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Quatro gerações numa charrete na abertura do São Martinho
Família Sebastião Santos vem de Lisboa há mais de três décadas para cumprir as tradições da Feira da Golegã. Rui e Cristina Braço-Forte. Rita Cardoso. Família Gómez Gallego

Quatro gerações numa charrete na abertura do São Martinho

O MIRANTE passou uma tarde de domingo na Golegã que recebe até 14 de Novembro a Feira Nacional do Cavalo. O Verão de São Martinho tem levado milhares de pessoas à vila para satisfação de turistas e comerciantes cujas vendas têm superado as expectativas.

O famoso Verão de São Martinho tem iluminado e aquecido as ruas da Golegã que recebem, depois de um ano de paragem devido à pandemia, mais uma Feira Nacional do Cavalo. Milhares de pessoas deslocam-se até à vila que tem menos de quatro mil habitantes mas que movimenta grande parte da sua economia neste certame secular que tem como principais protagonistas o cavalo, a castanha assada e a água-pé.

Avança-se pela rua e, ao entrar para a manga principal, onde cavaleiros desfilam com os seus cavalos e decorre uma prova de perícia, o repórter interrompe a marcha de uma charrete conduzida por uma família natural de Lisboa. No veículo de transporte, Tânia e Mariana, mãe e filha, abrem as hostilidades e apresentam a família Sebastião Santos. As seis pessoas sentadas representam quatro gerações da família. Tânia, hoje com 30 anos, veio pela primeira vez à feira quando tinha a idade que a sua filha tem actualmente, seis anos. Passar-lhe a paixão pelos cavalos é, afirma sem hesitar, algo que faz com muito orgulho e satisfação porque aproveita para passar momentos únicos com a filha.

“Ainda não sei montar tão bem como a mãe, mas um dia vou saber”, garante Mariana, que faz sorrir a restante comitiva. Os mais velhos definem a Feira da Golegã como algo “extraordinário” e que não se consegue descrever por palavras. Durante toda a semana vai juntar-se, na casa que alugaram exclusivamente para o certame, amigos e familiares onde não vão faltar a água-pé, a jeropiga e a castanha assada.

TRÊS DÉCADAS A VENDER CASTANHAS

Rita Cardoso, 63 anos, vende castanhas assadas junto à manga principal da Feira do Cavalo há 35 anos. Florindo, o seu ajudante, acompanha-a nos últimos dois. O facto de não haver limitações na circulação de pessoas tem sido muito bom para o negócio, afirma a O MIRANTE. O pregão está na ponta da língua e ouve-se sempre que não está a atender clientes: “Olha a castanha assada. Quentes e boas!”, grita.

A Feira da Golegã, na sua opinião, é a melhor feira do país para vender castanhas assadas, ainda para mais quando o famoso Verão de São Martinho aparece, como aconteceu no domingo, 7 de Novembro, dia em que a reportagem de O MIRANTE marcou presença no certame. Vive na Amadora, distrito de Lisboa, e só conhece a feira por motivos de trabalho, embora gostasse de a visitar como turista, confessa.

A qualidade do produto que vende, a castanha martaínha, e a simpatia com que interage com as pessoas já lhe valeram vários prémios atribuídos pelas organizações das festas onde vai trabalhar. “Trabalho como comerciante desde os 15 anos e sinto que nasci para isto. Uma das melhores recompensas são as amizades que faço e que revejo todos os anos”, afirma, com um sorriso no rosto, acrescentando que na Golegã já fez dezenas de amigos nas últimas três décadas.

Duas das pessoas que a visitam religiosamente todos os anos é o casal Braço-Forte, que vem do Montijo há tantos anos como Rita tem de vendedora na Feira da Golegã. “Lembramo-nos perfeitamente de conhecer a Rita quando veio para este espaço porque também cá estávamos. Imagine como estamos velhos”, afirmam, em jeito de brincadeira.

Rui e Cristina Braço-forte alugam casa durante uma semana e passam os dias a conviver e a apreciar cavalos, uma vez que Rui domina muito bem a matéria: trabalha para o cavaleiro Luís Rouxinol e grande parte dos seus amigos também vão à feira. “É a festa mais bem organizada do país, não temos dúvidas nenhuma. Passamos uma semana inteira na Golegã e só temos pena que a diversão acabe”, lamentam, sublinhando que o Ribatejo é das zonas do país que melhor conhecem e que mais gostam de visitar.

UMA FEIRA BOA PARA O NEGÓCIO

Numa das extremidades da feira a família Gómez Gallego, natural de Badajoz, tem um expositor que vende os chapéus e as samarras tradicionais da época do São Martinho. Há cerca de duas décadas que não falham a uma feira e, talvez por isso, a adesão das pessoas ao seu espaço de venda é digno de registo. Na região também fazem a Feira Nacional da Agricultura, que se realiza em Santarém, mas que, segundo afirmam, não se compara à da Golegã.

“As pessoas vêm com um propósito, que é viver a experiência dos cavalos, e não se importam de investir dinheiro porque sabem que é bem empregue uma vez que os produtos são de muito boa qualidade e todos fabricados em Espanha. No final de nove dias estamos cansados, mas nunca ficamos desiludidos com a nossa vinda”, vinca Francisco, proprietário da empresa de vestuário.

Embora a Feira Nacional do Cavalo não tenha limite de lotação, as autoridades, nomeadamente as equipas de segurança privada e a Guarda Nacional Republicana, estão sempre presentes nas ruas, intervindo quando necessário; e, como a reportagem de O MIRANTE observou, com o intuito de prevenir situações menos agradáveis provocadas pelos excessos que habitualmente existem nestas iniciativas.

Quatro gerações numa charrete na abertura do São Martinho

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