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O silêncio das facas afiadas

Miguel Noras - Santarém

Não é preocupante o silêncio daquelas facas outrora sempre afiadas. O que terá de mudar, o mais tardar, nas próximas eleições autárquicas, é a política de valorização e de salvaguarda do património escalabitano. Virar costas à candidatura à UNESCO como fizeram os efémeros inquilinos minoritários da autarquia não pode significar a mutilação das hipóteses de Santarém continuar a ser respeitada como detentora de um “centro urbano antigo” de valia “excepcional e universal” (segundo os especialistas mais credenciados).

Quando alguém deve falar e fica calado, o silêncio é mais agressivo e, às vezes, mesmo ensurdecedor. A pergunta torna-se então inevitável: a pessoa (ou a entidade) que se deveria pronunciar ainda existe?Tudo isto vem a propósito do “centro histórico” de Santarém e de uma ONG (Organização Não Governamental) que chegou a funcionar na cidade.Longe parece estar o tempo em que ninguém podia “pôr o pé em ramo verde” no “território herdado da urbe escalabitana”. Existia (nessa altura), em Santarém, uma ONG vocacionada para as questões da salvaguarda e da valorização do património histórico-cultural.Como é óbvio, nem sempre as posições da mencionada ONG e da autarquia escalabitana foram (nem tinham de ser) coincidentes. Houve, mesmo, casos de autêntica fractura no plano conceptual. Todavia, a Câmara de Santarém acolheu (quase invariavelmente) as posições da dita organização não governamental, colocando (inclusive) os processos de obras do “centro histórico” ao seu dispor para prévia apreciação.Por sua vez, a “ONG para o património” evidenciou a sua imparcialidade não só através do conteúdo dos seus pareceres como da atribuição anual de prémios distinguindo as melhores intervenções no “centro histórico” — uma das mais emblemáticas recaiu sobre a “Casa do Brasil”.Relativamente a tudo quanto era polémico, a ONG chegou a ter voz e a ser escutada. Entre os seus membros mais “fundamentalistas” havia quem, de faca na liga, não perdesse a oportunidade de compor umas criticazinhas sobre todas as obras realizadas (tanto as polémicas como as consensuais). Foi assim com a intervenção no início da Calçada de Mem Ramires e com a obra junto ao Governo Civil (“antigo convento do Carmo”).Não é preocupante o silêncio daquelas facas outrora sempre afiadas. O que terá de mudar, o mais tardar, nas próximas eleições autárquicas, é a política de valorização e de salvaguarda do património escalabitano. Virar costas à candidatura à UNESCO como fizeram os efémeros inquilinos minoritários da autarquia não pode significar a mutilação das hipóteses de Santarém continuar a ser respeitada como detentora de um “centro urbano antigo” de valia “excepcional e universal” (segundo os especialistas mais credenciados). Poucos pesos doem mais às povoações do que a carga dos projectos, das potencialidades e dos sonhos que lhes querem destruir.A nossa cidade, contudo, é a mesma que se ergueu, há meia dúzia de décadas, para passar “guia de marcha” a uma Câmara pouco talhada para questões paisagísticas e patrimoniais (veja-se o exemplo da “Polémica do Jardim da Republica”). A época deste caso insólito coincidiu com o consulado de Salazar. Nem esta particularidade impediu que o vigoroso povo de Santarém pusesse na rua (antes do fim do mandato) quem assim “governava” o município. Tudo isto porque, afinal, é o povo que põe e é o povo que depõe. Neste último caso, quando mais lhe dói a carga dos sonhos desfeitos!Nota: um amigo, morador no “centro histórico” e responsável por diversas obras (de reabilitação) ali efectuadas, diz oferecer alvíssaras a quem encontrar vestígios recentes da “falecida ONG patrimonial”.Post Scriptum“Estória” de NatalUma segunda oportunidadeA regra dos corações grandes é praticar (entre outras) as virtudes humanas da generosidade, da confiança e da entreajuda. A nobreza de certos gestos tem tanto mais alcance humano e solidário quanto menor for a sua publicidade.Com efeito, aqueles que praticam o bem, ajudando desinteressadamente os outros, devem esquecê-lo. Pelo contrário, quem recebe um favor jamais deverá ignorá-lo — assim determinam o melhores costumes.De resto, poucas coisas mais tristes existirão, debaixo do sol, do que a ausência do carinho de uma segunda oportunidade.