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Moldar o barro

Inês Mittermayer Rocha, ceramista no “Mercado do Turismo”, no Cartaxo

O Mercado do Turismo, no edifício da praça, no Cartaxo, é o atelier e loja de Inês Mittermayer Rocha. A escultura em barro e a pintura de faianças e azulejos ocupam a ceramista, que transforma os pequenos quadrados utilizados para revestir paredes, em quadros coloridos e originais com personagens imaginárias. Em barro molda também peças únicas. Figuras femininas e motivos africanos que tomam depois consistência no forno, por onde passam todos os seus trabalhos.

Numa das lojas do edifício do mercado, frente à Praça de Touros, no Cartaxo, funciona o atelier da ceramista Inês Mittermayer Rocha, 39 anos. É o “Mercado do Turismo”.Lá dentro, coloridos azulejos pintados à mão enfeitam as paredes da loja. As prateleiras enchem-se de figuras femininas em barro esculpidas e pintadas pela artesã.São figuras originais, imaginadas por Inês Rocha, que tomam depois consistência no interior do forno, por onde passam todas as suas peças.A mulher e os motivos africanos são os temas explorados pela ceramista, que ficou sempre marcada por Moçambique, a terra que a viu nascer. A capacidade de criar é o que mais lhe agrada na profissão. “Todo o trabalho em barro é a parte mais criativa”, descreve a ceramista.Inês Rocha também se ocupa da pintura de faianças e de azulejos. Os motivos infantis são os mais frequentes nos azulejos. Em tons alegres desenha personagens imaginárias que flutuam sobre o arco íris ou um céu estrelado. A ceramista acaba de desenhar um traço amarelo, da cor do espectro solar. É assim que começa a dar vida a um simples azulejo. Depois de pintada a peça vai ao forno. Lá dentro as cores transformam-se e ganham tons únicos. Alguns azulejos são pintados por encomenda. Já chegou a fazer uma recolha fotográfica com paisagens do Cartaxo e organizou uma exposição na cidade só com azulejos em tons de azul e branco. Tem também painéis que evocam recantos da região.Nos últimos dias Inês tem preparado os trabalhos que irá levar para a sua próxima exposição na Figueira da Foz.Na sua actividade a ceramista utiliza o barro, tintas de alto forro e o forno onde coze as suas peças. No atelier do mercado tem, ao lado da mesa, um forno pequeno, que coze a mil graus e tem capacidade para 12 azulejos. Em casa o forno suporta 100 azulejos.Cada peça em barro seca muito lentamente e é cozida duas vezes. “Leva mais tempo e há maior risco de partir no forno”, lembra. Uma peça pode estar um mês a secar no Inverno. O azulejo exige menos tempo e tem menos riscos que o barro.As peças com mais saída são as imagens de Santo António e os trabalhos para crianças. A ceramista dedica-se também à pintura de linhas de cozinha e de casa de banho. As peças mais caras são únicas, aquelas “que nunca volta a repetir”. Na Lapa, uma freguesia do concelho do Cartaxo, que escolheu para viver pela tranquilidade, também já tem a sua marca. Em frente à “Taberna do Alfaiate” vislumbra-se um painel de azulejos da sua autoria. O tipo de trabalho mais repetitivo é o que menos agrada à ceramista. É o caso dos brindes publicitários e azulejos em miniatura para casamentos. As horas de trabalho variam e dependem do tipo de trabalho. Uma placa recortada que a artista criou para um hotel de Cascais levou-lhe cerca de 40 horas.Para que o negócio seja rentável é preciso “trabalhar muito, ter muita força de vontade e imaginação”. Os fins de semana quase não existem e as férias só são gozadas de dois em dois anos. E nunca no Verão. A época quente é a época alta para o artesanato, que vende muito nas feiras.O horário de trabalho varia com a sua disponibilidade. No Mercado do Turismo, um espaço cedido por amigos, onde estão peças de outros artesãos, trabalha das 10h00 às 14h00. É durante a manhã que gosta de trabalhar. “Por causa da luz e porque estou fresca. Está a começar o dia”.A maior dificuldade que a ceramista sentiu no início da sua actividade foi fazer os primeiros contactos. Começou por vender para lojas até arranjar uma carteira de clientes. Agora a sua forma de promoção é a loja, onde o cliente pode acompanhar o trabalho da ceramista. “As pessoas interessam-se pelo processo de fabrico das peças”, garante.Inês Rocha frequentou o curso de cerâmica na Escola António Arroio, em Lisboa, em 1982. Antes de se dedicar à cerâmica a tempo inteiro passou pelo ensino oficial e trabalhou com miúdos de rua. “Foi uma experiência gratificante”, garante.Há sete anos começou a não ter tempo para tudo. Decidiu escolher a arte. Um dos seus próximos projectos é criar no atelier uma pequena escola de pintura de azulejo para crianças, que deverá começar já em Maio.Ana Santiago

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