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O Presidente da República falou dos livros da sua infância que marcaram a sua vida

Os livros do presidente

Jorge Sampaio falou da importância da leitura na Vila da Marmeleira

A iniciativa da biblioteca chama-se “Os presidentes falam de livros”. O primeiro presidente a participar foi o que ainda está no activo: Jorge Sampaio. Na sexta-feira à noite, foi uma festa na freguesia da Marmeleira, Rio Maior. A Casa do Povo estava cheia que nem um ovo. O próximo presidente a visitar a vila é Ramalho Eanes, a 22 deste mês.

Jorge Sampaio já teve mais tempo para os seus livros. A agenda do Presidente da República é preenchida e a leitura é ocupada sobretudo com decretos e relatórios do Banco de Portugal.De vez em quando lê com ansiedade algumas obras marcantes, como aconteceu com “Baía dos Tigres”, de Pedro Rosa Mendes, um documento sobre a guerra civil de Angola que o impressionou. “Há livros que não podemos deixar de ler”, afirmou o Presidente da República durante uma conversa sobre livros na Casa do Povo da Vila da Marmeleira, Rio Maior, que encheu para ouvir Jorge Sampaio. A convite da Biblioteca Popular da Vila da Marmeleira, o presidente contou as histórias dos seus livros.“Guerra e Paz”, de Tolstoi e “Crime e Castigo”, de Dostoiévski, são grandes obras da literatura mundial que Jorge Sampaio folheou atentamente. Jorge Sampaio sempre viveu no meio dos livros. Antes ainda de saber ler observava os outros a ler. Começou a perceber que era importante ouvir as histórias que a avó lhe contava sobre os livros que estava ler. “Tive alguma sorte. O ambiente familiar foi bom para os livros”.Aos oito anos mudou-se para os Estados Unidos, onde o pai foi tirar um mestrado. Teve o primeiro contacto com a rádio por causa das histórias do cavaleiro de máscara e fato preto. Na escola teve que escrever histórias para ler em voz alta em frente à turma. Já na altura era impelido a fazer discursos.Os jornais de Banda Desenhada, como o Cavaleiro Andante, o Mosquito e o Pim Pam Pum, as aventuras de Sandokan, a volta ao mundo de Júlio Verne e Os Três Mosqueteiros foram livros que marcaram a juventude do presidente. “Hoje são só botões. Não podemos pôr os computadores e os botões contra os livros. É preciso ligar às máquinas e aos livros”.Para Jorge Sampaio é importante que os avós passem mais tempo com os netos, que contem histórias e experiências e que leiam juntos Banda Desenhada. Os professores também são determinantes para aguçar o gosto pela leitura. Jorge Sampaio foi aluno de José Hermano Saraiva aos 16 anos. “Nas aulas toda a gente escutava atentamente as histórias. Os professores marcam-nos e são decisivos”.Jorge Sampaio admite que é difícil fazer a revisão curricular. Só descobriu verdadeiramente Camões depois do ensino secundário, tal como a complexa obra “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett. “Andávamos a ler sem perceber o que era o Frei Luís de Sousa. Tínhamos que ler em voz alta nas aulas e alguns faziam voz de falsete”, recordou o presidente da República provocando o riso na plateia."Aparição” de Vergílio Ferreira é um desses livros que só se percebe com muita sensibilidade. “Os currículos dependem da maneira de quem os dá”, salienta o presidente.Jorge Sampaio recorda a cadeira de organização política e administrativa da nação, que teve no tempo da ditadura, que estava a ser leccionada por um professor de história de arte. De comum acordo alunos e professores substituíram o teor da disciplina por temas ligados à arte. E ainda hoje recorda o que aprendeu.O presidente também já leu as obras dos grandes escritores portugueses como Eça de Queirós. Através de livros como “O Crime do Padre Amaro” e “Os Maias” descobriu “a sociedade causticada” por esse grande escritor. "O Diário" de Miguel Torga é outro dos livros que vale a pena percorrer da primeira à última página e que retracta a sua difícil relação com a vida, tal como “Bichos”, também da sua autoria. Jorge Sampaio não falou só de livros. Falou do teatro, do cinema, da poesia e de todas as artes que estão relacionadas com o livro. “Um filme que se baseou num livro pode levar-nos a interessar pela obra literária”, exemplifica.O presidente que frequenta todas as semanas o teatro lembra a importância da leitura mesmo nas peças de teatro. Recorda uma cena de uma peça com Vasco Santana, em que valeu ao actor o poder de improviso e os conhecimentos dos livros.Jorge Sampaio não consegue eleger o livro da sua vida. Considera que em cada uma das fazes da vida se elege um livro. Não põe de parte os romances policiais. “Se não tivermos leitura, cultura, música, referências, então não se tem o Portugal que é preciso”.Ana SantiagoLeitores assíduos da bibliotecaAntónio Abreu, 82 anos, natural de Arruda dos Pisões, Rio Maior, é o mais assíduo utente da Biblioteca Popular da Vila da Marmeleira da sua faixa etária.Compareceu ao encontro com o presidente da República, que entregou o prémio de assiduidade, orgulhosamente acompanhado pela neta. António Abreu explica que aproveita quando está em casa do filho na Vila da Marmeleira para requisitar os livros. “A idade é muita. Já não sou capaz de andar e aproveito para ler”.O ritmo de leitura de António Abreu é de quatro ou cinco por semana. Não precisa de óculos e gosta de ler em voz alta. “Só não leio em voz alta quando incomodo alguém”, garante.A lista de obras lidas já é longa. Conhece os grandes marcos da literatura, como o “Amor de Perdição”, “Os Maias”, “O Primo Basílio” e “Os Lusíadas”. “São todos bonitos”, descreve.António Abreu toda a vida trabalhou na agricultura. É oriundo de uma família simples e não teve oportunidade de estudar. Completou apenas o segundo ano. Mas o gosto pela leitura ficou. Já leu a Bíblia duas vezes. Tal como Rui Guerra, o mais jovem leitor premiado, com apenas cinco anos, Rita Camará, 15 anos, também recebeu das mãos de Jorge Sampaio um diploma que a fará ainda ter mais vontade de ler. A futura psicóloga descobriu a biblioteca antes mesmo de ser criada e também colabora como voluntária. Requisita sobretudo livros sobre a adolescência e romances. “O mundo de Sofia” foi um dos últimos livros que leu. Depois de ouvir Jorge Sampaio o próximo que irá folhear será “Os Maias”, de Eça Queirós.
O Presidente da República falou dos livros da sua infância que marcaram a sua vida

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