uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
O leitor misterioso, e outras histórias da Biblioteca de Almeirim
Mário Cláudio, Luísa Branco, Maria Antónia Maximiano e Hélder Constantino são os funcionários da Câmara de Almeirim

O leitor misterioso, e outras histórias da Biblioteca de Almeirim

No dia 26 de Outubro de 1991 Almeirim abriu as portas de uma biblioteca municipal num avanço enorme para a época em termos culturais. Em 30 anos a Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval somou muitos reconhecimentos. Muita coisa mudou em três décadas vividas por quatro funcionários com muitas histórias para contar.

A Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval já funcionava há uns anos quando começou a aparecer um homem, com aspecto de sem-abrigo, carregado de sacos, que passava dias a escrever. Nunca se soube quem era. Chegou a ser chamada a GNR para o identificar, mas a autoridade não divulgou a identidade. Um dia deixou simplesmente de aparecer, mas o mistério continua vivo nos pensamentos de Mário Cláudio, Luísa Branco, Maria Antónia Maximiano e Hélder Constantino. Os primeiros funcionários e guardiões de trinta anos de memórias que agora se assinalam.

Os quatro acompanharam a evolução de um espaço que hoje já não tem enciclopédias nas prateleiras. Foram atiradas pela internet para um depósito, de onde só saem se houver um pedido de consulta. A sala de estudo já não se enche de alunos. Ainda há DVD’s para requisitar. Mas a sala de audiovisuais já não tem dispositivos para ouvir música ou ver filmes. Quando a biblioteca estava aberta ao sábado muitos convidados de casamentos no salão do outro lado da Avenida 25 de Abril instalavam-se a ver filmes depois do almoço até à hora do copo de água.

A biblioteca da terra da sopa de pedra chegou a ser uma referência na região e no país. Quando abriu, Mário, Luísa, Maria Antónia e Hélder trabalharam de dia e de noite para catalogarem os livros, manualmente. Já havia um acervo e durante os cerca de dois anos de construção do edifício foram sendo compradas outras obras de referência. Fizeram formação em Lisboa, na Associação Portuguesa de Bibliotecários. Aprenderam e lidaram com os mais conceituados da área, numa altura em que as bibliotecas estavam em expansão. O primeiro director, Paulo Leitão, mexia-se bem na área e deu uma grande projecção à biblioteca levando nomes sonantes da cultura ao espaço a troco de uma sopa de pedra, como Paquete de Oliveira, Mário Viegas, Alice Vieira, Maria do Céu Guerra... A primeira exposição foi do pintor da terra, José David, falecido há três anos, que expôs em Lisboa e Paris, cidades onde viveu.

O espaço de 1800 metros quadrados era de encontros e nos primeiros anos tinha o movimento de centro comercial. Há casamentos que nasceram na biblioteca. Mário Cláudio foi conselheiro de alguns rapazes que iam à biblioteca para namoriscar raparigas. Agora a biblioteca é cada vez mais um espaço de actividades, como exposições, oficinas para a infância como a de cerâmica que decorreu este mês de Novembro, a hora do conto, entre outras.

Houve uma altura em que as casas de banho eram usadas por toxicodependentes e muitas vezes os funcionários tiveram que chamar a GNR. Mas o que nunca se conseguiu resolver foram as infiltrações. Ainda hoje há baldes para aparar água quando chove mais, porque nunca se conseguiu corrigir totalmente um defeito de construção da cobertura. Outros frequentadores indesejados foram as ratazanas, estava a biblioteca a fazer uma década. Por causa delas a biblioteca teve de funcionar dois anos no cine-teatro. Roeram tectos falsos e faziam casa nas condutas de ar. Teve de ser tudo substituído.

Depois do primeiro computador, que foi para o gabinete do director, hoje está tudo acessível à distância de um clique. Mas para isso, os funcionários passaram algumas madrugadas a inserirem informação nos sistemas informáticos. Com tanta dedicação profissional acabaram por se tornar uma família. Sabem da vida uns dos outros e apoiam-se. As vidas de Mário Cláudio, Luísa Branco, Maria Antónia Maximiano e Hélder Constantino também foram mudando com a biblioteca, que é a sua segunda casa.

O leitor misterioso, e outras histórias da Biblioteca de Almeirim

Mais Notícias

    A carregar...