Um senhor vizinho da minha mãe, bastante velhote, esteve uns dias internado no Hospital de Tomar e durante a sua estadia protagonizou uma pequena história que me transportou ao tempo em que os jornais tinham grande utilidade no nosso país. Tendo pedido para ir à casa de banho, surpreendeu quem o ajudou ao perguntar se não era possível fornecerem-lhe um jornal para ele ler enquanto fazia as suas necessidades.
Com recurso a um jornal que umas visitas tinham levado a outro doente, o pedido foi satisfeito mas a surpresa foi maior quando no final, de forma inesperada, ele rasgou uma página do jornal e limpou o rabo com ela. Isto que relato passou-se mesmo assim. Não estou a inventar e quem me contou não tinha motivos para me mentir.
Não lhe teria agradado o que viu? Teria sido o recordar dos tempos em que, efectivamente, em Portugal, os jornais velhos eram utilizados para aquilo mesmo ou para embrulhar peixe? Não sei responder mas posso garantir que, olhando para a maioria dos conteúdos dos jornais, tanto nacionais como regionais, que ainda têm edições em papel, compreendo muito bem o que o senhor fez.
José Júlio Natário Mendes