Uma boa ideia era colocar passagens de nível nos discursos dos políticos
No dia 24 de Agosto de 2009 a então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, anunciou durante uma visita ao Entroncamento, que o projecto de construção de uma passagem superior sobre a linha do Leste e da Beira Baixa, que eliminaria a única passagem de nível ainda existente na cidade (em 2003 tinha sido inaugurado o viaduto sobre a linha do Norte), já estava aprovado e que a obra, que custaria 3,2 milhões de euros, seria consignada no ano seguinte.
Nove anos mais tarde, em 19 de Março de 2018, o presidente da câmara, Jorge Faria (PS), disse numa reunião do executivo municipal que o tal projecto aprovado, que custara uns milhares de euros aos contribuintes, iria para o lixo, e que em vez de uma passagem aérea, a ligação entre a parte norte da cidade, (freguesia de Nossa Senhora de Fátima) e a parte sul (freguesia de S. João Baptista) iria ser feita através da Atalaia, no concelho vizinho de Vila Nova da Barquinha, obrigando os automobilistas a deslocarem-se a esse concelho.
Em 2024, nem uma, nem outra solução foram concretizadas e a passagem de nível mantém-se. Ainda há dias, a 12 de Julho lá estive mais de dez minutos, à espera que um comboio de mercadorias tivesse uma via aberta para entrar na estação do Entroncamento.
A cidade nasceu e cresceu por causa do caminho-de-ferro mas as linhas de comboio sempre foram uma barreira a dividi-la. Em 1999 entrou em funcionamento um túnel rodoviário entre a parte norte, freguesia de Nossa Senhora de Fátima e a zona sul, freguesia de S. João Baptista. O túnel em sentido inverso, rodoviário e pedonal, embora estivesse construído, só seria aberto quatro anos mais tarde porque, devido à inexistência de planeamento, a sua saída dava para os terrenos de uma fábrica. O segundo passo para ligar a cidade, como já referi, aconteceu em 2003, quando foi construído o viaduto sobre a linha do Norte.
Com mais uma belas promessas de políticos, talvez daqui a 62 anos, quando se celebrarem os 200 anos da estação do Entroncamento (que começou por ser o apeadeiro da Ponte da Pedra), a cidade deixe de ter constrangimentos provocados pela travessia das linhas férreas.
Rui Ricardo