Empregado precisa-se
Empresária da Torre do Bispo, Santarém, desespera
Fátima Rodrigues tem trabalho para dar mas não consegue encontrar quem o queira. Proprietária da “Electromobiladora da Torre” uma empresa de comercialização e reparação de electrodomésticos com sede em Torre do Bispo, a empresária diz que o desemprego só aumenta porque muitas pessoas preferem ficar em casa a receber o subsídio em vez de irem trabalhar.
Já pôs anúncios na rádio, na imprensa escrita. Já recorreu ao Instituto Superior de Línguas e Administração (Isla) e ao Centro de Emprego de Santarém. Já pediu ajuda a pessoas conhecidas. Fátima Rodrigues é uma empresária desesperada. Há quase um ano que precisa de uma empregada de escritório e não consegue. “Pelos vistos não há desempregados. Há pessoas que não querem trabalhar e preferem ficar em casa a receber o subsídio de desemprego”.No escritório da “Electromobiladora da Torre”, empresa de reparação e comercialização de electrodomésticos situada em Torre do Bispo, concelho de Santarém, a empresária mostra a sua última “invenção” para arranjar uma empregada. Uns papelinhos, feitos no computador, que deixa no dentista, no instituto de línguas onde o filho estuda, na loja onde costuma comprar malas, nas sapatarias e em outros locais do género.Fátima Rodrigues não pede um grande currículo, nem habilitações superiores. Pretende apenas uma pessoa que entenda minimamente de computadores e tenha boas noções de contabilidade e facturação.Durante este tempo o que lhe tem aparecido são “recém formados, com o sonho das multinacionais, que só querem saber do ordenado, das férias e do horário laboral”. Ou então “desempregados de longa duração que nada sabem fazer e que estão a ganhar do fundo de desemprego e por isso não querem ser declarados”.Dos licenciados ouve quase sempre a mesma lengalenga – “sou doutora, já concorri para multinacionais, para bancos, para câmaras, para organismos estatais e aguardo resposta. Portanto faça conta comigo e não faça, porque se me surgir uma coisa melhor vou-me embora”. Há uma semana, a empresária conseguiu dar emprego a uma jovem à procura do primeiro emprego que morava a quatro quilómetros da empresa. “Trabalhou de manhã, garantiu-me que estava a sentir-se óptima. Foi almoçar e quando chegou disse-me que tinha pensado melhor e que afinal não era bem isto que queria”, refere Fátima Rodrigues, adiantando não entender como em apenas três horas de trabalho se fica a perceber se se gosta ou não do emprego.A empresária está desesperada. E revoltada. “Não sei onde estão todas aquelas pessoas que engrossam as estatísticas do desemprego e que dizem estar desempregadas e a passar dificuldades. Não sei onde estão os jovens à procura do primeiro emprego”, desabafa.O facto da empresa estar sediada numa aldeia é um factor de desmotivação para os candidatos? “Talvez isto me esteja a acontecer por esta ser uma empresa de aldeia, que apostou no desenvolvimento de uma pequena comunidade e que se honra de há mais de dez anos laborar e ter os seus compromissos sociais, laborais e fiscais em dia”.“Será que as pessoas têm medo de trabalhar?” questiona Fátima Rodrigues. “Nós aqui trabalhamos mas quando é preciso ir ao café também vamos, também conversamos e brincamos, também fazemos festas e viagens. Mas há dias em que também temos de trabalhar mais”.“Temos trabalho, quero dar um emprego e não tenho a quem”, diz, acrescentando que não produz mais porque não tem capacidade em termos de recursos humanos. “É triste ter de recusar encomendas e serviços por causa de uma situação destas”.Autodenominado-se como uma “mulher do século passado mas não velha” Fátima Rodrigues diz que o grande mal deste tempo é a falta de responsabilização dos jovens. E culpa muitos pais porque “lhes dão tudo, não os preparando para a vida”.“No meu tempo não havia escolhas, acabei o 12º ano e, como vinha de uma zona de província, ou trabalhava no campo ou sujeitava-me a qualquer coisa na cidade. Porque queria constituir família e ter as contas em dia arregacei as mangas, e agora sou dona de uma empresa e tenho nove empregados a meu cargo”, diz, finalizando – “hoje em dia as pessoas parecem só querer ter o doutor atrás do nome e trabalhar numa empresa que seja conhecida, mesmo que ganhem pior”.
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