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Fogoso Manuel Serra D’Aire

Acabei de ler o teu último e-mail e não resisto a responder para te dar os parabéns por aquele brilhante naco de prosa. Sobretudo no que diz respeito à requalificação do célebre 14, a casa de meninas que tantas recordações deixou a muita malta que fez a tropa e o liceu em Santarém. Fazer da requalificação do 14 a nova obra do regime é um imperativo e é para isso que existem programas como o PROCOM. Isso sim, seria respeitar a tradição e memória dos nossos avós, ou, pelo menos, a dos meus, que para a borga eram gente que desafiava o maior galifão do Minho ao Algarve.Se os velhotes ainda fossem vivos, já teriam certamente escrito um livro de memórias ou mesmo um romance inspirado nas suas aventuras e desventuras, como os muitos que por agora aí se vão publicando. É um fartote inspirado Manel. São mais que as bostas de cão que se encontram pelas ruas das nossas cidades. Hoje, não há abécula que não se ponha a atirar letras para o papel. O que até compreendo, pois quando era mais novo também tinha a mania que era escritor e que escrevia umas merdas.Umas merdas, disse bem, pois quando agora olho para aquilo que escrevi dá-me vontade de pedir asilo ao Saddam ou clamar para que o exército russo traga o gás e me venha salvar. Mas felizmente tive o bom senso de nunca pedir a ninguém que me publicasse os rabiscos, nem sequer de ousar falar em tal coisa, mesmo que em voz baixa.Já a malta de agora não é de modas. Alinhavam três palavras sem dar um erro e já se considera um Nobel da literatura. Assim não admira que cada vez se leia menos em Portugal. Realmente, um gajo que não tenha o hábito de ler e que, como primeira experiência, leve uma estopada dessas pelos olhos adentro fica traumatizado para toda a vida e provavelmente nunca mais poderá ter filhos. E olha que não estou a exagerar. É que bastam duas páginas de certas obras para um gajo perder o apetite sexual irreversivelmente e passar pela Pamela Anderson sem a farejar. Manel, já me esquecia de te contar. Um dia destes fui apresentar queixa à polícia por assalto à mão armada. Uns tipos estranhos envergando aventais e com barretes na cabeça, munidos de travessas e bandejas, esfolaram-me o couro e o cabelo no Festival de Gastronomia. Ia eu convencido que os tais pratinhos de 5 euros não eram obra de ficção e quando me deparei com a realidade monstruosa das tabelas de preços ia vomitando o fígado. Parecia um sportinguista no final do jogo com o Gil Vicente...Não sei onde é que aquela gente vai buscar os tais produtos tradicionais com que fazem os pratos, mas os bois, porcos, galinhas e cabritos que preparam devem ter sido criados a caviar e champanhe. E que dizer da doçaria conventual? Antes, os conventos eram sinónimo de recolhimento, de castidade, de abstinência. Hoje os doces alegadamente inventados nesses locais violam-nos o orçamento de todas as maneiras e feitios e, mesmo tendo sido inventados em convento, não há Deus que nos acuda!Por último, um comentário para a Semana Taurina que se realizou em Santarém. Pelos vistos a coisa foi um sucesso e o restauro da tradição pura e dura vai no bom caminho. Daqui até à Idade da Pedra é apenas um pequeno passo! Sigamos em frente, porque coisa tão divertida como aquela só mesmo as praxes dos estudantes... Viva a tradição!Um olé do Serafim das Neves

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