População exige soluções para os problemas da saúde em Azambuja
Utentes em protesto disseram basta ao mau funcionamento das unidades de saúde de Azambuja. Metade da população não tem médico de família, as chamadas ficam por atender e as receitas por passar. Presidente do município levou as preocupações à ministra da Saúde.
Os utentes do concelho de Azambuja estão descontentes com as más condições de funcionamento das unidades locais de saúde, onde a falta de médicos é um problema por resolver há anos. A juntar ao facto de metade da população não ter médico de família atribuído, as casas-de-banho estão avariadas há meses, os funcionários não atendem os telefones e “tratam os doentes de forma imprópria”. O alerta foi deixado por cerca de uma centena de utentes, que se manifestaram, no sábado, 13 de Novembro, em frente ao centro de saúde de Azambuja.
“Além de não termos um serviço de saúde digno os responsáveis da saúde estão a desprezar a população de Azambuja ao não darem a cara nem responderem aos nossos pedidos de reunião”, afirmou a O MIRANTE Armando Martins, porta-voz do movimento cívico Pela Saúde de Azambuja, que organizou o protesto e pôs a circular um abaixo-assinado que numa semana reuniu três mil assinaturas e onde se exige que sejam encontradas soluções.
O que está em causa, explica, é uma progressiva perda de qualidade no serviço prestado que tem levado a que alguns utentes tenham que recorrer ao privado para conseguir consultas, receitas e atestados. Quem não pode pagar ou não tem condições para se deslocar a um privado acaba por ter que se sujeitar à dificuldade que é conseguir atendimento na sua unidade de saúde local. É o caso do filho de Maria Deolinda Sousa, que, apesar de ter médico atribuído, nunca consegue obter os atestados de que precisa para levar todos os meses à junta médica, em Lisboa, na sequência de um acidente.
O Centro de Saúde de Azambuja é daqueles que em termos de edificação mete inveja a muitos, mas está sub-aproveitado na opinião de Clementina Martins, que embora pertença à metade que tem médico, participou na manifestação para mostrar a sua indignação pela “forma rude” como as funcionárias a tratam a si e a outros utentes e lembrar “os milhões gastos num edifício que não está a servir para quase nada”.
A O MIRANTE, Dora Miranda, directora técnica da Farmácia Miranda, em Aveiras de Cima, dá conta de casos de doentes crónicos que não têm acesso às receitas por não conseguirem consulta. “Temos doentes diabéticos que não são observados por médicos há mais de um ano. As farmácias têm sido o garante de alguma estabilidade na saúde neste concelho resolvendo pequenas queixas e assegurando que não falta medicação aos doentes”, sublinhou.
Autarca fala em necessidade de revisão dos vencimentos dos médicos
O presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio, lembra que o problema da falta de médicos não é de agora e defende que é necessário “haver um olhar diferente em relação aos vencimentos dos médicos” que trabalham no Serviço Nacional de Saúde para que não “fujam” para o privado e não se corra o risco de certas unidades de saúde “ficarem ao abandono e esquecimento”.
O autarca socialista disse que as preocupações e queixas dos utentes foram transmitidas à ministra da Saúde, Marta Temido, numa reunião recente onde esteve presente juntamente com os restantes quatro presidentes de câmara da área de abrangência do Hospital Vila Franca de Xira e centros de saúde do Estuário do Tejo.
Ao nível das medidas que podem ser implementadas pelo município para ajudar a solucionar o problema, Silvino Lúcio, disse que está a ser trabalhado um “regulamento de incentivos” a atribuir aos médicos que se fixem no concelho, que inclui a cedência de uma viatura para uso próprio, apoio à habitação (em 400 euros) e isenção de taxas.
Na última reunião pública do executivo, onde o mau funcionamento nos cuidados de saúde primários foi assunto levantado pelo vereador do PSD, Rui Corça, o presidente de câmara disse ainda que a situação se agravou desde que se reformaram três médicos, um meteu baixa e uma médica está de licença de maternidade, sem que tenham sido substituídos. O concelho tem neste momento nove médicos ao serviço.
Metade dos médicos trabalha fora do SNS
Quase metade dos médicos trabalha fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS), tendo optado por trabalhar para os sectores privado, social ou ir trabalhar para o estrangeiro, segundo o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães. Segundo dados da OM, estão inscritos cerca de 59 mil profissionais, dos quais cerca de 31 mil estão no SNS. No que respeita aos médicos de Medicina Geral e Familiar há cerca de 1.600 médicos recém-licenciados que não exercem no SNS.