uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
As filas davam várias voltas na Repartição de Finanças de Santarém

Confusão nas finanças

Contribuintes esperaram pelo último dia para pagar dívidas ao fisco

Na sexta-feira a confusão instalou-se na repartição de finanças de Santarém. Centenas de contribuintes esperaram pelo último dia para pagar as dívidas ao fisco e aproveitar o perdão fiscal. Os quatro funcionários não tiveram mãos a medir para receber os processos. Muitos dos contribuintes não sabiam ao certo o que iam pagar e houve quem reclamasse por ter à sua frente funcionários de escritórios de contabilidade com dezenas de casos para regularizar.

Duas da tarde de sexta-feira. Na repartição de finanças de Santarém, na Rua Vasco da Gama, uma fila de pessoas com papéis na mão estende-se pelo corredor exterior do edifício. “O que vem fazer?”, pergunta bruscamente um funcionário da instituição que controla as entradas. “Já tenho senha. Sou o 225”, responde o contribuinte. “Então não vale a pena entrar. Ainda vai no 160 e é impossível lá estar dentro”, esclarece.“São malcriados! É a primeira vez que aqui venho e não sei como funciona”, queixa-se uma utente que acaba de sair das instalações. Veio de propósito de Lisboa para pagar 50 euros de custas de um prédio em Santarém. Prepara-se para enfrentar uma tarde de espera. Mas há quem tenha chegado antes das 9h00 e às 15h00 ainda aguarda por vez.É o caso de Carla Godinho, funcionária de um escritório de contabilidade de Alcanede. Só veio no último dia porque muitos clientes não tiveram possibilidade de fazer os pagamentos antes. Os funcionários de escritórios de contabilidade que levavam dezenas de processos para actualizar foram o grande alvo das críticas de alguns contribuintes que tinham apenas um imposto para pôr em dia.“Estou aqui desde as 9h45. Chegou aqui uma senhora com 56 processos e esteve a ser atendida das 12h00 às 14h30”, queixa-se Pedro Baptista, residente em Lisboa, que aguarda há já seis horas. Pedro Baptista ainda não sabe bem o que vem cá pagar. Garante que tem o IRS em dia, mas ligou para as finanças e disseram-lhe que “havia qualquer coisa em computador”.Uma senhora da fila ao lado junta-se à conversa. “Recebemos uma carta em casa a dizer que tínhamos que regularizar as dívidas, mas não sabemos ao certo o que viemos pagar. As pessoas só vêm porque estão com medo das multas”.António Plácido, 53 anos, mora em Óbidos e está há cinco horas à espera para pagar o imposto de uma propriedade no Secorio. Tem 73 pessoas à sua frente. “O problema é que vêm funcionários de gabinetes de contabilidade com muitos processos. As finanças deveriam ter um gabinete próprio para estes casos”, acrescenta o contribuinte que vem pagar 600 euros.“E têm um edifício às moscas. É a vergonha das vergonhas”, atira António Fernandes, 53 anos. Só faltam 10 números. “Mas você é à minha frente e tem tanta coisa”, comenta com uma senhora que abraça uma resma de papéis.À hora do almoço o funcionário atribui algumas senhas para que as pessoas não percam a vez. A partir da hora do almoço foram distribuídas 306 senhas. Na sala há quem aproveite para estudar o código ou ler o jornal. É impossível perceber qual o sentido das filas que dão várias voltas. Os que aguardam a vez para o IRC, misturam-se com os que esperam para pagar o IRS, IVA, execuções fiscais e contribuição autárquica.Os quatro funcionários e dois técnicos de apoio não têm mãos a medir para actualizar os processos. No interior das finanças uma funcionária atarefada abre uma das portas directas para a rua. Alguém quer saber uma informação. “Às 16h00 horas a repartição fecha as portas. A senhora teve muitos dias para vir cá. Não é no último dia que me vem pedir isso”, argumenta a funcionária.ULTIMATO MEDIÁTICOCom a greve dos trabalhadores tributários marcada para 30 de Dezembro (ver caixa) e a tolerância de ponto no dia 31, tudo indicava que sexta-feira seria o último dia útil para regularização das dívidas. Para muitos contribuintes o grande problema foi a greve. “O Governo disse que tínhamos 30 e 31 de Dezembro. Na segunda-feira é greve e na terça há tolerância de ponto. Roubam-nos logo dois dias”, simplifica uma empresária de restauração, que aguarda num dos últimos lugares.Há também quem critique a altura escolhida para a paralisação. “Nestes dias não deviam fazer greve”, afirma Joaquim Tomé, 30 anos, funcionário da Compal. Alexandrina Verde, 49 anos, ajudante de cozinha no Hotel Coríntia, que vem pagar a contribuição autárquica de 2001 concorda com a greve, mas é a favor do alargamento do prazo. “Se tivesse conhecimento da greve teria vindo mais cedo”, confessa, depois de três horas de espera.A maior parte dos contribuintes que quiseram aproveitar o perdão souberam do prazo para pagar as dívidas através da campanha publicitária do ministério das finanças. “Depois não diga que não o avisámos”, avisava em tom ameaçador o slogan publicitário.A falta de tempo e o esquecimento é quase sempre a desculpa para justificar o atraso no pagamento, mas há quem acuse a crise de ser responsável. “As pessoas só vieram pagar agora porque não tinham dinheiro”, assume Hermínio Alvo, um empresário de Almoster. “Todos guardaram para a última. À boa maneira portuguesa”, ouvia-se.Quando chega a hora de encerrar o expediente a fila continua longa lá fora. Mas para garantir o pagamento dos impostos está tudo previsto. Quem chegou até às 17h30 recebe uma senha e pode preencher uma “proposta de adesão”, com a identificação do contribuinte, que lhe permitirá pagar as dívidas sem juros. O Governo acabou por dar mais dois dias úteis e quem não conseguiu pagar até sexta-feira, acabou por poder fazê-lo até dia 3 de Janeiro.Ana Santiago
As filas davam várias voltas na Repartição de Finanças de Santarém

Mais Notícias

    A carregar...