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COLUMBOFILIA: Exposição Columbófila juntou em Pernes entusiastas do concelho de Santarém
Cerca de 100 exemplares dos melhores pombos do concelho de Santarém estiveram expostos no ginásio dos Bombeiros Voluntários de Pernes, durante a segunda edição da Exposição Columbófila do Concelho de Santarém, realizada no passado sábado. Em igual número estiveram os proprietários das aves e famílias que se juntaram na festa de atribuição dos prémios referentes ao campeonato. Uma manifestação de pujança e de grande entrega da columbofilia em Santarém em relação a aves que no passado serviram de mensageiros e que hoje são autênticos “atletas” de elite. No ginásio onde habitualmente treinam os soldados da paz do aquartelamento de Pernes estiveram expostos “atletas” não menos dotados para percorrer grandes distâncias e que no passado tiveram grande importância nas comunicações. Os pombos, tantas vezes impopulares junto dos estendais das donas de casa, foram o centro das atenções no passado fim de semana. Desde os voadores de velocidade (até 300 km), meio fundo (de 100 a 400 km) e fundo (mais de 500km) aos que concorreram na competição de beleza e morfologia. Na exposição avaliou-se cada pombo da cabeça aos pés, quer fosse pela sua impressão geral, pela ossatura, musculatura ou qualidade da plumagem, por exemplo. Aves capazes de percorrer muitas centenas de quilómetros quando largadas em Espanha ou nos extremos de Portugal e que regressam ao pombal, denotando uma grande resistência e capacidade de orientação.Os cerca de 20 proprietários presentes foram premiados com as anilhas de ouro e prata, as asas de ouro e outros troféus, correspondentes aos melhores exemplares da exposição e aos vencedores das diferentes provas do campeonato. O campeonato do concelho nasceu em 1999 e realiza-se entre as seis colectividades existentes. Centro de Desporto e Cultura do Verdelho, Sociedade Columbófila de Vale de Figueira, Grupo Columbófilo Scalabitano, grupo Columbófilo Pernense, União Columbófila do Vale de Santarém e Secção de Columbofilia da A.D. Cruz de Cristo da Póvoa da Isenta.Para Fróis Nunes, presidente do grupo Columbófilo Scalabitano e director da Associação Columbófila do Distrito de Santarém (ACDS) a realização de um campeonato do concelho de Santarém. Desde o início que a competição tem contado com uma verba da autarquia a rondar os 3500 euros que este ano foi reduzida a cerca de 2500 euros.Na (ACDS) há cerca de 90 columbófilos que irão ter oportunidade de mostrar brevemente os seus exemplares na Exposição Distrital da Meia Via e, em Janeiro de 2004, na Exposição Nacional e Olímpica no CNEMA.Carlos Mendes é natural do Verdelho e integra a colectividade columbófila local. Só tem pombos de competição, num total de cerca de 150 elementos, entre voadores e reprodutores.Em conversa com O MIRANTE, este columbófilo refere que sempre gostou de animais. “Comecei a ir ver chegadas de pombos e a gostar cada vez mais, até que comecei a participar. Tive pombos há 15 anos, parei e entretanto retomei esta modalidade com 18 anos”.Ganhador de vários prémios em velocidade e meio fundo, como atestava o facto de ir carregado de troféus para casa, diz que o sucesso está na dedicação a esta modalidade. “Em primeiro lugar há que ter espaço para um pombal e depois dispor de cerca de três horas por dia para treinar os pombos” refere Carlos Mendes, acrescentando ainda que conta com a preciosa ajuda da mulher.A actividade é dispendiosa devido às muitas doenças que aparecem e ao tratamento dos pombos com vitaminas, medicamentos e ração. Ao contrário de outros animais domésticos os pombos de Carlos Mendes não têm nomes, sendo apenas distinguidos pelo número de identidade. Mas um exemplar que lhe fica na retina é uma fêmea que ganhou a anilha de ouro de velocidade e da geral da colectividade, assim como uma asa de ouro. “Uma autêntica campeã” assegura.Os Valérios - dupla de