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Tiago Rodrigues é um músico de Minde com um olhar crítico para o Estado em que vivemos
Tiago Rodrigues é músico e professor de piano clássico em Lisboa e ensina música no Conservatório de Música Jaime Chavinha, em Minde, de onde é natural FOTO - Joana Patita

Tiago Rodrigues é um músico de Minde com um olhar crítico para o Estado em que vivemos

Tiago Rodrigues é músico e professor de piano clássico. Natural de Minde, já lançou quatro álbuns todos, desde o início da pandemia. A falta de oportunidades no seu concelho obrigaram-no a rumar a Lisboa, embora regresse a casa semanalmente para ensinar música no Conservatório Jaime Chavinha. Uma conversa com O MIRANTE sobre vários temas, nomeadamente as dificuldades em viver da música no interior e o desinvestimento do Estado no sector da Cultura.

Tiago Rodrigues, 38 anos, vive a paixão da música desde os seis anos, quando começou a estudar numa escola de música em Minde, freguesia do concelho de Alcanena, onde nasceu e viveu uma boa parte da sua juventude. A vertente clássica sempre o encantou e foi a principal razão para ter ingressado na Escola Superior de Artes Aplicadas, no Instituto Politécnico de Castelo Branco. Actualmente, dedica a maior parte do seu tempo ao ensino de piano clássico, mas não prescinde de, sempre que tem oportunidade, subir para um palco e actuar para o público.

A conversa de O MIRANTE com Tiago Rodrigues realizou-se numa tarde de sábado junto ao coreto de Minde. O músico deixou a vila para prosseguir os estudos e nunca mais voltou em definitivo, residindo actualmente em Lisboa. Embora visite a sua terra natal com muita frequência, uma vez que é professor no Conservatório de Música Jaime Chavinha, lamenta não poder voltar permanentemente onde diz ter sido muito feliz.

“Infelizmente, as oportunidades para os artistas estão nas grandes cidades. O interior do país está cada vez mais esquecido e a única solução é meter de lado as emoções e partir em busca de uma vida mais preenchida”, afirma, acrescentando que quando regressa a casa aproveita para estar com a família e amigos e passear pelo Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.

Tiago Rodrigues fez parte de vários projectos musicais. Começou por tocar ‘covers’ em alguns bares de Minde e fez parte do projecto “Jazz’aqui” que, em 2017, levou vários músicos portugueses a residências artísticas em Berlim e Paris.

Nos últimos dois anos percebeu que tinha que passar para o papel toda a sua criatividade e, desde 2020, já lançou quatro álbuns. O primeiro álbum “Lightouse” (farol, em português) é uma selecção de peças que o músico compôs para performances de danças. Os álbuns “Why are you still holding that gun?” (Porque ainda estás a segurar nessa arma?), “All is well” (Tudo está bem) e o mais recente “Winter’s pale light” (Luz pálida de Inverno) são registos auto-biográficos, onde Tiago Rodrigues misturou as suas influências de rock alternativo, música clássica e jazz. “Deixo muito de mim no meu processo criativo enquanto compositor. É muito terapêutico”, sublinha.

O músico lida naturalmente com o facto de ter optado por se expressar musicalmente na língua inglesa. “Não tenho nenhum complexo com o português, nem com a música portuguesa, mas as minhas grandes referências são David Bowie e Radiohead por isso sinto-me mais à vontade em seguir as suas linhas”, refere.

CULTURA AINDA É MUITO ELITISTA

Tiago Rodrigues considera, à semelhança de muitos artistas, que o Governo tem desinvestido de forma significativa na cultura. “O dinheiro que o Estado tem vindo a disponibilizar nos seus orçamentos é irrisório para as necessidades do sector da cultura. As associações precisam de dinheiro para melhorar as condições e infra-estruturas de maneira que os jovens se sintam bem durante o seu processo de aprendizagem”, defende.

Tiago Rodrigues salienta que é preciso descentralizar a cultura para se poder evoluir. “As grandes promotoras musicais têm o monopólio das salas de espectáculos e é quase impossível lá entrar. Tem de se trabalhar em rede para que todos os bons artistas tenham voz e a cultura não seja uma coisa só para elites”, vinca.

Na sua opinião, em Alcanena a cultura continua a ser vista como um parente pobre do desenvolvimento do concelho. Por exemplo, considera que o Conservatório Jaime Chavinha tem muito potencial, mas não tem condições para os jovens aprenderem música adequadamente. “Temos alunos vindos de todas as freguesias do concelho e de concelhos vizinhos, como Porto de Mós. O problema é que não temos salas com capacidade para acolher os alunos e, como é óbvio, é um factor determinante para haver desistências”, refere, afirmando que tem esperança que a mudança no executivo municipal possa ser um ponto de viragem na gestão da autarquia.

Tiago Rodrigues é um músico de Minde com um olhar crítico para o Estado em que vivemos

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