A verdade
Existe um abismo de desenvolvimento que nos separa. E, nas actuais circunstâncias, cada dia que passa, esse precipício vai-se acentuando. As nossas povoações não possuem, nem bebés, nem massa crítica, para que, por elas próprias, consigam crescer e desenvolverem-se social, cultural e economicamente. A ausência de cidadania com espírito crítico ou pensamento próprio, em número ou quantidade suficientemente para produzir o efeito desejado ou esperado, conduz, inúmeras vezes, à suficiência e à mediocridade de lideranças locais. E da mediocridade, geralmente, não se espera grande coisa.
Olhando para Santarém, ou para qualquer outra cidade Portuguesa - com exclusão de Lisboa - e comparando-a com qualquer cidade média/pequena espanhola, facilmente se entende a nossa pequenez e a grande generosidade com que nos atrevemos a denominar as nossas povoações de “cidades”. Se a comparação for com qualquer povoação francesa ou alemã, então entramos no domínio do ridículo.
Há um ror de tempo, tinha eu 15 anos, percebi-o empiricamente quando fiz parte de um conjunto de jovens futebolistas que, inseridos numa grande comitiva do concelho de Santarém, se deslocou a Badajoz para celebrar a geminação entre as duas cidades. Isso já há 43 anos. Mas poderíamos também falar, p.e., de Elvas, cidade próxima de Badajoz. Cidade classificada pela UNESCO como Património da Humanidade, bonita, bem cuidada, com património, turisticamente atraente... mas sem trabalho para oferecer aos jovens locais. Tal como Portalegre, Évora, Beja, Guarda, Bragança, Castelo Branco, etc...
Existe um abismo de desenvolvimento que nos separa. E, nas actuais circunstâncias, cada dia que passa, esse precipício vai-se acentuando. As nossas povoações não possuem, nem bebés, nem massa crítica, para que, por elas próprias, consigam crescer e desenvolverem-se social, cultural e economicamente. A ausência de cidadania com espírito crítico ou pensamento próprio, em número ou quantidade suficientemente para produzir o efeito desejado ou esperado, conduz, inúmeras vezes, à suficiência e à mediocridade de lideranças locais. E da mediocridade, geralmente, não se espera grande coisa.
Tudo isso para alertar para o muito caminho que temos por diante, se é que pretendemos mesmo melhorar. Mas tenho dúvidas. Tenho dúvidas porque há muitos séculos que recusamos a verdade. Com raras excepções, os portugueses ficam satisfeitos se tiverem os seus problemazinhos resolvidos, mesmo que o “quintal do vizinho esteja a arder”. E o “quintal do vizinho”, por vezes, está na própria família. Se alguém possui uma pensão de reforma que lhe permita ter comidinha no prato e a casita paga, raramente quererá mudar de vida para evitar que o neto tenha de emigrar para a Alemanha - isso será para a geração mais nova resolver…
Queiram ou não, tanto o senhor Presidente da República, como o patranheiro ainda primeiro ministro, Portugal visto de Badajoz é pífio e de Hendaia, então, é totalmente insignificante. Quando se está fora do país, toma-se consciência da real e verdadeira importância de Portugal: totalmente irrelevante.
As frases grandiloquentes de que somos os melhores do mundo, são dementes e cómicas. Em vez de nos catapultarem para cima, têm precisamente o efeito inverso: num povo ainda longe da literacia mínima, essas ribombantes sentenças apenas amplificam o grau de anestesia e de hipnose que nos acompanha desde o séc. XVI. Ora, falar verdade é a premissa maior para uma mudança profunda. Até na nossa vida pessoal. Não existindo coragem para o fazer, continuaremos na mediocridade pantanosa dos pequeninos esquemas e das cunhas, que nos vão continuar a proporcionar algum arroz no prato, mas que nunca irão permitir, à maioria dos portugueses, ir passar um fim de semana a Badajoz.
O povo português tem tido medo da verdade. Acomodado à malga de arroz, tem preferido a mentira – ou a pós verdade -, ao espelho de si próprio. Os factos objectivos têm tido menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. Quem melhor souber mentir, geralmente ganha. Continuaremos pobrezinhos e com raiva dos ricos.
P.N.Pimenta Braz