“O maior constrangimento à nossa actividade é a burocracia, esse flagelo da nossa sociedade”
O meu grau de exigência tem-se mantido constante nos últimos tempos. Ser exigente é difícil. Talvez por ser tão exigente comigo mesmo é que o sou também com os outros.
Quanto mais o conhecimento circula mais cresce mas só cria valor se for aplicado. Na Companhia das Lezírias descobri, no terreno, isso mesmo: dar valor ao conhecimento, aplicando-o contextualmente. Pratico a gestão procurando não ser dogmático e aplicar as ferramentas de gestão mais adequadas a cada contexto sabendo que o contexto é constituído por pessoas, todas diferentes uma das outras, por organização, onde a cultura instalada tem um papel crucial e é também constituído por variáveis macro inesperadas que condicionam constantemente a nossa acção (veja-se o caso da pandemia). Tendo em conta tudo isto, posso dizer que, na CL, desenvolvi (não diria que descobri) em mim próprio um pragmatismo, uma flexibilidade e uma perspicácia, que aprendi a valorizar mais. Efectivamente, estamos sempre a aprender. E ainda bem.
Felizmente faço aquilo para que me preparei ao longo da minha vida: praticar gestão e ensinar gestão. Para ensinar e, sobretudo, para praticar primeiro tive que aprender. Tive de adquirir conhecimento em Portugal e no estrangeiro. Tenho passado o meu tempo a transmitir o conhecimento que vou adquirindo (entre outros, aos meus alunos na Universidade) e também a aplicar esse conhecimento (em instituições e empresas, como a CL). Portanto, o que faço é uma evolução natural do que já fiz. Mas por vezes há revolução e não evolução, pelas contingências disruptivas da vida. Mas isso tem sido raro comigo.
Cada um de nós quando nasce já tem no seu ADN alguns genes de liderança mas a liderança também pode ser adquirida e desenvolvida gradualmente ao longo da vida. Ganham-se capacidades para liderar com a experiência. Portanto, também se aprende a ser líder. Mas, como em tudo na vida, uns conseguem aprender e outros não. E há alguns que já nascem munidos dos atributos de liderança. Grande capacidade de trabalho, apurada e rápida capacidade de compreensão (perspicácia), boa capacidade de adaptação (negociação), foco permanente no bom relacionamento (empatia) e ainda capacidade de concretização (eficácia), são, normalmente, as qualidades que um líder deve ter.
Sou muito exigente comigo mesmo. Há quem me acuse de ser demasiado exigente mas, por outro lado, normalmente, são também esses que depois me agradecem o rigor no conhecimento transmitido e adquirido. Infelizmente, na sociedade de hoje, a exigência é demasiadas vezes considerada um defeito. Nada de mais errado… se não se ultrapassarem os limites. O meu grau de exigência tem-se mantido constante nos últimos tempos. Ser exigente é difícil. Talvez por ser tão exigente comigo mesmo é que o sou também com os outros. Penso que se não exigir o conhecimento não avança (ou avança pouco) traduzindo-se isso num desperdício de recursos e de tempo.
Um bom líder escolhe a equipa com quem quer trabalhar. E para não se enganar deve contextualizar, ou seja, procurar no currículo as características mais adequadas ao contexto de trabalho futuro. Se o currículo não as evidenciar deve questionar, confrontar, entrevistar. A experiência conta. Mas há que analisar, com rigor, se é a mais adequada ao contexto de trabalho que se pretende. Tudo o resto deve ser aferido por uma entrevista. A personalidade, por exemplo, é também importante havendo ainda outros aspectos que também podem ser relevantes, tais como, por exemplo, as competências relacionais.
Elegeria como o maior constrangimento à nossa actividade, a burocracia. Ela é um flagelo da nossa sociedade. Há que fazer alguma coisa para melhorar isso senão grande parte da eficiência e da eficácia organizacional desaparecem por essa via.
A Companhia das Lezírias (CL) é uma empresa quase bicentenária que gere cerca de 20.000 hectares de terra. Tem uma diversidade enorme de actividades sendo uma referência regional e nacional no seu sector (agricultura, pecuária e floresta). Estas três actividades constituem o seu ‘core business’, sendo complementadas com uma actividade emergente, o turismo (associado à natureza, aos cavalos, às aves, ao vinho, entre outros, e com oferta de alojamento de qualidade), numa lógica de ‘cross selling’. Acresce a tudo isto aquela a que chamamos de actividade de missão: a investigação aplicada, em parceria com diversos estabelecimentos de ensino superior e centros de investigação, de norte a sul do país.
A Companhia das Lezírias é um conjunto muito diversificado de actividades que apelam continuamente a uma gestão equilibrada, eficiente e com resultados. Sendo eu gestor de formação, com doutoramento em gestão estratégica, nada mais aliciante do que gerir uma empresa com uma diversidade destas. É desafiante e enriquecedor.
Encontrei nesta empresa motivação inicial para fazer imprimir uma estratégia de desenvolvimento sustentável, onde a sustentabilidade económico-financeira, a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade social estão presentes e em equilíbrio. O foco económico-financeiro foi a nossa motivação inicial, com objectivos ambiciosos, mas exequíveis e conseguidos uma vez que a CL há cerca de duas décadas que apresenta recorrentemente resultados líquidos e operacionais positivos. Ainda recentemente foi conseguido o melhor resultado líquido da história da empresa (2019), o terceiro melhor (2018) e o quarto melhor (2020), este último em contexto de pandemia.
As principais motivações prendem-se agora com as melhorias das vertentes social e ambiental da sustentabilidade. De referir que nesta última já estamos também em bom plano, com avanços muito significativos. Esta administração que, para além de mim próprio, tem a particularidade de englobar duas senhoras (Isabel Vinagre e Georgete Félix), tem investido muito e com muito rigor.