uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Carta aberta a Francisco
P.N.Pimenta Braz

Carta aberta a Francisco

Em Portugal vive-se hoje num brejo vivencial, onde os portugueses não se reconhecem nos seus líderes e políticos. Só que, desgraçadamente, são iguais a eles. É como quando escutamos a nossa voz gravada: nunca a reconhecemos como nossa.

Santidade,
Neste evento épico da Jornada Mundial da Juventude - JMJ - que se aproxima, aguarda-o um vetusto povo de braços inteiramente abertos, comportamento típico da Nação lusa, cuja história está repleta de altos e baixos, tal como a vida de cada um de nós.
E, Santo Padre, neste momento cá na aldeia, não se vivem tempos lá muito auspiciosos…
Acolher tanta juventude neste pequeno rectângulo à beira mar plantado, é um privilégio para um país que desde há muito se recusa fazer bebés. Por isso, vai ser um fartote de gentes do ocidente e do…oriente, do norte e do sul, de cores bem diferentes, de culturas várias, de linguajares distintos, mas de corações cheios de vida e de alegria.
Santidade, Portugal precisa de Vida, de alegria, de luz e de esperança. Claro que poderia desde já interpretar estes desejos à luz da Fé, numa dimensão interior que, para mim, só Cristo pode dar. Mas não vou tão longe. Tal como D. Américo muito bem asseverou - o novo Cardeal que Sua Santidade recém-criou - também não defendo qualquer dimensão prosélita.
Portugal precisa sim de Vida, alegria, luz e esperança, mas desde logo numa dimensão muito terrena, muito humana e muito prática, para todos os seus habitantes, tenham eles a cor que tiverem, acreditem eles – ou não - naquilo que entenderem.
Em Portugal vive-se hoje num brejo vivencial, onde os portugueses não se reconhecem nos seus líderes e políticos. Só que, desgraçadamente, são iguais a eles. É como quando escutamos a nossa voz gravada: nunca a reconhecemos como nossa.
Apesar das imperfeições organizativas que vão surgir, este velho povo vai saber receber os jovens de todo o mundo com um sorriso nos lábios. Vai também poder aproveitar e mergulhar nesse tsunami de diversidade cultural que se aproxima e vai perceber que, a médio prazo, a JMJ pode ser mesmo um resgate para o ânimo da nossa juventude.
À desesperança tem de se acrescentar a luz da vida e do sol – que felizmente temos muito -, certamente traduzidos nos milhares de sorrisos que nos irão visitar. Nenhum português conseguirá não sorrir perante tanto rosto de gente feliz que nos vai entrar pelas nossas ruas adentro.
Os nossos semblantes carrancudos de pessoas cinzentas - que pensam que carregam todo o peso do mundo -, vão ter de ser mesmo substituídos por faces mais leves e positivas.
Sabe Santo Padre, não obstante não pertencermos aos países mais pobres do planeta, mais de metade dos portugueses raramente saiu do país, constituindo, assim, a JMJ, uma oportunidade admirável para que todos esses meus compatriotas possam descobrir a alteridade e perceber que, afinal, existem pessoas felizes. É a mundividência, é mundo a vir até nós. Que bom!
Por outro lado, esta JMJ é uma oportunidade ímpar para que a Igreja, através dos jovens, reflicta profundamente sobre os motivos que conduziram às torturantes e perversas ignomínias que nos têm vindo a envergonhar como católicos, não apenas em Portugal, como também por todo o mundo. Enfrentar, combater, expurgar e reparar, mas nunca esquecer! Os jovens são o sopro incómodo e inovador do Paráclito.
Santidade, prossiga com esses seus braços bem abertos, com esse sorriso que desarma e com o reconhecido espírito irreverente que está a mudar a estrutura excessivamente clerical da nossa Igreja.
Bem-haja Papa Francisco e cá o esperamos neste Portugal por ora triste e que carece urgentemente de um vento fresco que nos acicate a alma e a vontade!
É tempo dos portugueses reconhecerem o timbre da sua própria voz, para que possam finalmente mudar de vida.
Bem-vindo Papa Francisco!
P.N.Pimenta Braz

Carta aberta a Francisco

Mais Notícias

    A carregar...