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O arquitecto de interiores

O arquitecto de interiores

Francisco Serafim mora no Vale de Santarém e trabalha em Londres

Francisco Serafim tem, à primeira vista, uma vida bastante "turbulenta" mas, como ele próprio confirma, ela agora é bem mais calma do que há uns tempos atrás, quando morava a poucos quilómetros do emprego. Hoje trabalha apenas quatro dias por semana e não perde horas dentro do carro, mas ganha-as no céu – é que o seu meio de transporte é o avião, já que o arquitecto de interiores mora no Vale de Santarém e trabalha em Londres.

Mora no vale de Santarém e trabalha em Londres. Sai de casa na segunda-feira à tarde e regressa na quinta à noite, para o fim de semana com a família. Aproveita todos os bocadinhos, desde a espera do avião, no aeroporto, à própria viagem, para avançar com alguns trabalhos que tem em mãos. Já na capital inglesa sai do aeroporto directo para a firma onde trabalha e à noite viaja até casa dos pais, na zona sul de Londres. É este, em traços largos, o dia a dia de Francisco Serafim, designer de interiores.Francisco Serafim nasceu em Londres há 35 anos mas fala português quase sem sotaque, tudo porque em casa dos pais sempre se falou a língua de Camões, apesar de morarem a uma distância considerável de Portugal. Quando decidiu ingressar na faculdade Francisco escolheu o curso de retail designer – o equivalente em Portugal a arquitecto de interiores. Apesar desta especialização Francisco esteve muitos anos sem exercer a actividade, já que quando acabou o curso – princípios da década de 90 - Londres atravessava uma má época em termos económicos. Durante seis anos trabalhou na Selfridges, uma das maiores e mais famosas cadeias de retalho inglesas. Na altura era responsável pela secção de perfumaria – a maior do mundo - onde geria 35 pessoas.Por uma coincidência entrou há cinco anos para a Groundcrew, uma empresa de publicidade, marketing e design de interiores que estava então a ser lançada. A partir daí não mais parou, fazendo o design de interiores de lojas de marcas mundialmente famosas como a Versage, Dolce & Gabana, Moschino, La Perla, Burberrys, Chivenchy ou Guerlain.Francisco tanto faz um design definitivo do interior de uma loja – “que nunca é definitivo porque de tempos a tempos é alterado” – como concebe um design temporário, para promoção de um perfume ou de um cosmético, por exemplo, durante umas semanas. Numa primeira reunião o cliente esclarece qual é o tamanho do espaço, o dinheiro disponível para gastar e pede a Francisco uma ideia, um esboço ou um desenho para depois lhes mostrar. “O primeiro passo é ir ao local tirar as medidas e falar com os empregados”.Regressa à empresa, faz um primeiro esboço que apresenta depois aos clientes e, posteriormente, à loja ou estabelecimento. Fala depois com os empreiteiros que trabalham para a sua firma, pede orçamentos, passa dias na oficina deles a explicar-lhes como quer que o trabalho seja feito. “Acompanho sempre o projecto de início ao fim, porque sou responsável por ele".Há clientes que estão sempre a mudar o design. Como por exemplo grande parte dos aeroportos ingleses – “nos aeroportos as regras estão sempre a mudar e agora com este problema da guerra temos de criar certos espaços específicos, para criar maior segurança, e eu é que tenho de organizar isso”.Nunca teve reclamações de um trabalho que tenha feito, embora admita que já aconteceu uma peça do mobiliário cair porque não ficou bem colocada ou uma cor sair um pouco diferente do que tinha idealizado. “Mas é muito raro isso suceder e quando isso acontece telefono logo para os responsável e digo que tudo tem de ser resolvido em 24 horas”.Prefere executar arquitectura de interiores em lojas e outros estabelecimentos públicos do que em casas particulares. “Sou uma pessoa que gosto de lojas, adoro entrar nos estabelecimentos, apreciar, ver como a arquitectura está feita. Além disso sou muito materialista, gosto de comprar”.E Francisco não tem problemas em ter uma ou várias peças das mais famosas marcas de vestuário e perfumaria, por exemplo. É que geralmente as empresas para quem trabalha oferecem-lhe sempre presentes no Natal ou quando acaba a obra, como reconhecimento do trabalho feito.Adora o que faz e diz que, ao contrário do que se possa imaginar, tinha uma vida mais stressante quando morava e trabalhava em Londres. “A maioria das vezes saía de casa logo pela manhã e chegava já noite dentro”, afiança, adiantando que agora faz muito trabalho nos aeroportos, enquanto espera a hora do voo, e mesmo durante as viagens. “A única coisa que não gosto é de passar duas ou três noites longe da minha mulher e da minha filha”, diz.Foi exactamente por causa da filha de sete anos – que tem um problema de pele e várias alergias – que Francisco decidiu vir viver para o Vale de Santarém, terra dos sogros, e diz não estar nada arrependido. “O clima é óptimo, a comida portuguesa do melhor e, mais importante que tudo, o problema da minha filha melhorou bastante”.Francisco Serafim é já um nome conceituado na área de arquitectura de interiores em Inglaterra, mas não pensa reformar-se lá. O seu sonho é trabalhar nos cenários das televisões nacionais. Porque os portugueses já demonstraram ter um grande potencial criativo. Margarida Cabeleira
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