sucessoAntónio Valério (pai) e Carlos Valério (filho) têm já uma grande história dedicada à columbofilia. Natural de Vale da Pinta, Cartaxo, António Valério recebeu um casal de pombos correios de um tio quando tinha apenas sete anos. A partir dali inscreveu-se como sócio do Grupo Columbófilo do Cartaxo e aos 27 anos começou a concorrer com as suas aves até agora, aos 74 anos. “Sou o sócio número quatro do Grupo Columbófilo de Santarém, desde que ali me inscrevi em 1957”, revela.Neste período ganhou vários torneios internacionais (Saragoça, Albacete, Vitória, Corunha, etc.), campeonatos de velocidade, meio fundo e fundo e foi 12.º lugar nas olimpíadas columbófilas, celebradas no Palácio de Cristal, no Porto.Pelas suas mãos passaram alguns dos melhores exemplares do concelho como “um pombo que durou 26 anos e que me garantiu a primeira anilha de ouro e outro (n.º 331300), de 1984, que talvez fosse o melhor pombo que passou pelo concelho de Santarém” recorda António Valério.Com tanto amor, dedicação a estas aves e com um pombal em casa foi natural que Carlos Valério revelasse bastante apetência por aquela actividade. Como o próprio nos referiu, “a primeira grande ligação aos pombos surgiu quando era novo e não deixei esmorecer a paixão do meu pai. Limpava os pombais, agarrava-os e comecei a ganhar o jeito”, relembrou.Em Vale da Pinta, António Valério tem um pombal com os pombos reprodutores enquanto em Santarém, perto da Escola Superior de Enfermagem, Carlos Valério encontrou as condições ideais para juntar cerca de 200 pombos. Cada um tem na anilha o número, o ano, a nacionalidade e o título, sendo tudo registado na Federação Portuguesa de Columbofilia.Carlos Valério diz que para quem gosta é tempo ganho aquele que se dedica aos pombos, mas tudo depende de quantidade que se tiver. “Se tiver 30 ou 40 pombos o columbófilo pode despender cerca de uma hora ou duas por dia. Se tiver que treinar dois ou três pombais não perde menos de três ou quatro horas diárias” descreve-nos, acrescentando de seguida que há pormenores como o da limpeza e alimentação que se pode reflectir nos concursos.Uma organização entre pai e filho que levou à formação da equipa de “Os Valérios”, integrada no Grupo Columbófilo Scalabitano. Uma dupla que tem ganho bastantes prémios, como aconteceu em Pernes com um campeão de Borrachos lilás, de raça Dordin (concurso de beleza) e com o melhor voador de fundo do concelho. Um pombo craque da raça Fabri e Goossen, que em sete provas de fundo somou cerca de 4600 quilómetros.Quanto ao futuro da modalidade na família, Carlos Valério mostra-se um pouco pessimista, já que entre os quatro filhos ninguém se mostra muito interessado. “é uma actividade aliciante porque uma pessoa está em casa muitas horas com a família” assegura.Columbofiliaem desenvolvimentoEm Portugal estão federados mais de 18 mil columbófilos, distribuídos por 766 clubes e por um total de cerca de 4,5 milhões de pombos recenceados. Números impressionantes e que fazem José Tereso, presidente da Federação Portuguesa de Columbofilia e vice-presidente da Federação Columbófila Internacional, encher-se de satisfação. “Continuamos há cinco olimpíadas consecutivas nos lugares cimeiros e temos tido classificações de grande relevo” refere o dirigente, apontando de seguida outro elogio realizado às instituição portuguesa. “Instalámos pombais nas escolas, em lares de terceira idade e centros de tratamentos de toxicodependentes, onde a columbofilia pode ajudar as pessoas a passarem o seu tempo de uma forma diferente” revelou.Acerca da columbofilia no concelho de Santarém, José Tereso considera ter sido uma ideia brilhante e um exemplo para outros concelhos o agrupamento de colectividades na realização de campeonatos concelhios. “É mais desportivo e congrega um conjunto de famílias num convívio. É um desporto salutar que cultiva a amizade e solidariedade entre as pessoas” salientou.

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