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Silêncio e esquecimento são os melhores aliados dos culpados do surto de legionella
CRÍTICAS. António Eloy participou num debate na Póvoa de Santa Iria

Silêncio e esquecimento são os melhores aliados dos culpados do surto de legionella

Ambientalista diz que é importante a população não desmobilizar sobre o assunto. António Eloy, um nome respeitado no seio da comunidade ambientalista portuguesa, esteve na noite de sábado na Póvoa de Santa Iria num debate e a O MIRANTE não usa palavras simpáticas para falar do surto que matou 14 pessoas e infectou 375 em Novembro de 2014.

O silêncio é o melhor aliado que têm as empresas culpadas pelo surto de legionella no concelho de Vila Franca de Xira e por isso é preciso que a população não desista de lutar e de fazer ouvir a sua voz. Quem o diz é António Eloy, professor universitário, consultor e ambientalista, que diz ser “gravíssimo” o manto de silêncio que aos poucos vai caindo não apenas no caso do surto de legionella como noutros casos de poluição ambiental do país, como o caso das minas de urânio da Urgeiriça.
“Mobilizem-se, não tenham medo de falar. Não devemos ter medo de afrontar os que nos querem impor a poluição e a degradação. O grande inimigo destas agressões ambientais é o silêncio”, lamenta. António Eloy esteve na Póvoa de Santa Iria na noite de sábado, 19 de Novembro, para participar num debate organizado pela Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo e pelo Grémio Dramático Povoense.
Eloy foi também director de uma empresa que fazia a limpeza de equipamentos de ar condicionado de hospitais e grandes edifícios e diz que há actualmente de tudo um pouco: desde as empresas que se preocupam e cuidam do ar que as rodeia até às que “passam a poeira para debaixo do tapete”. O ambientalista diz que o surto de legionella de Vila Franca de Xira, que matou 14 pessoas e infectou 375, teve “consequências dramáticas” e mostrou “incúria industrial”, dizendo esperar agora uma “sanção pesada” da justiça.
Houve negligência quando o surto começou
António Eloy diz que “houve logo negligência” quando o surto começou, ao ignorar-se os sintomas. “Perdeu-se demasiado tempo e perderam-se demasiadas vidas. Isto foi uma coisa que devia ter sido logo tratada no início. A empresa responsável pelo surto optou logo por muito silêncio, até para tentar deixar passar a pressão da comunicação social e da opinião pública. Tentar passar pelo buraco da fechadura”, critica a O MIRANTE.
O ambientalista não deixa escapar a oportunidade de considerar os atrasos da justiça como um problema e um entrave ao apuramento da verdade. “Quando o caso está completamente investigado, feita a prova, todo este atraso tem a ver com lógicas erradas na estrutura da justiça em Portugal. Quem tem a culpa não sei, sei que isto não pode continuar a acontecer, os casos irem a julgamento quatro anos depois. A minha opinião pessoal é de que o processo vai arrastar-se em recursos e que eventualmente alguém irá contornar no último momento estes processos com expedientes variados e conseguir não ser culpado. Não gostaria que isso acontecesse, gostaria de ver uma condenação exemplar e célere. Mas para as pessoas ficarem satisfeitas com o estado de direito a justiça tem de funcionar rapidamente e tem de malhar, doa a quem doer. E infelizmente não é isso que a gente tem visto”, lamenta a O MIRANTE.
Além de professor auxiliar das cadeiras de Ecologia e Geografia Humana e Introdução à Economia na Universidade Lusófona de Lisboa, António Eloy foi também consultor para os programas educativos da Expo 98, é formador de empresas, institutos do Estado e ministérios e consultor de empresas de energias renováveis. Foi também, entre outros, membro fundador da secção portuguesa da Amnistia Internacional.

Silêncio e esquecimento são os melhores aliados dos culpados do surto de legionella

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