uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Uma autarca que gosta de prestar contas à população e adora sardinha assada

Vereadora da Cultura da Câmara de Benavente é uma devota da Festa da Sardinha Assada e da Amizade que decorre de 23 a 25 de Junho. Ana Carla Gonçalves é uma defensora das tradições que marcam a identidade do seu município e por isso considera indispensáveis as actividades taurinas nas festas que se realizam no concelho de Benavente. Apreciadora de sardinha assada, diz que um dia de trabalho bem passado é na rua em contacto com a população. A autarca e jurista diz ainda que as festas organizadas por associações e colectividades envolvem mais a comunidade do que as que são promovidas pelas autarquias.

A Festa da Sardinha Assada nasceu da ideia de um grupo de amigos, mas com a dimensão que atingiu a sua realização seria impensável sem o apoio do município? Sim. De facto a festa da sardinha assada e da amizade nasceu num ambiente tertuliano entre amigos e convivas na década de 1960 e o impacto que teve quase de imediato forçou, no bom sentido, que a festa ganhasse a dimensão pública que tem. O apoio da câmara municipal é o reconhecimento do bom trabalho e da importância do associativismo local. É sobretudo um apoio logístico, um compromisso que temos vindo a manter para possibilitar a realização da festa, embora também haja apoios financeiros através dos subsídios anuais atribuídos às festas e colectividades. Mas não é com o nosso apoio financeiro que se faz a festa, pois o seu orçamento é muito maior.
No concelho de Benavente as festas principais são organizadas por associações, ao contrário do que acontece noutros municípios, onde as autarquias são muitas vezes as entidades organizadoras. Prefere o modelo seguido no seu concelho? Sim, claramente. A vitalidade e a envolvência da comunidade no trabalho das festas locais comprovam que esta tem sido uma opção política acertada. É assim que conseguimos que as pessoas, com o seu trabalho voluntário se organizem, com o apoio institucional da câmara municipal, e que possam sentir a festa como sua. Qualquer pessoa que visite as nossas festas consegue ver que existe uma população entusiástica que, na sua esmagadora maioria, está envolvida na festa.
É fácil motivar os jovens a envolverem-se na organização? Sim. No caso da festa da sardinha assada e da amizade, a comissão dos sardinheiros é composta por 17 jovens que todos os anos são nomeados pela antiga comissão. E a comissão da picaria também. É uma honra e é com brio e dedicação que as pessoas se vêem nessa posição, que é extremamente exigente pois há um ano inteiro de eventos, de iniciativas junto da comunidade em que se trabalha quase todos os fins de semana. E o balanço que temos feito nos últimos anos é de reconhecimento desse trabalho e do sucesso que a festa tem tido.
É uma devota da festa da sardinha assada ou incomoda-a o fumo dos fogareiros? Sou benaventense de gema e nasci já em plena tradição firmada desta festa. É para mim impensável não passar os dias da festa em Benavente. Quando se está nesta posição de eleita municipal responsável pela área da cultura tem-se uma visão diferente da festa, do que custa e do que é empenhado para que ela possa correr pelo melhor. Porque antes a versão era estar do outro lado, para poder usufruir livremente do trabalho de tanta e tanta gente que consegue montar esta organização.
Sardinha assada é com faca e garfo ou à mão a pingar na broa? Para mim é à mão, bem assada e no pão. É como me sinto mais confortável. Com faca e garfo parece que não tem o mesmo sabor, mas se for numa ocasião mais formal lá terá que ser... Mas nestas ocasiões públicas é sempre à mão.
E o que se bebe a acompanhar? Vinho tinto, claro! A nossa festa é conhecida pela distribuição gratuita de sardinha, pão e vinho. Estamos a falar de cerca de 10 mil pães, de cinco mil litros de vinho e de cinco toneladas de sardinhas.
Se puder escolher entre carne e peixe, vai para a sardinha assada na brasa ou para a costeleta de novilho grelhada? Sardinha assada. Em geral sou apreciadora de peixe e gosto bastante de sardinha. Sou neta de um pescador e de uma vendedora de peixe e em casa fui acostumada ao peixe fresco. Sardinha assada no pão é o melhor petisco que se pode desejar.
Ia com o seu avô à pesca? Sim, várias vezes. Sobretudo em miúda, até aos 10 anos. O meu avô pescava sobretudo aqui no rio Sorraia. É com saudade que recordo esses tempos. O peixe fresquinho feito na hora tem outro sabor, é inigualável.

