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Contundente Manuel Serra D’Aire

Ando preocupadíssimo com a minha reputação e até já pensei em entregar-me à polícia judiciária. É que, tal como o Michael Jackson, também eu já dormi com crianças. E isso, hoje em dia, é o cabo dos trabalhos. É verdade que tudo não passou de umas inocentes sestas com os meus filhos, de algumas noites em acampamentos de escuteiros com os meus colegas de patrulha quando era puto e de algumas noitadas, essas sim bem vividas, com amigas do liceu que ainda não tinham 18 anos mas que já pesavam bem mais do que uma botija de gás. Manel, achas que poderei ser acusado de pedofilia e, de um momento para o outro, tornar-me em estrela de televisão e em tema de abertura de noticiários? E se isso acontecer quem é que vai escrever estas crónicas? Será que na PJ me deixariam comunicar com o exterior? Será que ali estaria a salvo das desastrosas exibições do Sporting, da guerra do Iraque, dos disparates do Governo e da melga do Vale e Azevedo? É neste mundo de incertezas, nesta angústia existencial, que tenho vivido os últimos dias. Portugal tornou-se de repente numa espelunca ainda mais mal frequentada, onde já ninguém acredita em ninguém. Eu próprio, homem crente como poucos, tenho dúvidas que exista mesmo um país assim. Deus, ente que representa a bondade suprema e criador do Céu e da Terra, não iria inventar uma choça destas, sob pena de ser processado ou mesmo de se sujeitar a que os espanhóis lhe pedissem o livro de reclamações para protestar pelo que lhes calhou ao lado.Para te dar um exemplo de que este país está perdido basta ver o que se passou recentemente. Santarém foi galardoada com o prémio nacional Cidade Limpa 2001. Só podem estar a gozar com a cara de quem lá vive e de quem lá passa. Se há cidade onde abunda a bosta de cão pelas ruas, lixo acumulado junto aos contentores e papelada espalhada por tudo o que é sítio é ali. Não me venham com tretas! Os membros do júri nunca lá devem ter ido e para castigo deviam ser obrigados a passar o resto da vida de vassoura na mão a limpar as ruas da cidade.E que dizer das crónicas plagiadas da notável Clara Pinto Correia, que a Visão pôs a andar depois de descobrir que grandes partes de alguns textos eram copiadas de artigos saídos em revistas norte-americanas? Pois é imarcescível Manel, neste país nem tudo o que parece é. Nem tudo o que luz é ouro.Se de cima vêm exemplos destes, o que é que um gajo há-de esperar da arraia-miúda? Que não fuja aos impostos? Que não veja o Bombástico e outras javardices do género? Que não torça pelo Benfica? Que não eleja autarcas que são a vergonha do povo que representam? Isso, obviamente, seria o mesmo que me pedirem para falar sem dizer asneiras, ou solicitarem-me para passar uma noite com a Linda Reis. Abrenúncio!!!Implacável Serra d’Aire, já chega de chafurdar na lama e por isso vou-me pôr a andar. Tenho que preparar os capotes e as bandarilhas porque vai haver a Feira do Toiro em Santarém e eu não quero perder pitada. Como sabes, cultura é comigo. Correndo o risco de ser acusado de plágio, pergunto: se tourada não é cultura, então o que é que é? Os pincéis do Saramago? As estopadas do Manoel de Oliveira? As soporíferas músicas dos Madredeus?Um salamaleque original do Serafim das Neves

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