“As regras da função pública não permitem compensar adequadamente muitos trabalhadores exemplares"
Adoro o que faço e acho que isso se nota. E esse sentimento passa para a equipa e para os colaboradores e todos juntos fazemos milagres.
Liderar é algo que qualquer um pode aprender?
Penso que sim, mas há que ter capacidade para, muitas vezes, reconhecer que se está errado e dar o braço a torcer. Há alturas em que tenho uma ideia que penso que é a ideal e, após falar com os vereadores, com funcionários, ou mesmo com pessoas da população, altero a minha forma de pensar. Acho que isso faz a diferença porque quem trabalha connosco, directa ou indirectamente, é incentivado a dar opinião de uma forma construtiva.
Sempre foi exigente consigo mesmo?
Sim, sempre fui muito exigente comigo próprio e o grau de exigência tem aumentado.
E é tão exigente com os outros como é consigo mesmo?
Sou mais exigente comigo.
O bom é inimigo do óptimo como por vezes se ouve dizer?
Sim, muitas vezes o bom é inimigo do óptimo. O mundo não é preto nem branco por isso querer sempre a “última moda” pode levar à não decisão. E uma não decisão é sempre pior que uma decisão, mesmo que por vezes seja má.
Como escolheu fazer o que faz?
Acho que no final acabou por ser uma questão de oportunidade. Sempre gostei da política autárquica. Aliás, não me vejo noutras funções. Mas a verdade é que houve dois ou três momentos nestes últimos vinte anos em que estive fora de tudo e pensei que não voltava à câmara. As coisas tiveram uma reviravolta e cá estou. Não sei se foi uma evolução natural, mas foi acontecendo naturalmente.
Qual o peso da sua formação académica no seu desempenho?
O factor mais determinante é gostar do que faço a 100%. Adoro o que faço e acho que isso se nota. E esse sentimento passa para a equipa e para os colaboradores e todos juntos fazemos milagres.
Na escolha da sua equipa mais próxima o currículo e experiência contam sempre mais que tudo o resto?
Contam várias coisas. Serem profissionais no que fazem, serem empenhados e sérios, mas depois há uma característica que é fundamental que é gostarem de trabalhar. Só alguém que gosta de trabalhar e gosta do que faz consegue trabalhar comigo.
As regras da sua instituição permitem um eficaz reconhecimento e uma adequada compensação do mérito das pessoas que lá trabalham?
As regras da função pública em geral não permitem compensar adequadamente muitos funcionários que são trabalhadores exemplares.
Quais são os maiores constrangimentos à concretização das ideias que considera serem as mais eficazes para a obtenção dos melhores resultados?
A incapacidade de um conjunto grande de organismos centrais em decidir e um conjunto de legislação feita por gente que não conhece a vida nem o país.
Quanto tempo dedica ao que faz? Consegue desligar-se por completo alguma vez?
Dedico quase o dia todo ao que faço, embora ultimamente me tenha imposto tempo para a família, sendo que muitas vezes esse tempo é passado num misto de trabalho e lazer. Acho que ninguém com estas funções consegue desligar por completo.
Está satisfeito, ou conformado, com a política económica do Governo?
Acho que nunca ninguém pode estar satisfeito enquanto houver gente que passe necessidades. O Governo tem feito o possível e penso que isso só se vai ver no dia em que outros governarem e as políticas mudarem.
O que descobriu sobre si próprio e que desconhecia ao longo do tempo que tem exercido o seu cargo?
Que o exercício do Poder, nos momentos mais difíceis, é sempre algo muito solitário. Por muito que se fale com os outros no final há decisões que só dependem de nós. Tive várias situações dessas durante a pandemia. Hoje tenho uma opinião muito melhor de mim próprio, passe a imodéstia. As dificuldades, a vários níveis, servem para nos derrubar ou para nos fortalecer. Acho que no final saio mais forte e mais humano. E isso é muito importante para quem tem de decidir todos os dias.