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OGMA reforça aposta na mão-de-obra e infraestruturas para continuar a crescer

OGMA reforça aposta na mão-de-obra e infraestruturas para continuar a crescer

Nesta entrevista a O MIRANTE, o presidente do conselho de administração da empresa, Rodrigo Rosa, desmonta alguns argumentos dos sindicalistas e revela os caminhos futuros da empresa, que se está a preparar para reforçar a contratação de novos trabalhadores.

Os 1595 trabalhadores da OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal, continuam a ser a prioridade para o conselho de administração da empresa e há a intenção de reforçar a contratação de novos funcionários já a partir do próximo ano. A garantia é do presidente do conselho de administração e CEO daquela empresa sediada em Alverca do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira.
Respondendo às recentes manifestações por parte dos sindicatos à porta da empresa, onde exigiam aumentos de salário e o fim de alegadas perseguições dentro da empresa, Rodrigo Rosa garante que os protestos “praticamente não tiveram impactos” na produção, notando que nem todos os trabalhadores sindicalizados aderiram ao protesto.
“O nosso mote sempre é comunicar e retribuir o esforço das pessoas. Têm sido feitos ajustes salariais e ajustados benefícios. Nos últimos dois anos os accionistas têm tirado menos dinheiro da empresa do que aquilo que autorizam que seja distribuído pelos empregados. Em 2015 distribuímos 1 milhão e 800 mil euros pelos empregados e os accionistas tiraram 1 milhão e 100 mil euros. Isso acontece porque os accionistas acreditam na empresa e querem deixar o seu dinheiro nela, para que a OGMA tenha mais 100 ou 200 anos de história”, refere o responsável.
Actualmente o salário médio na empresa _ detida em 65% pela Airholding SPSG (detida a 100% pela brasileira Embraer) e 35% pela Empresa Portuguesa de Defesa SGPS (Empordef, detida na totalidade pelo Estado) _ é de 1400 euros. A OGMA tem adoptado a política do mérito, olhando às referências do mercado, pagando mais a quem merece e actualizando os vencimentos que estão abaixo da média.
“Estamos a corrigir distorções de vencimento que já existiam há muitos anos. A reivindicação dos sindicatos de aumentar todos por igual em 1% vai aumentar os que ganham pouco, sim, mas também aumenta os que já ganham muito e passarão a ganhar ainda mais. Precisamos é de priorizar as pessoas que estão abaixo do mínimo de mercado e trazê-las para as faixas de mercado, que é o que vamos continuar a fazer”, refere Rodrigo Rosa.
Em formação dos trabalhadores têm sido investidos cerca de 1,9 milhões de euros por ano. É um valor considerado “significativo” pelo administrador. “Temos uma quantidade de pessoas que nos próximos anos se vão aposentar e vamos precisar de recrutar. Os nossos números dizem o contrário dos sindicatos, não estamos a reduzir os nossos quadros. Entre 2014 e 2015 entre saídas e entradas, com aposentações e pessoas que querem sair, acabámos por aumentar o quadro em 29 pessoas. E pretendemos continuar a recrutar no próximo ano”, explica Rodrigo Rosa.
A parceria que a empresa mantém com a Secundária Gago Coutinho, na área da formação dos jovens em aeronáutica, é para manter, segundo o administrador. Apesar de admitir que a OGMA não tem capacidade para integrar nos seus quadros todos os alunos, elogia o facto de muitos encontrarem trabalho noutras companhias ligadas à aeronáutica, como a TAP.

Mais investimentos no futuro
Identificar oportunidades de negócio, investir na formação dos trabalhadores e em novas infraestruturas são algumas das principais prioridades para o futuro. A administração da empresa admite que o último ano foi “histórico” e quer que esta continue num rumo de crescimento sustentado. “O futuro passa por identificar novos negócios, porque muitos dos negócios que hoje consideramos actuais um dia vão deixar de existir. Construir uma visão estratégica passa por um grande investimento em máquinas, equipamentos, infraestruturas e sobretudo nas pessoas. O sucesso do passado não quer dizer o sucesso do futuro e se não nos adaptarmos morremos por incompetência nossa”, refere.
Este ano já vai avançar a construção de um novo hangar exclusivamente dedicado à pintura de aeronaves, representando um investimento na ordem dos oito milhões de euros. “No final do ano e mais intensivamente em 2017 vamos ter mais produtos Embraer na área de fabricação da OGMA, contratos que já foram feitos e que vão avançar. A OGMA nasceu como empresa de manutenção e a estrutura de produção foi-se desenvolvendo ao longo do tempo, hoje já representa 30% do negócio e a perspectiva é que ela cresça ainda mais”, explica.
Apesar da crise, a empresa conseguiu um volume de negócios de 188,6 milhões de euros e um lucro de 11,6 milhões. Isto num ano em que um dos principais clientes, a Rolls Royce, passou por algumas dificuldades. “Apesar disso nunca quisemos despedir funcionários, desenvolvemos outros negócios e preparámos esses funcionários para se poderem movimentar dentro da empresa para outras áreas de negócio. Foi um esforço grande”, explica.

