“Não é o lugar que faz as pessoas mas as pessoas que fazem o lugar”
A minha vida tem estado, de alguma forma, sempre ligada à educação. Após a licenciatura e estágio profissional fixei-me em Alcanena, onde continuo há quase 30 anos. Sem falsas modéstias, nunca fui uma professora “normal”. Fiz de tudo um pouco na escola e passei por todos os cargos.
O que descobriu sobre si própria ao longo do tempo que tem exercido o seu cargo?
Nestes seis anos de liderança do AE de Alcanena houve uma alteração de paradigma na educação, em que quase tudo mudou, desde os pressupostos, aos princípios e às práticas sendo necessário motivar, mobilizar, entusiasmar docentes, alunos, colaboradores, encarregados de educação e parceiros comunitários para a co-construção de planos de acção e de inovação. Do ponto de vista pessoal, tem sido muito desafiante exigindo um forte compromisso e um sentido de resiliência ímpar que tenho vindo a desenvolver para não desmotivar e não deixar desmotivar, para continuar a mostrar o caminho de forma positiva e sempre motivadora.
O que a motivava quando iniciou e o que a motiva actualmente?
Quando assumi esta função, acreditava profundamente no poder da educação transformadora e foi com este propósito que me candidatei a directora do Agrupamento. Hoje, sinto o mesmo entusiasmo de há seis anos para envolver e motivar os outros para esta missão, para a construção de uma escola promotora de aprendizagens de qualidade e de bem-estar.
Quais são os maiores constrangimentos à sua actividade?
As alterações legislativas sistemáticas; a falta de professores; o cansaço generalizado da classe docente; a falta de pessoal não docente; a obsolescência do parque e dos equipamentos escolares, entre outros, são desafios complexos com os quais lidamos diariamente, tentando, a todo o tempo, encontrar soluções, de modo a assegurar a qualidade das aprendizagens e o bem-estar das pessoas.
Como escolheu fazer o que faz?
A minha vida tem estado, de alguma forma, sempre ligada à educação. Sou filha de pais professores. Aos três anos, dizia que queria ser professora. Aos 17 fiz a minha opção de sempre. Após a licenciatura e estágio profissional na Escola Secundária Pedro Nunes, fixei-me em Alcanena, onde continuo há quase 30 anos. Sem falsas modéstias, nunca fui uma professora “normal”. Fiz de tudo um pouco na escola e passei por todos os cargos. Em todos eles deixei a minha marca pois acho que não é o lugar que faz as pessoas, mas as pessoas que fazem o lugar.
Os seus conhecimentos académicos foram determinantes para ter sucesso até que ponto?
Um professor está em constante formação e eu não sou excepção. O meu percurso profissional é obviamente marcado pelo meu percurso académico, mestrado, pós-graduações, outros cursos de formação que tiveram impacto na minha profissionalidade, no meu olhar sobre a realidade, no meu posicionamento sobre os desafios. Este percurso tem ainda sido repleto de encontros com pessoas com pensamento educacional com o qual me identifico e com experiências muito desafiantes com as quais gosto de aprender. Da mesma forma o trabalho em rede tem tido grande relevância no meu percurso. Por exemplo, é muito interessante participar no projecto Education 2030 da OCDE , sentar-me à mesma mesa com especialistas em educação dos países da OCDE e ter a oportunidade de, em conjunto, discutirmos os desafios que se colocam à educação em 2030 e, simultaneamente, validar as nossas práticas.
O que mais conta na escolha da sua equipa mais próxima?
Aquando da escolha da equipa costumo ter em consideração o perfil das pessoas e sobretudo a complementaridade da equipa. É na diferença que nos complementamos e reside a nossa força. É nesta complementaridade que nos respeitamos e fundamos laços de amizade.
Quanto tempo dedica ao que faz? Consegue desligar-se por completo alguma vez?
O meu compromisso com o agrupamento é sério e exigente do ponto de vista da minha dedicação. Estou no agrupamento de manhã à noite e mesmo assim não tenho tempo para pensar a organização como gostaria uma vez que os problemas diários e as solicitações da tutela ocupam-nos grande parte do nosso tempo. No início, era mais difícil desligar-me “da escola”. Hoje, mobilizo com facilidade estratégias de auto-regulação que me permitem “desligar” e fruir do melhor da vida para além da escola. Tenho menos férias que os outros, mas quando as gozo tento que sejam de qualidade.
O que pode acrescentar sobre prestígio e liderança com base na sua experiência?
O Agrupamento de Escolas de Alcanena orgulha-se de ser uma referência nacional e internacional em alguns aspectos, entre os quais a liderança. Concorre para este prestígio o desenvolvimento de agência/empoderamento dos alunos; dos professores e da comunidade. Em conjunto criamos uma comunidade de aprendizagem na qual todos assumem o conceito de responsabilidade social.