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Trio de ginastas quer voar alto nos trampolins
Carlos Matias, Renata Correia e Hélder Silva com as ginastas Francisca Santos, Madalena Pinheiro e Margarida Pinheiro

Trio de ginastas quer voar alto nos trampolins

São ginastas de alta competição que treinam todos os dias para conseguirem os saltos perfeitos. Francisca Santos e as irmãs Margarida e Madalena Pinheiro são de Benavente e Salvaterra de Magos e vão estar sob a mira do júri no Campeonato do Mundo de Trampolins. Querem atingir altos voos na modalidade sem descurar a saúde mental, acautelam os treinadores.

Todos os dias da semana são uma correria para Francisca Santos e as irmãs Margarida e Madalena Pinheiro. Vão para as aulas, aproveitam os intervalos para despachar os trabalhos e quando termina a escola apanham boleia dos treinadores para o Pavilhão Gimnodesportivo de Santo Estêvão, onde treinam durante duas horas e meia. Às 19h00 em ponto as ginastas de trampolins do Clube de Trampolins de Salvaterra de Magos aquecem e alongam os músculos antes de subirem para o trampolim e darem início aos saltos que chegam a ser mais de 500 por treino.

A exigência e os nervos aumentam à medida que se aproxima 20 de Novembro, dia em que vão competir pela selecção nacional no Campeonato do Mundo de Trampolim por idades, no Azerbaijão. “Vamos tentar dar o nosso melhor, como sempre. Independentemente do resultado o mais importante, e no que nos tentamos focar, é o trabalho que fizemos até então”, começa por referir a ginasta Margarida Pinheiro, de Salvaterra de Magos, que nesta prova vai fazer par em trampolim sincronizado com Francisca Santos, de Benavente.

O talento desta dupla de jovens promessas da ginástica em Portugal já foi diversas vezes premiado em competições distritais, nacionais e internacionais. Ambas têm 15 anos, são vice-campeãs nacionais e já correram parte do mundo em provas e campeonatos. Do Japão à Bulgária, passando pela Rússia, as atletas de alta competição alimentam o sonho de um dia competirem nos Jogos Olímpicos.

Madalena Pinheiro, a ginasta de 11 anos que não tem medo de saltar alto nos trampolins, vai ser a mais jovem do clube a participar no campeonato do mundo, em prova individual. Depois de ter passado com distinção nas três provas de apuramento esta vai ser a sua primeira prova de fogo em representação da selecção nacional e o orgulho, diz, não podia ser maior.

A luta pela perfeição e a saúde mental

O espírito de atletas de alta competição faz com que nunca baixem os braços quando a rotina de saltos não lhes dá pontos suficientes para voarem até às medalhas. “Todos os dias lidamos com pressão, ansiedade e novos obstáculos. Temos, por isso, que ter uma disciplina mental evoluída”, diz Margarida Pinheiro, sublinhando que além do corpo é fundamental treinar a mente.

“Num cenário ideal teríamos alguém com formação específica que tratasse dessa parte, mas como em Portugal isso ainda não é possível temos que ser nós, treinadores, dentro das nossas limitações a fazer esse acompanhamento”, explica o treinador Hélder Silva, que acompanha as três ginastas desde que se estrearam na modalidade quando tinham seis e sete anos.

Numa altura em que muito se tem falado na saúde mental dos atletas, depois de a tetracampeã olímpica, Simone Biles, ter desistido dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Hélder Silva, não tem, nem nunca teve, dúvidas: “Não há sucesso em qualquer que seja a modalidade se não houver bem-estar psicológico”. O corpo e a mente, acrescenta, “são um só e têm que estar sincronizados, não podem estar em guerra”.

O treino continua. A treinadora Renata Correia conversa com Margarida Pinheiro depois de uma ronda que não correu tão bem. Ao lado, Hélder Silva vai apontando os movimentos e posições do corpo que precisam de ser melhorados. Agora é Francisca Santos quem está na rede do trampolim. “Corrige o queixo. Atenção ao braço direito”, diz-lhe o treinador. Depois explica-nos que qualquer movimento e posição vai interferir directamente com os saltos. O ângulo de saída vai ser influenciado pela posição do queixo, a velocidade de saída dos saltos pela posição dos braços. Resumindo, “a ginástica [de trampolim] é uma batalha pela perfeição, onde não há margem para erros”.

Trabalho e dedicação para chegar ao sucesso

Não há dúvida que para se brilhar em qualquer que seja a modalidade desportiva o talento importa, mas não é tudo. Longe disso. Só quando se põe a dose certa de “dedicação, empenho e determinação é que os bons resultados aparecem”, defende o treinador Carlos Matias.

Para Francisca e Margarida chegarem ao nível de competição que desejam, que implica passarem num futuro próximo ao escalão sénior elite, o seu grau de exigência, ambição e perfeccionismo tem que ser maior do que o da maioria dos jovens da sua idade. “Às vezes passam-se meses, mesmo anos, até conseguirmos executar um determinado salto”, conta Margarida.

“Vamos cair, chorar, sofrer lesões, pensar em desistir até, mas no final sabemos que tudo valeu a pena”, completa Francisca, que tem como inspiração o seu irmão e figura central do trampolim a nível mundial, Lucas Santos, que este ano se estreou a fazer par com o ginasta de Santo Estêvão, Diogo Ganchinho, no trampolim sincronizado.

“Isto não é futebol, não temos a mesma visibilidade”

As jovens ginastas não têm dúvidas que o desporto é uma parte importante das suas vidas, mas não se deixam enganar. “Isto não é futebol, não temos a mesma visibilidade”, atira Margarida Pinheiro, que se esforça para ter bons resultados na pauta da escola. Não sabe ainda qual será a área a seguir. “Para mim é muito cedo para decidir”, responde a irmã, Margarida, à mesma pergunta.

Já Francisca Santos, que nasceu no seio de uma família de ginastas - além do irmão, a mãe foi ginasta e é treinadora de acrobática no Clube União Artística Benaventense - tem definido que vai seguir um curso superior de desporto e “quem sabe um dia ser treinadora. Para já, concordam, vão continuar a treinar e competir para se tornarem “boas embaixadoras da ginástica em Portugal”.

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