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“As crianças têm que ter tempo para serem crianças”
Ana Gaspar é educadora de infância, terapeuta cognitiva comportamental e empresária sendo a gerente do Colégio Jardinita, em Alcanede

“As crianças têm que ter tempo para serem crianças”

Ana Gaspar, 54 anos, educadora de infância e empresária, Alcanede.

Ana Gaspar é empresária, educadora de infância e terapeuta cognitiva comportamental. Começou a trabalhar como educadora de infância e há 27 anos abriu o colégio Jardinita, em Alcanede, de onde é natural. Licenciou-se em Educação Infantil e há cerca de dois anos e meio tirou uma pós-graduação em terapias cognitivas-comportamentais. Não consegue ter a mente parada e gosta de fazer formações que lhe dêem mais conhecimentos e possam melhorar o seu desempenho profissional.

As crianças têm que ter tempo para serem crianças. Perdeu-se um pouco o conceito do que é infância e ser criança. Toda a gente espera que uma criança se porte bem mas é normal uma criança correr, chorar, fazer birras. Todas têm o seu próprio tempo e são diferentes umas das outras. Existe muita competição sobretudo quando se entra para o primeiro ano. Não têm que ser os melhores, não têm que fazer tudo na mesma altura. Uns começam a andar mais cedo do que outros ou a falar mais cedo do que outros e está tudo normal. Não podemos pressionar as crianças. Elas têm que ser felizes e fazer tudo o que é próprio da sua idade.

Nunca gostei de ouvir dizer que uma criança é má. Não existem crianças más, têm é que ir sendo moldadas à medida que crescem. Cada criança é resultado da educação dos pais e das vivências em família. Se dizem a uma criança que ela é má, ela vai incutir isso nela própria, o que vai ser muito prejudicial para o seu crescimento intelectual e emocional. As crianças são o melhor do mundo porque são genuínas e inocentes. Acreditam tanto em nós, adultos, que temos a responsabilidade acrescida de sermos transparentes como elas. É um mundo verdadeiro e não lhes podemos falhar.

O nascimento de um filho transforma a nossa vida para melhor. Nunca deixei de fazer a minha vida por causa das minhas filhas. Levava-as para todo o lado comigo. Os filhos obrigam-nos a sermos ainda mais organizados e responsáveis. Eles crescem mas nós, pais, não conseguimos vê-los com a idade que têm. Pelo menos eu não consigo. São sempre as minhas meninas. As preocupações continuam. Quando as minhas filhas saíram de casa para estudar senti o ninho vazio, até o gato sente falta delas (risos). Todos os dias falamos ao telefone. É uma forma de matar saudades.

Descobri que tinha cancro de mama em exames de rotina. Sentia um cansaço extremo e achei que não seria normal porque não tinha motivos para estar assim. A minha mãe insistiu para que fosse ao médico fazer exames de rotina e costumo dizer que ela foi o meu anjo da guarda. Num desses exames detectaram-me cancro de mama, numa fase inicial. O momento em que recebi a notícia é indescritível, parece mesmo que ficamos sem chão. A fase inicial é de receio mas decidi enfrentar a doença. O pensamento positivo é meio caminho andado para ultrapassar a doença. Aconteceu há três anos mas há sempre aquele nervoso quando vou fazer os exames de acompanhamento. Tenho fé e acredito que está tudo ultrapassado e correu bem. O apoio da família nestes momentos é precioso.

Viver no campo tem mais qualidade de vida. Adoro ir à janela olhar a natureza, ouvir o som do vento ou os passarinhos a chilrear. Estar sentada a apanhar sol é como uma terapia. Quem me tira isto tira-me tudo. Adoro viajar e conhecer os recantos de Portugal. Sou apaixonada pelo Gerês, onde o contacto com a natureza é ainda maior. Nas férias gosto de ir para a praia e escolho muitas vezes Monte Gordo, no Algarve, onde a praia é enorme e a água calma, tudo como gosto. Se puder, um dia gostava de conhecer Roma [Itália].

Há falta de habitação em Alcanede e as pessoas estão a sair de cá. Falta que a Câmara de Santarém faça uma revisão do Plano Director Municipal (PDM) em condições para que seja possível que a freguesia desenvolva. O PDM não permite que as pessoas construam em muitos locais da freguesia e isso prejudica o desenvolvimento da terra. As pessoas saem de cá e ficam os mais velhos e a freguesia vai morrendo aos poucos. Estamos a quase 30 quilómetros de Santarém, sede do concelho, temos mais ligação a Rio Maior, que fica a 15 km. Sempre que queremos ir às compras, por exemplo, vamos a Rio Maior, que é mais perto.

O voto eleitoral deveria ser obrigatório. Toda a gente reclama muito, sobretudo nas redes sociais, mas quando são chamados a votar ficam em casa. Se não votam não devem reclamar. A abstenção é tão elevada no nosso país que o voto deveria ser obrigatório. Entendo que as pessoas estejam descontentes com os nossos políticos e temos motivos para isso. A classe política está cada vez mais desacreditada mas votar, além de ser um direito, também é um dever.

“As crianças têm que ter tempo para serem crianças”

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