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Serras de Aire e Candeeiros têm dos maiores patrimónios espeleológicos do país
Grupo de Espeleologia e Montanhismo de Alcanena explora as grutas do Parque Nacional das Serras de Aire e Candeeiros

Serras de Aire e Candeeiros têm dos maiores patrimónios espeleológicos do país

O Grupo de Espeleologia e Montanhismo de Alcanena (GEM) explora as grutas do Parque Nacional das Serras de Aire e Candeeiros e já descobriu e topografou centenas durante os 15 anos de actividade. O MIRANTE conversou com Vítor Amendoeira sobre o trabalho que desenvolvem nas entranhas do maciço calcário estremenho e ouviu as suas críticas à nova proposta de regulamento do PNSAC que pode restringir a actividade espeleológica.

O MIRANTE calçou as botas de montanha e rumou ao Parque Nacional das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) para conversar com Vítor Amendoeira, do Grupo de Espeleologia e Montanhismo de Alcanena, que desenvolve intensa actividade no mundo subterrâneo do maciço calcário estremenho. Nesse dia estava a dar formação a um grupo de novos espeleólogos de nível II no algar do Covão do Frade, um poço vertical com cerca de 30 metros, para o exame final, que todos concluíram com sucesso.

Vítor Amendoeira, 58 anos, é espeleólogo desde os 15 anos, mas conta que já tinha o bichinho da exploração desde a escola primária quando morava em Sintra. É um dos membros fundadores do GEM, criado em 2005, quando deixou a Associação de Espeleólogos de Sintra e trouxe vários colegas que quiseram continuar a actividade.

Actualmente, o GEM tem cerca de 140 membros, espalhados pelo país, que dedicam parte do seu tempo livre a descobrir e topografar cavernas, rios e lagos no subsolo do PNSAC. O processo começa com a prospecção que é uma espécie de passeio pela serra. Se encontrarem alguma gruta ou caverna equipam-se com a parafernália necessária para a descida e respectiva subida (cordas, amarras, mosquetões) vestem os fatos de macaco, mais resistentes que os normais, e iniciam a exploração.

A missão do GEM é topografar as grutas que descobrem. Para isso recorrem a um aparelho com tecnologia laser e uma bússola electrónica que faz o mapeamento da gruta e envia a informação por Bluetooth para um aparelho, onde se vai desenhando a gruta e as suas galerias.

A parte científica é uma das componentes mais importantes do grupo, que também desenvolve actividades mais orientadas para a prática recreativa (ver caixa). Para lá da topografia do subsolo do PNSAC, o GEM também tem uma missão de conservação dos ecossistemas das grutas. Vítor Amendoeira explica que há muita fauna nas grutas. É lá que várias espécies de morcegos, gralhas, salamandras e aranhas encontram abrigo. As grutas albergam também os troglóbios, pequenos animais invertebrados, quase transparentes. Só nas grutas do PNSAC já foram descobertas várias novas espécies destes pequenos animais.

Novo regulamento pode restringir actividade

Seria de esperar que uma actividade que se pode tornar perigosa fosse altamente regulada pelas entidades competentes. Pelo que Vítor Amendoeira conta isso não se verifica. A actividade espeleológica é regida pelos parques naturais, se for feita dentro da sua área. O espeleólogo considera isso errado e declara que deveria ser regulada pelo Ministério do Ambiente, que também regula o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas), e não pelos parques.

No PNSAC há um regulamento, que data de 2010, que dita algumas regras para a espeleologia, descriminando uma série de grutas e cavernas onde está vedada a entrada por questões de conservação dos ecossistemas. Entretanto, durante este ano surgiu uma proposta para um novo regulamento que gerou alguma polémica entre os espeleólogos.

O dirigente do GEM considera que a proposta é altamente restritiva à espeleologia no PNSAC, acrescenta a proibição de acesso a dezenas de grutas, proíbe a prospecção e a exploração em várias zonas e implementa um sistema de autorizações para a exploração de grutas, que levam um determinado tempo a serem aprovadas ou reprovadas.

Vítor Amendoeira considera que esta regulamentação é prejudicial, pois são os espeleólogos que monitorizam as grutas já descobertas e catalogam as novas grutas que vão descobrindo. A par disto fazem também a monitorização das várias espécies e ecossistemas que as grutas albergam. “Os espeleólogos são os primeiros a ter interesse na conservação deste património”, afirma.

Deixa ainda críticas ao ICNF que diz não acompanhar regularmente os espeleólogos e, por isso, desconhece o estado de conservação das grutas, dos lençóis freáticos, da poluição existente ou da fauna e flora. O espeleólogo considera que não há necessidade de restringir a actividade uma vez que na comunidade existem cientistas das mais variadas áreas que estão dotados de capacidades científicas e éticas para não impactar de forma negativa o ecossistema.

A proposta de regulamento foi criada sem consultar a Federação Portuguesa de Espeleologia e esteve em consulta até ao final de Agosto do corrente ano. Várias associações de espeleólogos, a própria Federação Portuguesa de Espeleologia, e até vários espeleólogos em nome pessoal transmitiram o seu desagrado ao PNSAC. Vítor Amendoeira explica que os espeleólogos devem ser parceiros do ICNF e tomados em conta no que toca à conservação das grutas do parque em vez de verem a actividade dificultada.

O GEM não é só espeleologia

Para além das actividades científicas e espeleológicas o GEM tem uma componente de desporto e lazer que serve para divulgar o grupo e recrutar novos membros para a espeleologia. Passeios pelo PNSAC, alpinismo, canionismo (explorar o leito de um rio ultrapassando os obstáculos e barreiras como quedas de água ou escarpas), são algumas das actividades que o grupo tem disponível.

Mais de 1.500 grutas registadas no PNSAC

O Parque Nacional das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) distribui-se pelos concelhos de Alcanena, Santarém, Torres Novas e Ourém no distrito de Santarém e ainda pelos concelhos de Alcobaça e Porto de Mós, no distrito de Leiria. Criado em 1979 ocupa uma área com cerca de 39 mil hectares e alberga um dos maiores sistemas de grutas do país com mais de 1.500 grutas registadas.

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