Crise nos Bombeiros Torrejanos compromete socorro
Associação humanitária está financeiramente aflita e à beira da ruptura devido à falta de voluntários. Garantia de socorro 24 horas por dia é já uma incerteza. Presidente da direcção diz que a capacidade de resistência se esgotou e faz ultimato ao município de Torres Novas.
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Torrejanos pode num futuro próximo deixar de conseguir garantir o socorro à população caso o panorama financeiro não se venha a alterar. Em causa está a dificuldade em pagar horas extra e assegurar o número mínimo de bombeiros profissionais durante as noites, feriados e fins-de-semana devido à falta de voluntários.
A maior fatia de apoio à corporação chega da Câmara de Torres Novas através da atribuição de um subsídio mensal a rondar os 10 mil euros, que já não é suficiente para fazer face às despesas correntes da associação e não deixa margem para a contratação de mais pessoal. Por esse motivo, o presidente dos Bombeiros Torrejanos, em declarações a O MIRANTE, diz que foi marcada, com carácter de urgência, uma reunião com o executivo municipal.
“A nossa capacidade de resistência terminou. Ou a câmara municipal aumenta as comparticipações ou não temos como manter o número mínimo de bombeiros para garantir o socorro 24 horas por dia”, explicou Arnaldo Santos.
Desde 1 de Novembro que a corporação deixou de conseguir garantir as escalas de 24 horas com voluntários vendo-se obrigada a “recorrer a bombeiros profissionais, o que tem aumentado substancialmente os custos” com o pessoal. “Para garantir a primeira chamada temos que ter no mínimo oito bombeiros ao serviço, ou seja, dois para a ambulância, cinco para um veículo de combate a incêndios e um telefonista”, afirma o responsável denunciando a “necessidade absoluta e imperiosa” de aumentar o quadro de pessoal.
A aflição financeira da associação foi assunto na última reunião do executivo da Câmara de Torres Novas com o presidente do município, Pedro Ferreira, a convidar toda a vereação a estar presente na reunião com Arnaldo Santos e a restante direcção dos Bombeiros Torrejanos.
Reconhecendo que “a situação dos bombeiros começa a ser preocupante” o autarca ressalvou que tal não se deve à falta de apoio da câmara, que tem vindo a aumentar gradualmente o apoio anual mas sim ao facto de o número de bombeiros voluntários ter caído consideravelmente. Actualmente, os voluntários estão reduzidos a 70 homens e mulheres, um número que fica aquém das necessidades e longe dos 120 que já pertenceram ao corpo activo.
Benefícios para voluntários chegaram tarde
Além do apoio fixo anual e de outros pontuais, como os recém-aprovados subsídios no valor global de 53.900 euros para despesas com reparação de viaturas e refeições aos bombeiros que integraram o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais, o município viabilizou este ano um conjunto de benefícios para bombeiros voluntários.
A medida é bem-vinda, mas “chegou tarde e a situação agravou-se”, lamenta Arnaldo Santos, lembrando que “há anos que a direcção andava a pedir [à autarquia] benefícios e estímulos para os bombeiros voluntários” com o objectivo de atrair mais pessoal.
Os benefícios em vigor desde há cerca de dois meses incluem descontos em espectáculos culturais organizados pela câmara municipal, refeições gratuitas para filhos de bombeiros voluntários que frequentem um estabelecimento de ensino público, atribuição de cinco bolsas de estudo a filhos de bombeiros voluntários que frequentem o ensino superior e desconto na taxa de licenciamento de obras e no IMI.
Más políticas e subida do preço dos combustíveis agravam crise
A liderar a direcção dos Bombeiros Torrejanos há cerca de duas décadas Arnaldo Santos não tem dúvida que o olhar desinteressado dos sucessivos governos para com as associações de bombeiros tem contribuído para uma crise financeira e de voluntariado, reflectida no panorama nacional.
“Em vez de apoiar as associações ao nível de equipamentos o Estado começou a querer assumir tudo” com a atribuição de funções à GNR que estavam afectas aos bombeiros deixando-os “em segundo plano, o que ajudou a criar um clima de desinteresse”, diz, lembrando que continuam a ser estes operacionais a assegurar mais de 90 por cento do socorro em Portugal.
Arnaldo Santos refere ainda que para esta crise financeira nos Bombeiros Torrejanos contribui o custo com os transportes agravado pela recente subida abrupta do preço dos combustíveis. Um aumento na factura mensal do gasóleo que não está a ser tido em conta pelo Governo que “paga 51 cêntimos ao quilómetro, valor que não é revisto desde 2012”.