uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Um astrólogo disse-lhe que ia ganhar as eleições

Silvino Sequeira, presidente da Câmara de Rio Maior

Sportinguista, devorador de livros e jornais, exímio contador de anedotas. Silvino Sequeira, presidente da câmara de Rio Maior, traça o seu retrato em três palavras e um sorriso: “baixinho, gordo e de bigode”. Quando abandonar a política quer voltar a ter vida privada e “tempo para o Silvino”, mesmo que para isso seja necessário mudar-se para um lugar onde ninguém o conheça.

“Baixinho, gordo e de bigode”. É assim que se define o bem humorado presidente da Câmara de Rio Maior, Silvino Sequeira, 54 anos. O bigode é aliás a sua principal imagem de marca, ao ponto de a própria família não admitir que algum dia o venha a rapar. Mas o que nem toda a gente sabe é que começou a deixar crescer os pêlos por cima do lábio devido a uma infecção num dente. Era então um jovem e não sonhava sequer vir a ser presidente da autarquia. Filho do dono de um café no centro de Rio Maior, Silvino Sequeira sente-se um homem feliz pela infância que teve. Tem pena que hoje os cafés já não sejam os espaços de convívio que eram no tempo em que andava na escola. “As pessoas conversavam mais. Costumava ficar a ouvir as conversas dos mais velhos e isso deu-me muitos conhecimentos que marcaram a minha maneira de ser”, lembra. Foi também no café que ganhou duas paixões. A paixão pela leitura e a paixão pelo Sporting. “O meu pai já era adepto do clube e acabei por seguir essa preferência, até porque nas discussões sobre o futebol muitas vezes saía em defesa das suas opiniões”. Quanto à leitura, sente que foi uma criança privilegiada, uma vez que no estabelecimento tinha acesso a todos os jornais diários que devorava de fio a pavio, sobretudo o Diário de Notícias e O Século. “Isso deu-me, pelo menos, uma formação sobre actualidade”. Apesar de ser conhecido como um adepto ferrenho do clube verde e branco, Silvino Sequeira diz que essa é uma ideia errada. “Nunca deixei de dormir por causa do Sporting perder um jogo”, confessa, acrescentando que apenas gosta de falar de futebol para pôr as pessoas à vontade: “Quando recebo entidades as pessoas estão muito formais e acanhadas. Para quebrar esse clima começo a falar de bola. Sou até conhecido por apresentar as pessoas não pelos partidos que representam, mas pelos clubes”. Dono de uma memória de elefante, o autarca quando era pequeno queria ser advogado ou jornalista. Mas acabou por tirar o curso de professor de História. “Ainda comecei a tirar Direito na Faculdade de Lisboa, mas ao fim do primeiro ano vi que tinha uma ideia errada da área. A seguir mudei para História uma disciplina que agora adoro muito”. Antes tinha estudado na Escola Primária de Rio Maior, passou pelo externato local e ainda estudou no Externato Braancamp Freire, em Santarém. Foi estudar para Lisboa em 1967, altura em que arranjou também emprego na Secretaria de Estado da Informação e Turismo. O horário de trabalho, da uma da manhã às nove, permitiu-me conjugar as duas coisas. Após terminar o curso regressou a Rio Maior para dar aulas na escola secundária. Em 1980 é eleito vereador da câmara e três anos depois sobe a deputado socialista na Assembleia da República. Em 1985, a 15 de Dezembro, volta a candidatar-se à autarquia e perde com 19 votos de diferença. Mas Silvino Sequeira acreditava que mais tarde ou mais cedo chegaria à cadeira do poder. Pelo menos foi o que lhe disse um astrólogo que consultou em Lisboa, quando ainda estudava. Voltou a encontrar-se com ele antes de se candidatar pela terceira vez. Nessa altura o astrólogo disse-lhe que ia ter o maior resultado de sempre. E foi de vez. Em 1989 as previsões confirmaram-se.Assim que assume a presidência da autarquia, começa a ser conhecido como uma pessoa extrovertida. Um autarca pouco dado a protocolos e formalidades. Um homem que prefere andar na rua a conversar com os munícipes do que estar enfiado entre as quatro paredes do gabinete. Quanto a personalidades políticas a sua preferência vai para Mário Soares. A foto do ex-presidente da república está em lugar de destaque. A explicação é simples. “Foi o primeiro Presidente da República a visitar Rio Maior e por isso nunca o vou esquecer. Mas também não esqueço Jorge Sampaio e pessoas de outros partidos como Cavaco Silva”.Silvino Sequeira tem um jeito nato para contar anedotas, o que lhe permite arranjar muitos amigos. Aperta a mão tanto a mendigos como a ricos, mas não gosta de pessoas hipócritas e mal formadas. O seu principal problema é ser uma pessoa nervosa. E reconhece que por vezes fala demais. “Sou cão que ladra. O que tenho a dizer digo logo na altura”, sublinha. Com uma visão muito romântica da vida, o autarca acredita que um dia vai fazer parte da história da sua terra. “Gostava de ter o meu nome na história local. Pelo que tenho feito em nome do interesse público acho que a História de Rio Maior terá de ter pelo menos uma alínea sobre o Silvino Sequeira”. A caminho dos 55 anos, sente-se uma pessoa desanimada com o rumo que leva a política autárquica. “Há menos ética”, desabafa. Quando sair do cargo, quer deixar a vida político-partidária em definitivo e regressar à vida pacata. “Quero aproveitar esse tempo para satisfazer o Silvino, fazendo o que agora não posso fazer. Quero estar mais só. Passar a ter vida privada”, anuncia. Nessa altura pretende correr livrarias em Lisboa, ir ao cinema. E também poder assistir a jogos de futebol do União de Rio Maior noutras terras, sem ser insultado, como já aconteceu, por ser o presidente da câmara. Nessa nova vida, de um homem que se apresenta como um sonhador, Silvino Sequeira não se está a ver sentado num banco de jardim à espera que o tempo passe, nem enterrado no sofá a ver televisão. E admite mesmo sair de Rio Maior, terra que o viu nascer, para um sítio onde ninguém o conheça.

Mais Notícias

    A carregar...