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Há poesia à solta em Vila Franca de Xira

Há poesia à solta em Vila Franca de Xira

Quem quiser pode entrar, pedir licença e dizer os seus poemas, ou os de alguém que admire. Nas Tertúlias de Poesia e Prosa organizadas pela Palavra Cantada – Associação de Cultura só não é permitido ficar calado.

Não houve quem passasse junto à sala de exposições do maestro Mário Coelho, em Vila Franca de Xira, na noite de sexta-feira, que resistisse a espreitar para o interior do espaço onde homens e mulheres declamavam versos e outros os ouviam compenetrados. As portas estavam abertas: convidavam a entrar quem gostasse de dizer poesia ou apenas de ouvir, mas também quem quisesse partilhar as suas ou as palavras de outros, ou não fosse esse o grande objectivo da iniciativa da Palavra Cantada – Associação de Cultura.
“Esta é a segunda tertúlia de poesia e prosa que organizamos”, explicou a
O MIRANTE, Maria Gomes, escritora e poetiza, e presidente da associação. Helena de Matos, professora do ensino básico e igualmente membro da Palavra Cantada, é quem está encarregue de organizar as tertúlias – a última aconteceu na noite de 7 de Abril, na mesma altura em que estava também marcada uma procissão religiosa pelas ruas da cidade. Talvez por isso, a sala não encheu como em outras ocasiões, mas os que estiveram presentes – cerca de uma quinzena – seguiram o guião como planeado. Todos eles membros da Palavra Cantada, a associação que nasceu há cinco anos, pelas mãos de Maria Gomes, e que já conta com mais de 80 sócios, não apenas do concelho de Vila Franca de Xira. Que, no entanto, é a terra de muitos poetas.

Irmã de Mário Coelho é o elemento mais antigo do grupo
“Temos escritores e poetas de grande talento no concelho”, sublinhou Maria Gomes, que ajuda também nas tertúlias, aproveitando para apresentar alguns poemas da sua autoria.
A tertúlia divide-se em duas partes: na primeira é feita uma homenagem a um escritor, através de uma curta – mas emocionante – cronologia da sua vida, que é, depois, salpicada por poemas ou prosas da autoria do homenageado, lidos por quem tiver vontade. Na segunda parte, quem quiser pode dizer poemas ou prosas escritas pelo seu punho.
Almeida Garrett foi o escritor homenageado na segunda edição das tertúlias e coube à professora de Literatura Joaquina Raimundo a breve narração da vida do autor português. Depois, cada um dos participantes, levantou-se, à vez, para ler poemas de Garrett. Nem a jornalista de O MIRANTE ‘escapou’: quem ali está perde a vergonha e fica contagiado pelo amor às palavras.
A sala é emprestada à Palavra Cantada pelo maestro Mário Coelho. A irmã do toureiro, Maria da Graça, de 90 anos, é o membro mais velho da associação de cultura. Na última tertúlia, disse poemas de Fernando Pessoa, sem a ajuda de cábula, e numa cadência apaixonante. Todos os membros presentes puderam, na segunda parte da tertúlia, ler os seus textos. Maria Gomes leu um poema da sua autoria intitulado “Odes de frustração”, e, baixinho, disse: “Rasgo a pele com o suor/Prendo a brisa com a mão/Castro a palavra que não a tem/E corto o ópio ao amor/Sufoco o ar da respiração/E troco o mal dizer pelo bem.(…) “. Amor e saudade, tristeza e melancolia, mas também riso e festa, memória e gratidão, todos os sentimentos se dizem e se misturam nestas tertúlias que prometem continuar e atrair cada vez mais poetas amadores.

O alhandrense das sete artes

Manuel da Piedade toca harmónica, dança em casa com a mulher, faz teatro e ainda canta no Coro da Sociedade Euterpe Alhandrense. Mas também declama e escreve poesia. Na última tertúlia disse o seu poema “Cinco Sentidos”:

“Vejo os campos,
vejo o mar
A beleza duma flor
Vejo as formas do teu corpo
E o teu rosto, meu amor

Oiço a tua voz tão meiga
A sussurrar-me ao ouvido
E o murmúrio do vento
E da abelha o zumbido

Cheiro o perfume que usas
E o aroma da terra
O perfume duma flor
Que sua beleza encerra

Sabem a mel os teus beijos
Nos lábios, quando se tocam
Sabem a sal, tuas lágrimas
Quando na tua face rolam

Sinto o veludo da pele
Quando acaricio o teu rosto
Sinto a seda dos teus cabelos
Que eu afago com gosto”

Há poesia à solta em Vila Franca de Xira

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