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O sonho de trabalhar no campo

Filipe Ferreira, técnico de electrónica que pensa noutros voos

Filipe Manuel da Conceição Ferreira sempre foi um excelente aluno... que detestava estudar. Talvez por isso tenha desistido da escola depois de acabar o nono ano, entrando no mundo do trabalho. Durante cerca de um ano exerceu a profissão de serralheiro de alumínio. Depois ingressou num curso profissional de técnico de electrónica, a sua actual profissão. Mas não descarta a hipótese de um dia vir a ser engenheiro agrónomo. Porque é a trabalhar no campo que se sente bem.

“Comecei a pensar que era um desperdício ficar apenas pelo nono ano, mas ao mesmo tempo queria avançar para algo mais prático”, diz o jovem de 20 anos. Inscrever-se no curso de técnico de electrónica do Instituto de Emprego e Formação Profissional de Santarém foi a solução encontrada e da qual hoje não se arrepende minimamente.A electrónica é um mundo dominado por minúsculas peças que, encaixadas umas nas outras, compõem grandes equipamentos como as televisões ou os computadores. Um mundo em constante mutação. “Acabei o curso em Outubro e tenho a certeza que se agora for dar a volta aos meus papéis vou encontrar muitas coisas já desactualizadas”, afirma Filipe com convicção.Quando há três anos entrou para o curso, Filipe Ferreira não fazia a mínima ideia do que o esperava. “Em electrónica era um zero à esquerda e em termos de telecomunicações nem sequer sabia o que era uma central telefónica”. Mas como bom aluno que era, Filipe rapidamente entrou no ritmo, acabando o curso com média de 18 valores.Os três estágios profissionais obrigatórios foram feitos na Ribatel, empresa de telecomunicações sediada em Santarém, e no final do curso foi convidado a fazer um estágio profissional de nove meses. Aceitou o convite na esperança de mais tarde vir a integrar os quadros da empresa, mas nem sempre as coisas correm como o desejado. O contrato de Filipe Ferreira termina no final do mês e não será renovado. A justificação para ser dispensado é simples e deve-se a uma coisa chamada lei do mercado. A estagnação actual do sector leva a empresas a racionalizarem recursos humanos e Filipe Ferreira, que foi o último a entrar, será o primeiro a sair.Não que isso o incomode em demasia. Se quiser, no dia seguinte já estará a trabalhar em electrónica numa empresa de montagem de alarmes e dispositivos de segurança. “Vou descansar uns dias e iniciar o meu novo emprego a 4 de Agosto”, confidencia.Fazer esquemas, programações e “inventar” circuitos é o que Filipe mais gosta de fazer no ramo da electrónica. Aliás, a reparação dos equipamentos fica para segundo plano quando se começa a falar na construção de placas electrónicas, semelhantes àquelas de cor verde que estão inseridas em todos os telemóveis.“Primeiro é necessário fazer o desenho da placa, que é posteriormente passado para um programa específico de computador”, diz. Depois há que trabalhar a placa, dimensioná-la, furá-la e soldar todos os minúsculos componentes que a compõem. Muitos destes componentes têm de ser trabalhados à lupa, de tão pequenos que são.O tentar saber sempre mais é talvez a principal qualidade do técnico de electrónica. Talvez por isso passe horas no laboratório da empresa a pesquisar, a tentar descobrir o que levou à deterioração de um equipamento, o que o fez “pifar”.A electrónica é a profissão que abraçou por opção, mas o grande sonho de Filipe Ferreira é poder vir a ser um dia vitivinicultor. É por isso que praticamente todos os seus tempos livres são passados a cuidar das vinhas dos avós, com quem vive, em Tremês, às portas de Santarém.“Se esta actividade desse dinheiro e se houvesse mais pessoas para trabalhar no campo garanto-lhe que não tinha entrado no curso nem estava agora aqui. Trabalharia a tempo inteiro na vinha, porque numa vinha tem-se trabalho o ano inteiro”. Também aqui é o trabalho de mãos que conta. De mãos e de pés, uma vez que as uvas que dão os cerca de 120 mil litros de vinho produzido na exploração são pisadas ainda de forma tradicional.Apesar de a sua mente estar actualmente concentrada na electrónica, Filipe Ferreira não descarta a hipótese de, um dia mais tarde, ingressar na faculdade para tirar o curso de engenheiro agrónomo e concretizar o seu sonho. Afinal ainda tem uma vida inteira pela frente...Margarida Cabeleira

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