aos novos tempos”, conclui.