A animação dos cemitérios e a técnica de subir os preços para poder dar descontos
Galhofeiro Serafim das Neves
No teu último e-mail contas que, durante um jogo de futebol de infantis, entre uma equipa de Samora Correia e outra de Benavente, enquanto os putos se divertiam a dar pontapés na bola os pais andavam aos sopapos nas bancadas.
É um bom exemplo de preservação das tradições nacionais e da promoção do ensino de qualidade. Com pais assim, é certo e sabido que iremos ter futuras gerações ainda mais bem preparadas que as actuais. E a actual geração, onde se incluem grande parte dos deputados e dirigentes políticos, também teve excelentes mestres. Basta procurar nos arquivos dos jornais e televisões.
Um dia destes, num supermercado meio deserto, a funcionária da caixa que me fez a conta trabalhava a tal velocidade que ainda eu não tinha tirado o material todo do carrinho e já ela me estava a pedir o cartão de descontos e a perguntar se queria número de contribuinte na factura.
Olhei à volta e, para além de uma mosca que me acompanhava desde a secção do peixe, não havia vivalma nas imediações. As compras acumulavam-se junto ao terminal de pagamento, à espera que eu lá chegasse para as meter no saco, e ela insistia nos pedidos num tom entre o robótico e o epiléptico.
Continuei a dez à hora e a fingir que não ouvia só para lhe apreciar melhor a excitação profissional e dei comigo intrigado. Estaria perante uma licenciada que não tinha encontrado emprego adequado e me queria usar como cobaia para o trabalho de mestrado ou perante alguém com grande vontade de ir à casa de banho?
Os políticos, que são uns pândegos, dizem que estamos perante a geração mais bem preparada de sempre. Os empresários rejubilam por poderem contratar pessoas com licenciaturas, mestrados e doutoramentos para arrumar prateleiras ou fazer telemarketing. Eu limito-me a avaliar caso a caso e a esperar que, quando sou atendido, seja onde for, me calhe sempre um defensor dos direitos dos animais... e que me confunda com um cão velho.
Por falar na geração das linhas de atendimento e das caixas de supermercado, já reparaste no esforço que os supermercados fazem para nos convencerem que está tudo barato e que não houve aumentos. Os artigos em promoção já são mais do que os que estão a preços normais e todos têm sempre descontos acima dos cinquenta por cento, nem que para isso seja necessário aumentar o preço antigo em cem por cento.
Não compreendo como há pessoas que dizem que gastam o dobro do que gastavam antes para comprar as mesmas coisas. É vontade de dizer mal, caramba! E ainda por cima o Governo até nos devolve dinheiro através do ivaucher e há câmaras municipais que oferecem vales para gastar no comércio local.
Um agente funerário em Coruche deu umas pauladas e umas murraças num coveiro. A notícia diz que foi por causa de uma cova mas não explica se foi por a cova ter ficado muito funda ou pouco funda. E o presidente da junta de freguesia que anda amnésico de todo, está a averiguar se ele próprio também levou ou não. E assim se extingue a linda tirada poética que, em momentos de estagnação política, falava da “paz dos cemitérios”.
Saudações dinâmicas.
Manuel Serra d’Aire