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Os mil e um segredos dos bordados

Na oficina da bordadeira Rosa Silva

Ponto pé de flor, rechilie, ponto cruz, matiz, grilhão, cadeia e cheio são alguns dos pontos que Rosa Silva aplica nos seus bordados. A grande moda é o ponto de cruz que atrai pela magia das cores, apesar do clássico bordado branco para lençóis e toalhas continuar a ser procurado. Rosa Silva só trabalha por encomenda e as solicitações são muitas. As clientes não se importam de esperar por uma peça. E às vezes são precisos dois ou três anos.

Era ainda uma criança quando arriscou os primeiros pontos numa toalha. Hoje Rosa Silva, 42 anos, faz dos bordados o seu modo de vida. Tudo o que sabe aprendeu sozinha. Costumava olhar atentamente a mãe e a tia que dominavam a arte. “Foi uma coisa que partiu de mim. O gosto nasce cá dentro da gente”, explica a bordadeira.A jovem entretia-se a desenhar e a bordar as roupas com que vestia as bonecas. Confessa que às vezes espreitava um ou outro modelo nas revistas.Rosa Silva sempre fez bordados, mas dedicou-se à arte a tempo inteiro há cerca de dez anos. Por motivos de saúde teve que deixar o artesanato em bunho. Começou com os bordados ainda no Campo da Feira, em Santarém, no pavilhão ao lado da cestaria, onde tinha também a sua oficina de artesanato.A bordadeira começa o seu dia de trabalho às 10h00 e termina às 19h00. Os bordados são executados na sua pequena loja na Ribeira de Santarém, no mesmo prédio da sua residência.Na sua loja tem à venda objectos de artes decorativas que Rosa Silva executa e trabalhos de outros artesãos scalabitanos. Costuma dedicar-se às artes decorativas à noite, mas se as encomendas estiverem atrasadas tem que bordar, embora a luz artificial não seja a mais indicada para um trabalho que exige grande esforço dos olhos.O ponto pé de flor, rechilie, cadeia, cheio, matiz e grilhão são alguns dos pontos aplicados nos bordados. O ponto cruz – que é a grande tendência dos bordados - não é tão simples como parece. “Tem o seu segredo. Os pontos têm que estar todos virados para o mesmo lado e tem que ficar direito por trás”, explica, de agulha na mão, enquanto vai colorindo uma peça em tons de azul.A bordadeira trabalha sobretudo por encomendas. Às vezes tem que preparar trabalhos para mostrar em exposições um pouco por todo o país. É sobretudo nestas alturas que as clientes conhecem o seu trabalho. Ficam com o seu contacto e chegam a ligar-lhe para fazer a encomenda pelo telefone. Pelo correio enviam-lhe uma amostra do bordado e da renda que pretendem, que Rosa Silva volta depois a devolver.As solicitações são muitas e às vezes as clientes têm que esperar dois ou três anos para que as peças sejam acabadas. Rosa Silva não gosta de trabalhos muito simples. Prefere os bordados complicados, “que dão luta”.Borda sem bastidor e dedal. No dia a dia utiliza apenas agulha, linha e tesouras. Às vezes uma hora de trabalho de inspiração rende-lhe mais que um dia inteiro. Para não se cansar dos trabalhos, a bordadeira costuma saltar entre os bordados conforme a disposição. “Não é um trabalho que se faça por obrigação ou só para ganhar dinheiro. Tem que ser por gosto”. Um dos trabalhos a que mais se afeiçoou foi um bordado com mais de 100 cores e um mais de um metro de comprimento que executou num mês e esteve em exposição em Lisboa. O que mais lhe custa na sua profissão é ter que coser à máquina para aplicar as rendas, que aproveita sempre para fazer em série. Quando pode escolher os trabalhos que vai levar às exposições aposta na multiplicidade de cores. Gosta de inventar. Muitas vezes inspira-se em desenhos para fazer os seus trabalhos, que faz sempre de maneira diferente. “Já fiz quatro lençóis diferentes com um só desenho”, garante.Por vezes segue um desenho pré-definido, mas é sempre preciso dominar a técnica. “O segredo de um bom bordado é um desenho bem passado”.Apesar de gostar de trabalhar a cores, as encomendas vão quase todas para o clássico bordado branco que adorna normalmente lençóis e toalhas de mesa.O tipo de encomendas também varia desde as toalhas e lençóis aos quadros e naperons muito procurados para os enxovais que ainda não passaram de moda. Na sua loja tem peças para todos os gostos e às vezes são as mais baratas que não saem. A bordadeira queixa-se que há quem ache o trabalho caro, mas considera que ainda não tem o preço justo. A venda dos bordados vai dando para os gastos e pouco mais.Rosa Silva não contabiliza as horas que lhe custa uma peça. Só no final do trabalho é que estabelece um valor. “Olho para a peça e atribuo-lhe um preço”, revela.Ana Santiago

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