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“Faenas” de Inverno

Aurélio Lopes

Surpreendemo-nos muitas vezes, pela natureza caricata de certas acções e opiniões com que deparamos. Acções de certas personagens (doutas personagens), que nos governam e representam politicamente. Poder-nos-emos até interrogar, nalguns casos, como é possível que certas personalidades (supostamente cultas e respeitáveis) possam dizer ou fazer certas coisas!

Num Ribatejo impregnado de vivências taurinas, não admira que os seus dirigentes manifestem, muitas vezes, peculiares desempenhos que mais parecem “faenas”: mais ou menos brilhantes e reluzentes por fora mas de conteúdo essencialmente anacrónico. Algumas vezes temerárias, proporcionando farta colheita de “orelhas e rabos”, outras temerosas, provocando inclusive graves “colhidas” donde saem, até, algo titubeantes, mas todas deixando no cidadão comum o travo subtil do paradoxo.No Inverno que vai passando justifica-se, de algum modo, um olhar retrospectivo sobre o programa da temporada. Um olhar de soslaio, concerteza, mas que permite vislumbrar, aqui e ali, os pontos altos das “lides” invernais.1 – A liderança do processo de construção da Comunidade Urbana do Médio Tejo está a gerar vasta polémica. O presidente da Câmara Municipal do Entroncamento exige igualdade entre todas as autarquias participantes. António Rodrigues de Torres Novas, pelo contrário, exige maior peso dos maiores municípios.Na verdade Rodrigues não deixa de aceitar, como pressuposto, a igualdade entre as autarquias. Nem a sua costela socialista (embora flutuante) aceitaria o contrário.Só que considera que uns são mais iguais que outros! Que são todos brancos, mas há uns que são mais claros! Que são todos filhos de Deus, mas que alguns,… são bastardos!2 – Jaime Ramos, presidente da Câmara do Entroncamento revelou recentemente numa entrevista a O MIRANTE (realçando alegoricamente a sua prudência nas intervenções públicas) que, calcule-se: “antes de falar conta sempre até vinte!”E nós a julgar que era mesmo atraso de desenvolvimento!3 – Questionado sobre a sua relação com a nossa Região, Miguel Relvas, Secretário de Estado das Autarquias, enfatiza a propósito: “não me esqueci que sou uma pessoa do Distrito de Santarém”.Diz o povo, que quem precisa de apregoar publicamente evidências, é porque, no fundo, no fundo,... tem lá as suas dúvidas!4 – Em reunião do executivo o Presidente da Câmara de Santarém, surpreendeu tudo e todos quando, esboçando um sorriso beatífico e esticando prazenteiramente os suspensórios, declarou solenemente que pretende Santarém como Capital Nacional da Cultura em 2005!Como diria Garrett, conhecem-se os grandes homens nas grandes ocasiões!É assim mesmo! Atire-lhes já com a Feira do Touro. De seguida com a Federação de Escolas de Toureio. E já agora, com o próximo Encontro Internacional de Cidades Taurinas. Cul’turra é connosco! Ora essa!!5 – Um vereador do Partido Socialista da Chamusca ficou fulo com o Presidente Carrinho por este o ter desautorizado devolvendo o dinheiro cobrado a um vendedor do mercado.Enquanto o presidente da Câmara de Almeirim é alvo das maiores críticas por apertar o cerco às finanças dos munícipes, na Chamusca o seu congénere é, paradoxalmente, atacado por ser excessivamente altruísta. Vá lá perceber-se isto!Deixe lá amigo Sérgio, os grandes beneméritos foram quase sempre uns incompreendidos. Veja-se o caso da Rainha Santa Isabel!6 – Albino Maria tomou posse como Director do Complexo Desportivo do Jamor.Pois é!! Gradualmente os “boys” laranjas vão, naturalmente, ocupando os “jobs” que, desde o início da “era dos chernes” lhe foram destinados. 7 – A famosa casa da Joaninha no Vale de Santarém tem sido, há décadas, alvo de diversas tentativas para a sua recuperação. No entanto, Câmara e herdeiros têm mostrado tudo, menos empenho, no processo. Curiosamente, agora, todas estas questões parecem resolvidas num ápice mostrando os mesmos, surpreendentemente, a maior das aberturas!É claro que a necessidade dos tais herdeiros verem aprovada uma urbanizaçãozinha num terreno contíguo, de especial propensão agrícola, localizado na principal linha de água da freguesia e, até agora, fora do Plano de Urbanização da mesma é, obviamente, mera coincidência.8 – Ainda Miguel Relvas defendendo que os presidentes de câmara deveriam ganhar mais porque “gerem muitos milhões” e até porque cada euro gasto por uma autarquia é bem mais eficaz que pela Administração Central.E, é claro, o Secretário de Estado que gere a gestão dos tais milhões deveria ganhar ainda muito mais! E, a propósito, já pensaram (face ao reconhecido défice de eficácia na aplicação dos dinheiros públicos) em retirar pura e simplesmente as competências económicas ao governo? Ou, melhor ainda (e, atendendo à situação de crise que vivemos e à necessidade urgente de restringir a despesa pública), não se pode,.. sei lá…exterminá-lo?!9 - Indignado com o que considera uma inconcebível discriminação o deputado do CDS/PP Herculano Gonçaves, questiona o Ministro da Cultura sobre o uso de “picadeiros” nas corridas de touros, argumentando que os mesmos são “aí tradicionais”.Não se percebe bem porque anda tanta gente preocupada com os maus tratos familiares, o trabalho infantil, o alcoolismo ou o abuso de menores, práticas e costumes, como se sabe, claramente tradicionais entre nós.10 – Na impossibilidade legal de criar uma “Comissão Municipal de Turismo” (por estar englobada na área de uma Região de Turismo) a Câmara Municipal de Torres Novas resolveu o problema de uma penada e, com a simplicidade das coisas geniais, mudou pura e simplesmente o nome para “Conselho Municipal de Turismo”.Como dizia Aristóteles (e se não dizia, deveria dizer), o que é a lei senão um estimulante desafio à criatividade de a subverter?!Enfim! E assim se faz (leia-se desfaz) o Ribatejo!Surpreendemo-nos muitas vezes, pela natureza caricata de certas acções e opiniões com que deparamos. Acções de certas personagens (doutas personagens), que nos governam e representam politicamente. Poder-nos-emos até interrogar, nalguns casos, como é possível que certas personalidades (supostamente cultas e respeitáveis) possam dizer ou fazer certas coisas!Existe porém, assinale-se, uma substancial diferença entre culto e inteligente. E, aliás, por paradoxal que possa parecer, a erudição pode até coexistir com a ignorância; como que numa singular simbiose de contrários. Como aquele intelectual prestigiado que era tão culto que sabia dizer cavalo em doze línguas e, tão ignorante, que comprou uma vaca para montar!

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