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Amigos recordam Tomás Alcaravela: meigo, reservado e educado
Tomás Alcaravela~(foto DR)

Amigos recordam Tomás Alcaravela: meigo, reservado e educado

Amigos de Tomás Alcaravela, jovem de Abrantes encontrado sem vida na República Checa, recordam-no como um rapaz doce, educado e, embora não fosse o típico aluno popular do liceu, tinha um sorriso contagiante e muito respeito por parte de alunos e professores. Alguns colegas revelam que gostava muito de répteis e que um dos seus passatempos favoritos era contemplar as estrelas.

A morte de Tomás Alcaravela, jovem de 20 anos encontrado sem vida na República Checa na noite de 8 de Novembro, abalou profundamente quem o conhecia de perto e privou com ele nos seus tempos de aluno no Agrupamento de Escolas Nº2 de Abrantes. Amigos e professores recordam-no como uma pessoa exemplar, muito concentrado, sempre pronto a ajudar e que tinha o seu sorriso contagiante como uma das muitas características que faziam as pessoas gostarem de conviver com ele.

Os depoimentos que O MIRANTE recolheu junto do seu círculo mais próximo não são acompanhados de nomes nem de caras uma vez que os amigos preferem resguardar-se por respeito ao sofrimento da família. No entanto, e alguns dias depois das autoridades da República Checa, país onde Tomás Alcaravela frequentava o segundo ano do curso de Medicina, terem informado que não houve envolvimento de terceiros na sua morte, quiseram prestar-lhe homenagem e partilhar com o nosso jornal algumas informações sobre o seu carácter e curiosidades que faziam dele um “amigo especial”.

Um dos seus amigos afirma que Tomás era o típico colega de turma que não incomodava o professor e que tinha o respeito de todos os que partilhavam as suas aulas. Uma professora de quem foi aluno recorda-o como um rapaz “discreto, sensível, de extrema educação” e que tinha como dois dos seus principais passatempos a escrita e a música.

A descrição é, na generalidade das pessoas com quem O MIRANTE conversou, um dos adjectivos mais utilizados para definir a personalidade de Tomás Alcaravela. “Era, em certos aspectos, um pouco mais reservado e tímido, mas estava sempre disposto a ajudar o próximo e tinha um sorriso de orelha a orelha. Transmitia uma energia muito positiva e, embora não fosse um aluno ‘popular’, conquistava qualquer pessoa pela sua humildade e disponibilidade”, afirma um dos seus amigos de longa data, acrescentando que a sua partida o deixou muito abalado porque foi como se também “se tivesse esfumado um pouco das [suas] memórias” e de tudo o que viveu no liceu de Abrantes.

Existem algumas curiosidades sobre os seus gostos particulares que alguns amigos não quiseram deixar de partilhar. Para além de todos reconhecerem a sua ligação e admiração pela família, um dos seus colegas refere que Tomás tinha um jeito muito especial para desenhar e muita cultura geral. “Tínhamos sempre discussões muito interessantes. Nunca senti que estivesse a perder tempo por estar ao pé dele, porque aprendia sempre qualquer coisa”, salienta.

Outro dos amigos revela a sua paixão de longa data por dinossauros, ao ponto de ter como animal de estimação uma espécie de lagarto que deixou em Portugal quando foi viver para a República Checa.

O depoimento mais comovido que O MIRANTE ouviu foi o de um amigo que sabia que Tomás Alcaravela gostava de contemplar as estrelas. “Agora todos temos mais uma estrela a olhar por nós”, afirma com emoção.

As cerimónias fúnebres de Tomás Alcaravela realizaram-se na terça e quarta-feira, 16 e 17 de Novembro, na Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes e na Igreja Paroquial de São Vicente de Abrantes. O corpo foi sepultado no cemitério de Santa Catarina.

Cronologia de uma morte inesperada

Tomás Alcaravela estava desaparecido desde a madrugada de sábado, 6 de Novembro, na cidade de Pilsen, República Checa, tendo sido encontrado morto na noite de segunda-feira, 8 de Novembro, numa clarabóia do prédio onde habitava. Segundo alguns colegas e amigos, o jovem esteve alegadamente desaparecido desde a madrugada de sábado após a ida à discoteca NoLimit e de ter sido visto a entrar no apartamento, por volta das 05h00. Os amigos contactaram as autoridades locais no domingo a dar conta do desaparecimento após perceberem que Tomás não era visto desde que entrou no apartamento na madrugada de sábado.

O estudante era filho do médico cardiologista Jorge Alcaravela e neto de Silvino Alcaravela, antigo gestor do Hospital de Abrantes.

Opinião

Em Portugal os cursos de Medicina são só para marrões

Em Portugal só vai para Medicina quem tem mais de 19 valores. Como se cursar Medicina fosse um privilégio só para génios. Tomás Alcaravela é mais uma vítima de um país mal governado.

Portugal tem falta de médicos, um Serviço Nacional de Saúde sem clínicos suficientes e, por incrível que pareça, os estudantes que não acabam os cursos com notas altíssimas não conseguem entrar no curso de Medicina em Portugal. Desde há mais de uma década que uma das soluções é ir estudar para a República Checa. O caso do Tomás Alcaravela devia ser pretexto para questionar a política do Estado português. As universidades e os politécnicos andam, na sua grande maioria, a recrutar estudantes nos países de língua portuguesa para que as instituições sobrevivam à falta de alunos enquanto nos cursos mais importantes, como é o caso da Medicina, mandamos os nossos jovens para a República Checa, onde o preço das propinas é cinco vezes superior ao de Portugal. Entretanto os médicos e enfermeiros que são formados nas nossas universidades e politécnicos, acabam os cursos e pouco tempo depois estão a caminho de Inglaterra, Alemanha e outros países da Europa mais desenvolvida onde as condições de trabalho são mais atractivas.

A morte do jovem Tomás Alcaravela, que foi obrigado a emigrar para a República Checa para seguir o curso de Medicina, o mesmo ofício do seu pai e do seu avô, devia ser pretexto para lutarmos por um Estado que dá a todos os jovens as mesmas oportunidades de estudarem e viverem no seu país. Aumentar o número de estudantes nas universidades públicas é a solução; Não podemos continuar a ser um país governado por políticos inábeis, social-democratas que governam à Nicolás Maduro nuns casos e à Emmanuel Macron noutros, conforme está o vento ou são fortes as interferências dos capitalistas que dominam a nossa classe política que, às vezes, até mete nojo.

Amigos recordam Tomás Alcaravela: meigo, reservado e educado

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