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“O tempo ensinou-me que águas calmas não fazem bons marinheiros”
Orlando Ferreira Administrador da Rodoviária do Tejo

“O tempo ensinou-me que águas calmas não fazem bons marinheiros”

Acho imperdoável a falta de exigência na pontualidade ou no rigor. Infelizmente, somos constantemente confrontados com a banalização da transgressão.

Fazer o que faço deveu-se a Rómulo de Carvalho, meu querido professor de Físico-Químicas no Liceu Normal Pedro Nunes. Foi por causa dele que, no meu antigo 5.º ano do liceu, escolhi a alínea F que incluía Matemática e Físico-Químicas. Gostando destas duas disciplinas mas sem qualquer paixão por engenharia, acabei por seguir para o Instituto Superior Técnico (IST) onde me formei em Engenharia Civil (Urbanização e Transportes). Sem Rómulo de Carvalho teria sido, certamente, uma outra coisa qualquer.

Uma empresa em reformulação e uma região de enorme potencial (Ribatejo) foram as minhas principais motivações para iniciar um novo ciclo de vida. Em boa hora o fiz! Tudo aconteceu no já longínquo ano 2000, no entanto, parece-me ter aqui chegado ontem. Actualmente, continuo como sempre aqui estive, ou seja, preparado para quase tudo tal como se fazia na organização medieval das abadias: “Hoje irmão superior, amanhã frade hortelão”.

Ao longo deste tempo fui-me apropriando da sabedoria de algumas pessoas. Por exemplo, Ernâni Lopes ajudou-me, e muito, com a sua fórmula de sete pontos para melhorar o desempenho das organizações: “Estudar, estudar, estudar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar”. É o que sempre tenho procurado fazer. Também, contrariamente ao que inicialmente imaginava, o tempo ensinou-me que ‘águas calmas não fazem bons marinheiros’. Não fazem mesmo e, no nosso sector, as águas não mais voltarão a estar calmas.

Conhecem-se por aí excelentes profissionais que quando catapultados para funções de liderança se revelaram autênticos desastres. “Perdem-se bons técnicos e ganham-se maus líderes!”. Liderar é muito mais do que ser tecnicamente competente. No entanto, em alguns casos, existem gratas surpresas de aprendizagem com a criação de contextos estimulantes e positivos para as pessoas que ali trabalham.

Sem qualquer sinal de bom samaritanismo a exigência que tenho para comigo é geralmente superior à que tenho para com os outros. Nunca me acostumei bem aos ‘mais ou menos assim’ e, por exemplo, acho imperdoável a falta de exigência na pontualidade ou no rigor. Infelizmente, somos constantemente confrontados com a banalização da transgressão.

Mais do que o ‘canudo’ e a experiência valorizamos a pessoa, a sua energia e predisposição para uma aprendizagem contínua de modo a serem capazes de acompanhar o ritmo a que mudam hoje os modelos de negócio. Não valorizamos, de todo, espíritos empedernidos incapazes de pensar fora das cartilhas.

O recrutamento é hoje uma função bem mais difícil e exigente. A maioria dos jovens quer trabalhar e ter um emprego mas rejeitam serem integrados em molhadas desmobilizadoras e desinteressantes. Se o reconhecimento do valor e do mérito é uma atitude chave no nosso dia-a-dia é também importante sermos capazes de atribuir a adequada (e possível) compensação.

A coisa mais importante é sempre manter a coisa mais importante como a coisa mais importante! Quanto aos nossos principais constrangimentos, para além dos financeiros, aquilo que nos aperta está muitas vezes associado ao não sabermos (ou não querermos) tornar simples o complexo.

A família ‘que temos’ será sempre o nosso mais sólido alicerce e incentivo para enfrentar qualquer desafio. E, para avós babados como eu, destaco aqui a importância crescente que têm os agora ‘filhos com açúcar’ - os nossos netos. Pela sua relevância, quero aqui incluir os melhores amigos como sendo a nossa outra família, a família ‘que escolhemos’.

Não estou satisfeito com a política económica do Governo. Sabendo-se que o Estado não tem nem cria riqueza (limita-se a redistribuí-la), sabendo-se que o dinheiro não cai do céu, a alternativa que tem vindo a ser encontrada representa uma pesadíssima carga fiscal que nos asfixia. São impostos directos, indirectos, taxas, taxinhas, coimas, contribuições, etc. O que precisávamos, talvez, era de mais empresas produtoras de bens e serviços transaccionáveis que fossem competitivas no mercado mundial. Já temos Estado que chegue na economia!

No âmbito dos transportes públicos, fora das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, não se entende um tão grande miserabilismo orçamental. Tal situação não permite assegurar minimamente a sustentabilidade do sector nas regiões de mais baixa densidade populacional. É inaceitável que, nos concursos públicos ainda a decorrer, nos continuemos a deparar com modelos financeiros desajustados que não garantem o equilíbrio e a sustentabilidade mínima da operação.

Gostaria de partilhar com alguma da comunidade ribatejana, que sempre tão bem me tratou, que a minha reforma chegou e com ela um misto de emoções. Julgo ter cumprido Confúcio quando ele cedo me confidenciou: “Encontra um trabalho que te deixe feliz e nunca mais terás de trabalhar!”. Enquanto aqui estive questiono-me se alguma vez trabalhei!.

“O tempo ensinou-me que águas calmas não fazem bons marinheiros”

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