Polémica na Igreja com o novo altar da Sé de Santarém
A Diocese de Santarém procedeu à remodelação do altar da Sé, colocando peças em pedra que substituíram as peças em madeira que ali estavam há décadas. A mudança não agradou a todos e a Diocese acabou por bloquear e ocultar os comentários críticos nas redes sociais.
A inauguração do novo altar do Sé de Santarém podia constituir um momento de júbilo e comunhão entre a comunidade católica mas nem todos partilharam desse espírito. A instalação de um altar, ambão, presidência e cátedra esculpidos em blocos de pedra foi considerada por algumas vozes críticas como totalmente inadequadas ao espaço, barroco.
“A Sé de Santarém foi nas últimas semanas fustigada com uma alteração verdadeiramente abominável que vai contra todo e qualquer tipo de recomendação feito no que toca à preservação e manutenção de património”, reclama em mensagem enviada a O MIRANTE um crítico que assina como Carlos B Tavares.
A obra foi levada avante pelo prior da Sé, padre Joaquim Ganhão, numa atitude que o mesmo contestatário reputa de “quero, posso e mando”, referindo que há “diversas opiniões contra de boa parte do clero da Diocese de Santarém” e que “a obra foi criticada por imensos sacerdotes lúcidos de todo o país no Facebook da Diocese de Santarém”. Entretanto, face à polémica, a Diocese de Santarém limitou quem pode comentar essa publicação, não sendo também possível ler os comentários antes feitos.
“Um novo altar, um novo ambão, uma nova cátedra do bispo, uma nova presidência, tudo blocos de pedra que não se enquadram numa igreja barroca. Retiraram-se de lá todos os elementos em madeira, que estavam lá muito bem. Não houve preocupação em integrar com o que existia previamente naquele espaço. O resultado é muito pouco digno de uma catedral, ainda mais da Sé de Santarém”, descreve o mesmo Carlos B Tavares.
“A arte nunca foi pacífica”
Contactado por O MIRANTE, o padre Joaquim Ganhão admite que já esperava algumas críticas e resistência à mudança, mas garante não conhecer o contestatário que difundiu a mensagem crítica nem ter recebido directamente nenhuma palavra de desagrado. “Claro que tínhamos noção de que as pessoas estavam afeiçoadas aquele figurino e a arte nunca foi pacífica e susceptível de ser acolhida muito rapidamente” diz o sacerdote, que tem obra feita na preservação do património eclesiástico e é director do Museu Diocesano. O sacerdote contextualiza que aquando da criação da Diocese de Santarém, há 50 anos, improvisou-se para a Sé um altar a partir de outras peças, algumas de outras igrejas, e que esteve lá durante este meio século. “Mas o fito era sempre colocar uma coisa mais sólida e segundo as regras da liturgia”, ressalva.
Joaquim Ganhão garante que foi feita uma reflexão com vários especialistas e chegou-se à conclusão que esta solução seria a melhor. As peças em pedra foram concebidas pelo artista Paulo Neves, “segundo aquilo que são as orientações da Igreja para um altar, que deve ser em pedra, e para o ambão”. O padre afirma que foram utilizados os mesmos materiais que já estão na Sé, que são os mármores. “Já estava à espera deste tipo de reacções, mas é tudo muito relativo. As pessoas vão precisar de algum tempo para se reconciliarem com o novo espaço. Mas também é bom que se diga que nada daquilo é fixo, embora seja pedra”, refere, notando que as peças em pedra “não afectam a integridade, autenticidade e nem desfiguram o património em presença”.
O bispo de Santarém, D. José Traquina, vai dedicar o novo altar no dia 16 de Julho (já depois do fecho desta edição), com uma celebração que dá início também às comemorações do jubileu dos 50 anos da Diocese de Santarém, que se vão estender de 16 de Julho deste ano a 4 de Outubro de 2025. A inauguração do novo altar acontece nesse contexto.