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Chega acusado de hipocrisia por votar contra plano anti-corrupção na Câmara de Santarém
Manuel Inez (à direita), Jorge Rodrigues e Pedro Melo (primeiro e segundo a contar da esquerda), na primeira fila, esgrimiram argumentos na última assembleia municipal

Chega acusado de hipocrisia por votar contra plano anti-corrupção na Câmara de Santarém

Autarcas do CDS e do PSD criticaram de forma contundente, na Assembleia Municipal de Santarém, a posição do Chega contra o Plano de Prevenção de Riscos de Corrupção e Infrações Conexas do município, aprovado por larga maioria. O Chega, que foi acusado de demagogia e de ser um verbo de encher, alega que o documento é um paliativo que nada vai resolver.

A Assembleia Municipal de Santarém aprovou por esmagadora maioria a proposta de Plano de Prevenção de Riscos de Corrupção e Infracções Conexas do município, com apenas dois votos contra dos eleitos do Chega, que seguiram o sentido de voto da vereadora do partido quando o assunto foi debatido em reunião de câmara. A posição do Chega suscitou críticas contundentes das bancadas de centro-direita na assembleia municipal, com o eleito do CDS Pedro Melo a dizer que o Chega apresenta-se “como paladino do combate à corrupção” e depois vota contra um plano nesse sentido, sem ter apresentado qualquer proposta alternativa.
“Há um plano melhor do Chega? Onde é que ele está?”, questionou o eleito do CDS, acusando o Chega de “dizer uma coisa e fazer outra” e de apresentar “justificações que não fazem sentido” para votar contra. “É bom que isto tenha acontecido, porque é a demagogia no seu esplendor. Caiu-vos a máscara (…) Os senhores criticam, atacam tudo, são todos corruptos menos as pessoas do Chega e depois votam contra”, atacou Pedro Melo. “Neste momento o pior inimigo para a democracia no nosso país e no nosso concelho chama-se Chega. São uns demagogos!”, exclamou.
Pedro Melo, que é jurista, enquadrou ainda que o plano é uma imposição legal, referindo que se trata de um documento “bem estruturado, claro e escorreito”, que apresenta medidas concretas, como códigos de conduta, definições de conflitos de interesses e pessoas que ficam encarregues de fazer esse controlo.

As razões do Chega
A resposta veio da parte do eleito do Chega Manuel Inez, que começou por censurar Pedro Melo por estar a criticar a vereadora do Chega Manuela Estêvão, presente na assembleia municipal, sem que esta pudesse retorquir. O que Pedro Melo contestou: “claro que pode intervir, aliás, espero isso mesmo”. Mas a vereadora optou por não falar nessa sessão (fá-lo-ia dias depois em reunião de câmara), tendo Manuel Inez assumido a defesa do Chega, classificando como “um paliativo” o plano em questão. “Foi-nos dado a conhecer um documento com 200 páginas mas gostaríamos que nos explicassem claramente de que forma é que ele é aplicado. Como é que aquele documento ajuda a impedir a corrupção? Eu pessoalmente não sei”, confessou o autarca do Chega, que justificou também a não apresentação de sugestões pelo partido alegando que “quem tem que dar contributos e de se preocupar com ele é quem está a liderar”.

O Chega “é um verbo de encher”
Da parte do PSD, Jorge Rodrigues atirou mais achas para a fogueira, rotulando a posição do Chega de “surreal” por fazer da luta contra a corrupção uma bandeira e depois votar contra um plano “concreto, robusto e legalmente sustentado” nesse sentido. “O Chega é um partido de slogans, vazio de propostas, incapaz de contribuir para o debate e para as soluções que o município e o país precisam”, atirou, acrescentando que “quem combate a corrupção a sério não boicota os instrumentos que a previnem”.
O presidente da câmara, João Leite (PSD), juntou-se às críticas, sublinhando que o Chega teve muito tempo para avaliar o documento e apresentar eventuais propostas alternativas. “Ficámos todos com uma sensação clara: o Chega não leu o documento”, afirmou o líder do executivo, que não foi meigo nas palavras. “Hoje o Chega deu nesta assembleia um importante contributo para a democracia. Clarifica a sua verdadeira razão de existir. É um verbo de encher que em nada contribui para o desenvolvimento e crescimento do nosso território”, disse.

Vereadora responde cinco dias depois

A intervenção de João Leite na assembleia municipal mereceu críticas severas da vereadora do Chega na reunião de câmara seguinte, a 5 de Maio. Manuela Estêvão disse, entre outras considerações, que sempre se pautou por uma postura institucional e construtiva nas reuniões de câmara, sentindo haver reciprocidade por parte dos restantes eleitos, com excepção do presidente da câmara.
A autarca considerou “muito desagradável” a frase de João Leite na assembleia municipal quando classificou o Chega como “um verbo de encher”, referindo que se trata de “uma falta de respeito” ao seu partido e a todos os que o representam e nele votaram. Afirmou mesmo que esse tipo de afirmações pode infringir a lei, declarou que João Leite por vezes julga-se “dono da verdade absoluta” e considerou que “é uma vergonha” como o presidente “destrata a vereadora da oposição”, acusando-o de insultar uma força partidária e de “extravasar as suas competências”. Deixou ainda uma garantia: “não me deixo intimidar e nada me silenciará, sempre na defesa dos escalabitanos”.
Na resposta, João Leite confessou ter ficado “admirado” por a vereadora tecer considerações sobre juízos de valor e adjectivações, quando é frequente ver o Chega a adjectivar um conjunto grande de pessoas e a própria vereadora a adjectivá-lo a ele nas redes sociais. Acusando Manuela Estêvão de querer colar uma narrativa de má educação ao presidente da câmara, João Leite explicou o que quis dizer na assembleia municipal. Considerou que o Chega ao não querer participar na elaboração do plano anti-corrupção, ao não apresentar propostas quando teve muito tempo para o fazer, caiu num vazio “e quando isso acontece é um verbo de encher”.

Chega acusado de hipocrisia por votar contra plano anti-corrupção na Câmara de Santarém

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