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Impagável Serafim das Neves


A linguagem desbragada usada por alguns eleitos da Assembleia de Freguesia de Samora Correia, que referes no teu último e-mail, é efectivamente o oposto da subtileza retórica de outros tempos mas isso é compreensível. Políticos locais a discursar com a elevação e a fina ironia de outrora, seriam um anacronismo e isso não abonaria a seu favor, tanto mais que estamos sempre a exigir-lhes que se adaptem aos novos tempos, para melhor gerirem a coisa púbica...perdão...pública.
Se em Samora os termos parvalhão e monte de merda foram usados entre pares, digamos assim, como forma de se designarem mutuamente, na Chamusca, o presidente da câmara, Paulo Queimado, mostrou estar num estádio superior de adaptação ao léxico político actual, ao chamar filho da puta a um jornalista de cujo trabalho não é admirador. É a democracia oral em todo o seu esplendor e perante exemplos destes só não percebo porque é que há cada vez mais cidadãos a afastarem-se da política. No meu entender deveria passar-se exactamente o contrário.
Um presidente da câmara que fala como se estivesse entre pares do Facebook ou doutra rede social qualquer é aquilo a que se pode chamar um presidente do povo porque, como sabes, aquela rede social surgiu para colmatar o desaparecimento das antigas tascas das aldeias, embora sem aquele alegremente popular cheiro a peidos, a bedum e a arrotos de vinho azedo.
As tascas sempre foram locais formativos e informativos. Era lá, tal como agora nas redes sociais, que se ficava a saber toda a verdade e nada mais que a verdade, sobre tudo e mais alguma coisa. Ali havia sempre notícias frescas e fidedignas, por mais cediços que estivessem os carapaus fritos da semana anterior. Na minha modesta opinião, o presidente da Chamusca estaria lá como peixe na água mas não vale viver do passado porque ele está a cavalgadurar muito bem a moderna onda do presente, carago!
Com o recente anúncio da mudança do Centro de Distribuição Postal dos CTT, da Chamusca para Riachos, no concelho de Torres Novas, eu nem quero imaginar os saltos a pés juntos que ele vai dar em cima da gente que gere os Correios, através de comunicados, moções e postes colocados na estrada do Facebook.
Por falar em moções, que são assim uma coisa parecida com a Bomba Antónia de que falava o humorista Herman José, os eleitos da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira aprovaram uma em que apelam à câmara municipal para que termine todas as relações comerciais que tem com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), incluindo, presumo eu, o pagamento das prestações de empréstimos, na sequência daquele banco do povo ter anunciado o encerramento do balcão de Alhandra. Concordarás que se trata de uma posição bélica digna do homem da Coreia do Norte e até posso imaginar que a administração da Caixa se mijou toda pelas pernas abaixo quando soube.
Mudando de assunto. Eu tinha ficado com a ideia que a introdução de portagens na A23 e noutras SCUT (Simpática sigla que significa Sem Custos para o Utilizador), pelo governo da Troika, era uma daquelas alarvidades para reverter mas como o tempo passa e continuo a pagar, que remédio tive eu se não voltar a utilizar as estradas alternativas. Em boa hora o fiz porque estou cada vez mais encantado.
É verdade que passei a fazer percursos que fazia numa hora, em duas horas e meia ou mais. E percursos de duas horas em três horas e meia ou quatro. Mas é outra coisa, Serafim. Outra coisa. Vêem-se paisagens diferentes; dá-se uso à direcção do carro em dezenas de curvas e contracurvas e testam-se os travões, fazem-se alongamentos e mais alongamentos com o pescoço para ver quando é que há uma abébia para ultrapassar este ou aquele camião...enfim, reaprende-se a conduzir.
Como deixei de ouvir falar de uma animada Comissão de Utentes da A23 que buzinava alegremente pelo fim das portagens naquela via, deduzo que os seus elementos também se tenham rendido aos encantos das estradas nacionais. Ou então, com a reposição dos rendimentos pela geringonça, decidiram que lhes ficava mal continuarem a piripópar pelo fim das portagens. Às vezes os rebates de consciência acontecem...mesmo entre incorrigíveis contestatários!
Saudações lexicais
Manuel Serra d’Aire

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