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A violência doméstica não aumentou, há é mais denúncias e informação

A violência doméstica não aumentou, há é mais denúncias e informação

Violência e maus-tratos estiveram em debate em Tomar. Técnico do Gabinete de Apoio à Vítima de Santarém diz que a exposição desses casos pode conduzir à percepção que o fenómeno se tem agravado, mas essa não é a sua convicção. O facto de ter passado a ser considerado crime público levou a que os casos registados de violência doméstica aumentassem de forma substancial.

Na opinião do psicólogo e assessor técnico do Gabinete de Apoio à Vítima (GAV) de Santarém, Gustavo Duarte, os casos de violência doméstica “não aumentaram, o que existe é mais informação e as pessoas estão mais sensibilizadas e denunciam mais as situações”, explicou a O MIRANTE no decorrer do debate Saúde em Conversa - “Violência e Maus Tratos”, que decorreu na manhã de quinta-feira, 12 de Maio, no auditório do Serviço de Formação Profissional de Tomar.
O facto de a violência doméstica ter passado a ser considerado um crime público também ajudou a que aumentasse as denúncias, que podem ser feitas por qualquer pessoa. “A pouco e pouco a legislação vai-se adaptando à realidade”, refere Gustavo Duarte, acrescentando, a título de exemplo, que “antigamente se a mulher abandonasse o lar perdia o direito aos seus bens e agora isso já não acontece”.
As acções que são feitas nas escolas têm ajudado muito na sensibilização das crianças e a comunicação social ao falar do tema também desperta as consciências. O facto de também se conhecerem os casos de famosos com que as pessoas se identificam, que sofrem este tipo de crime, leva a que as vítimas ganhem coragem para denunciar.
Mais de 80 por cento das situações que chegam ao Gabinete de Apoio à Vítima de Santarém são de violência doméstica, onde se inclui a violência psicológica, social e física. Os adolescentes também estão a contactar mais o gabinete, não presencialmente mas através de e-mail ou telefonicamente por situações de violência no namoro. “Muitas vezes ligam só porque têm dúvidas sobre se as situações por que passam são ou não violência”, esclarece o técnico. “Também há casos de vítimas que deixam o processo a meio e que depois acabam por voltar porque a violência não diminui. Normalmente o agressor pede desculpa e a vítima perdoa mas vai voltar a agredir”, diz Gustavo Duarte.
Também os homens estão a denunciar mais situações de agressões psicológicas e físicas, “o que demonstra que já não existe aquele estigma de ser julgado pelas outras pessoas, ou de ser falado na comunidade porque não se consegue defender ou porque é fraco. Ainda existe esta questão cultural de as mulheres serem as fracas e os homens os donos da casa”, afirma Gustavo Duarte.

Violência psicológica por vezes é mais grave
Na iniciativa também participou o agente da PSP de Tomar, Sérgio Ferreira, que referiu que quando era miúdo ouvia muitas vezes a expressão “entre marido e mulher não se mete a colher”. Ele próprio tinha conhecimento de uma vizinha que era agredida pelo marido, situação encarada com alguma naturalidade. “Naquele tempo era normal. Felizmente as coisas estão a mudar e a evoluir”, diz.
As vítimas estão a apresentar mais queixas mas o importante “é a prova que se consegue fazer e não o número de queixas”. O agente da PSP também falou na violência na adolescência por lidar com alguns casos e explicou que esta está “associada à necessidade de afirmação desses jovens”. A violência psicológica é por vezes mais grave que a física e pode levar ao suicídio.
O tema da violência na escola também foi abordado. “Muitas vezes são dos próprios pais que vão tirar satisfações do professores ou de outros alunos, o que ainda é mais grave, e já houve casos de agressão”, explica Sérgio Ferreira. “Quando os filhos vêem os pais actuar assim passam a achar um comportamento normal e é o que vão praticar no futuro”, conclui.

A violência doméstica não aumentou, há é mais denúncias e informação

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