É por isso que, aqui, se sublinha o recrutamento (feito por um presidente) de alguém que, em 1996, tinha assaltado uma residência e cumpre, ainda hoje, escrupulosamente, a respectiva pena de prisão suspensa.Dificilmente haverá maior façanha do coração humano do que o acto de perdoar e conceder aos outros uma nova oportunidade. Nem que, às vezes, essa oportunidade seja tirada a quem nunca assaltou nada nesta vida, como foi o caso em apreço.Poucas obras serão mais perenes do que a reconstrução de um ser humano, embora a sociedade nem sempre saiba aplaudir acções pedagógicas e participativas com tamanho alcance espiritual e cívico.É por isso que, no brilho do menino renovado, fazemos uma prece para que esta chance seja aproveitada e se afastem os perigos de qualquer recaída ilícita. “A barba em Portugal”atingiu 70 euros“Não há fome que não dê em fartura” — assim se exprime o povo na sua ilimitada sabedoria.Este provérbio surge-nos a propósito da obra de Leite de Vasconcellos “A barba em Portugal”, publicada em 1925 e há muito desaparecida do mercado livreiro.Eu esperei cerca de 15 anos e, após inúmeros esforços que se revelaram improfícuos, consegui “a minha barba” por “cinco contos de réis”, em 1996.Agora, num ápice, surgiram quatro novos exemplares deste livro em dois alfarrabistas da capital, por 70 euros cada (cerca de 14 contos). Mesmo em tempos de austeridade, os bibliófilos chamaram-lhes um figo. Um figo ou, melhor, “uma barba”, por 14 “contos de réis”. Nada mau! E ainda andam os melhores profissionais do Ribatejo a fazer barbas por cinco euros cada. É caso para dizer que se trata de uma autêntica pechincha ou, então, de uma obra de benemerência nesta quadra do Natal e do Ano Novo.Santa CasaVale a pena ler (com a sua regular periodicidade) o boletim da Santa Casa da Misericórdia de Santarém. Número após número, enche-nos de mensagens cuja grandeza tem sido exemplarmente assinalada na excelente qualidade dos respectivos textos, sejam eles de Garcia Correia ou de Helena Stoffel, de Octávio Mendes ou de Francisco Ramalho, de Carlos Rodrigues, de João Moreira ou de Eusébio Jorge.A última edição desta obra está excepcionalmente enriquecida com um artigo de Carlos Rodrigues, cujo conteúdo (pela sua lucidez e pelo seu sentido de futuro) se revela insusceptível de recensão porque merece ser lido e relido letra a letra. É o que recomendamos. Sinceros parabéns ao autor.Temos directorRamalho Ribeiro (da Escola do Professor Vaz Portugal) é o novo director da Estação Zootécnica Nacional. Sou amigo, de longa data, do Professor Doutor João Manuel Ramalho Ribeiro. No entanto, nunca confundi amizades com parcialidades. E é em nome da imparcialidade (que sempre seguirei) que considero esta a melhor escolha do actual Governo para a liderança de uma instituição sediada no distrito. Fica, assim, tudo dito!Temos directoraIsabel Barros Dias ganhou as eleições para o Departamento de Língua e Cultura Portuguesas da Universidade Aberta, de Lisboa.Esta universidade celebrou (dia 20 de Dezembro) um protocolo com o Instituto Camões, visando (precisamente) a promoção do ensino da língua e da cultura portuguesas. A parceria agora estabelecida entre as duas prestigiadas instituições sucedeu-se à posse da nova directora daquele departamento. O Livro aberto felicita a Professora Doutora Isabel Maria Barros Dias, de Santarém, e augura-lhe reiterados sucessos literários e extra-literários. Santarém, 25 de Dezembro de 2002 (478º aniversário da morte (em Cochim) de Vasco da Gama, depois de investido nas funções de vice-rei da Índia. Recorde-se que Isabel de Sodré, mãe deste navegador, nasceu em Santarém (vide obra de José Manuel Garcia, investigador escalabitano, natural da “Ribeira”); 32º aniversário do achado do “relógio de Sol de Pedro Álvares Cabral”; e 20 º aniversário da primeira réplica (em prata) da “Beatrizinha” (a única moeda cunhada em Santarém).jmnoras@mail.telepac.pt

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