“Sou um bocadinho medrosa e respeito muito o toiro bravo”
Uma festa ribatejana sem actividades taurinas não é festa nem é nada? As festividades são a celebração dos nossos costumes e tradições. Somos gente de trabalho do campo, da agricultura, do maneio do gado, e as nossas festas, invariavelmente, envolvem o campino, o toiro e o cavalo associados à tauromaquia popular. Ainda hoje temos os jovens muito ligados a estas tradições que devemos preservar como factor identitário do nosso território e das nossas gentes. Somos um concelho às portas de Lisboa que tem valores culturais, paisagísticos e naturais únicos e muito ligados a essas tradições. E nós, município, reconhecemos isso sem qualquer tipo de constrangimentos.
Benavente tem o único grupo de forcados feminino do país. Nunca pensou inscrever-se e dar o seu contributo? Não. Sou um bocadinho medrosa e respeito muito o toiro bravo. Nunca tive essa coragem. Até porque na minha adolescência, quando era mais afoita, apanhei alguns sustos. Enquanto espectadora dessa arte, tenho de elogiar a coragem dos homens e mulheres que conseguem enfrentar um toiro bravo.
Nunca desafiou um toiro ou uma vaca nas largadas? Não. Sempre fui uma espectadora entusiástica, mas do lado de cá das tronqueiras. Sempre fui muito consciente das minhas limitações e do respeito que se deve ter aos animais.
Como viu a iniciativa de alguns partidos de querer proibir a participação de menores de 18 anos em espectáculos taurinos? Com o devido respeito por quem pensa de maneira diferente, não concordo. Acho que deve existir é a liberdade de consciência e o sentido de responsabilidade por parte dos pais dos menores no sentido de não os colocarem em situação de risco, seja ela qual for. Os valores e as tradições dos territórios devem ser respeitados. São interesses e direitos legítimos que devem ser reconhecidos.
Acha que há uma agenda política para tentar acabar com as touradas? Não sou especialmente conhecedora dessa matéria. Não sei se pode falar-se de agenda política mas há de facto uma questão de interesse claramente definido para, através do argumento da defesa do bem-estar animal, pôr em causa a tradição tauromáquica. Os argumentos mais ou menos objectivos que se podem trazer a esta discussão têm que ser sérios e sempre fundamentados. E o que me parece é que nem sempre isso se passa. Os argumentos do bem-estar animal, a meu ver, ainda não estão devidamente esclarecidos.
Um dia de trabalho bem passado é no gabinete ou no terreno a contactar com a população? É no contacto com a população. Obviamente que há trabalho de escritório a fazer, há papel que tem que ser assinado todos os dias para manter alimentada a máquina que é a organização da Câmara de Benavente e os seus diversos serviços, mas é indo ao terreno falar com as pessoas que se consegue sentir a justiça do caso concreto. Esta gestão de proximidade é um trabalho exigente mas muito gratificante. As pessoas reconhecem o nosso trabalho.
Costuma ser abordada por munícipes na rua? Sim, muito frequentemente. Esta proximidade às pessoas permite-nos prestar contas do nosso trabalho no dia a dia e mostrar às pessoas qual é o critério da nossa actuação. Permite-nos também dizer que estamos cá sobretudo para servir as nossas terras. Isso a partir de um gabinete é difícil de acontecer.
Se a convidassem para ir dar um mergulho no Sorraia num dia de calor, era mulher para aceitar o desafio? Possivelmente aceitaria.
Numa tarde abrasadora de Verão prefere o fresquinho de um museu ou trabalhar para o bronze numa praia? Tenho dois filhos e é impossível haver um plano de férias sem praia. Mas o que eu gosto de fazer nas férias é repartir o tempo entre a praia, campo e visitação cultural. Tento equilibrar as coisas.

Uma jurista entusiasta da literatura e do cinema

Ana Carla Gonçalves, 38 anos, é natural de Benavente, é casada e tem dois filhos, um casal. Reside em Samora Correia e é jurista de profissão. Já tinha sido eleita da Assembleia Municipal de Benavente nos dois anteriores mandatos e em 2013 estreou-se como vereadora da câmara municipal, pela CDU. Não é militante do PCP mas diz que está “de alma e coração” no projecto político da coligação liderada pelos comunistas e não se vê noutra força partidária.
Jurista de profissão, assume-se como mulher de esquerda e tem neste seu primeiro mandato na vereação os pelouros da Cultura, Obras Particulares, Planeamento Urbanístico e Desenvolvimento, Ambiente, Cultura, Protecção Civil e Segurança Pública, Trânsito e Toponímia e Sector de Fiscalização. Como passatempos preferidos tem a leitura, nomeadamente poesia de autores portugueses, e o cinema.

Mais Notícias

    A carregar...