Um gestor que se apaixonou por Portugal
Rodrigo Rosa, 40 anos, nasceu em São Paulo, Brasil, mas reside em Portugal há quatro anos. Confessa ser uma pessoa que não gosta muito de falar sobre si. Está na Embraer desde 1999, tendo ocupado vários cargos executivos nas áreas financeira e de negócios. Fez parte do conselho de administração e do conselho fiscal de diversas empresas controladas pela Embraer em países como a China, Irlanda, Holanda Inglaterra e Espanha. Em Novembro de 2013 passou a ter o cargo de CEO da OGMA.
É formado em Direito pela Universidade de Mackenzie, com pós-graduação em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, ambas no Brasil, e tem um MBA pela Cranfield University, do Reino Unido. Nos tempos livres gosta de ir ao ginásio e de se exercitar. A sua cor favorita é o azul e vive em Lisboa com a família. Vai de carro todos os dias para o emprego e não tem nenhum disco em particular que goste de ouvir na viagem, privilegiando o rádio.
Vai ao Brasil com frequência mas confessa gostar muito de Portugal, principalmente pelas pessoas, paisagem e por ser um país “abençoado com boa comida”. É adepto do clube de futebol de São Paulo mas não é doente pelo desporto. Nunca se perdeu em Alverca nem nunca foi ao centro da cidade. Mas já visitou a zona da nova biblioteca de Vila Franca de Xira e achou “muito bonita” a zona ribeirinha da cidade. “Há muita coisa que admiro aqui no concelho mas sobretudo acho admirável a capacidade de manter a história. Por menor que seja a cidade tem sempre os edifícios históricos restaurados e cuidados. Gosto de história e por isso acho os edifícios muito interessantes”, conclui.

Pólo aeronáutico em Alverca “não é impossível”

A constituição de um pólo aeronáutico em Alverca é, para o CEO da OGMA, uma ideia positiva que, sendo difícil, não é impossível. Considera Rodrigo Rosa que se trata de um processo complexo e provavelmente demorado, que exigirá resiliência não só pelas questões técnicas e burocráticas associadas como também pela necessidade de captar investimento privado. “Toda a gente quer ter a indústria aeronáutica no seu território porque traz valor agregado. É emprego qualificado, o volume de negócios é significativo e ajuda as exportações. A área do “Aerospace & Defense” é muito importante e interessante. A OGMA, sozinha, com o seu volume de negócios, não conseguirá puxar uma constituição de fornecedores e outras empresas aeronáuticas para Alverca. Elas não vivem só de uma empresa. Captar investimento passará muito pela capacidade da câmara ou da região de conseguir atrair mais pessoas”, entende.
Para Rodrigo Rosa a cidade de Alverca beneficia de várias vantagens, entre elas os excelentes acessos, a pista própria (propriedade da Força Aérea Portuguesa) e a proximidade com Lisboa.

Aeroporto em Alverca só com investimento significativo

Caso o Governo quisesse investir agora na criação de um aeroporto secundário alternativo à Portela, nas pistas de Alverca, precisaria de realizar um investimento “significativo”, segundo o administrador da OGMA. “Se decidirem colocar aqui um aeroporto, muito investimento terá de ser feito. A estrutura de um aeroporto é completamente diferente do que existe hoje naquele local. Mas há um potencial muito grande de negócio quando um aeroporto está perto porque o fluxo de aeronaves é muito maior. Para nós, enquanto empresa, isso seria muito interessante”, admite Rodrigo Rosa.
O CEO da empresa mostra-se também aberto à possibilidade de chegar a acordo com a câmara caso esta pensasse avançar com uma variante à Estrada Nacional 10 em terrenos da empresa. “Teria de ser um projecto que não inviabilizasse a actividade da OGMA. Temos um plano de expansão, mas se for bom para ambas as partes estamos disponíveis”, revela.

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