As queixas que ninguém ouve
Presidente da Junta de São Salvador desagradado com actuação da Câmara de Santarém
A Junta de Freguesia de S. Salvador, cidade de Santarém, acusa o executivo municipal de não dar a atenção devida a questões graves que lhe têm sido colocadas. Entre elas a do perigo para a segurança dos cidadãos que constitui um prédio embargado há dois anos na rua 15 de Março, cuja vedação foi totalmente derrubada. O imóvel tem a cave cheia de água e os outros andares servem de refúgio a toxicodependentes, perante a indiferença das autoridades.
A Junta de Freguesia de São Salvador, em Santarém, tem recebido “dezenas de queixas” de moradores da Rua 15 de Março referentes a situações que se estão a viver nessa artéria do centro histórico e que se prendem com um imóvel inacabado, habitualmente frequentado por pessoas associadas ao mundo da toxicodependência.Em conferência de imprensa realizada na manhã desta terça-feira, o presidente da Junta de São Salvador, Sebastião Morgado Ribeiro (PSD), garantiu que já deu conhecimento do assunto à Câmara de Santarém, através de vários ofícios, mas que até à data não recebeu qualquer resposta. “O prédio é um perigo para toda a gente que ali passa, porque tem um lago na cave e é um abrigo de toxicodependentes”, sustenta.A construção do prédio em causa foi embargada ainda no anterior mandato, já lá vão mais de dois anos, devido ao incumprimento de alguns aspectos do projecto, e entretanto a empresa construtora faliu. A partir daí gerou-se um impasse que se vem mantendo até à data, com o edifício a ser utilizado para actividades marginais.Numa das várias vezes em que O MIRANTE abordou o tema nos últimos tempos, técnicos da câmara afirmaram-nos que havia a possibilidade de se desbloquear a situação, dando a entender que poderia haver interesse de uma empresa construtora em prosseguir com a obra. Mas até à data nada se verificou.Acresce que a cave do prédio encontra-se transformada num lago com mais de dois metros de altura, alimentado pelas nascentes existentes na zona. O risco de se poder registar ali alguma tragédia humana é real, até porque as vedações colocadas em torno do imóvel se encontram derrubadas nalguns pontos e por vezes o local é frequentado por crianças.Morgado Ribeiro criticou ainda a forma como tem sido tratado outro ponto negro da sua freguesia, referente a uma antiga residencial situada no Alto do Bexiga e que é também um local associado à toxicodependência e à prostituição. As queixas continuam a avolumar-se por parte de alguns moradores desagradados com o clima de insegurança que se vive na zona e o autarca refere que apesar das informações que já pediu sobre o assunto não obteve quaisquer esclarecimentos.A situação já foi denunciada nas páginas de O MIRANTE em Setembro passado, tendo na altura o vereador do pelouro, Manuel Afonso (PS), afirmado que iria contactar o banco proprietário do imóvel abandonado para que mandasse emparedar as entradas. Só que os resultados desses contactos foram nulos e o autarca de São Salvador defende que, perante essa realidade, deve ser a câmara a proceder à selagem do edifício, enviando posteriormente a factura ao banco.“Com 20 ou 30 contos a câmara empareda tudo com tijolo. Será que a câmara fica mais pobre com isso? Ou está à espera que o banco o faça?”, questiona Morgado Ribeiro, que se mostra disposto a contactar o banco ou mesmo a avançar com um processo judicial se o assunto não for rapidamente resolvido.PS ACUSADO DE “BAIXA POLÍTICA”As críticas de Morgado Ribeiro surgiram numa conferência de imprensa marcada pela concelhia do PSD de Santarém. O encontro com os jornalistas funcionou também como reacção a um comunicado elaborado por autarcas do PS de São Salvador, distribuído pelas caixas de correio da freguesia no fim da semana passado. Nesse texto acusava-se o presidente da Junta de, ao votar contra o plano e o orçamento da câmara para 2003, entretanto aprovados na assembleia municipal, estar a colocar em causa o desenvolvimento da sua freguesia.Os eleitos socialistas decidiram “repudiar publicamente esse voto e denunciar junto da população os investimentos na freguesia previstos no orçamento para 2003 que mereceram o voto contra do presidente” da junta, conforme se lê no comunicado.Na resposta, o presidente da concelhia de Santarém do PSD considera “calunioso e deplorável” o comunicado do PS, revelando que a comissão política “laranja” aprovou uma “moção de repúdio e indignação” face ao teor desse texto, que diz tratar-se de “um rol de mentiras”. Ramiro Matos afirmou a solidariedade da concelhia do PSD para com o visado e classificou mesmo a atitude dos autarcas do PS como “baixa política”.Os vereadores do PSD Hélia Félix e José Andrade também marcaram presença e secundaram as intervenções de Ramiro Matos e de Morgado Ribeiro, tendo este afirmado que o seu voto na assembleia municipal não foi contra as obras na freguesia – “pelas quais sempre me bati” – mas sim “contra um orçamento despesista e falho de estratégia”.
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