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O cenário de habitações queimadas e árvores carbonizadas é fantasmagórico

O martírio do Pinheiro Grande

Quatro mortes e dezenas de animais carbonizados

Quatro mortes, 12 habitações destruídas, 20 pessoas desalojadas, animais e bens calcinados e o desespero da terra queimada é o trágico balanço do incêndio que, na tarde do passado sábado, fustigou a aldeia do Pinheiro Grande, no concelho da Chamusca. No domingo de manhã o cenário era fantasmagórico entre construções destruídas, árvores carbonizadas e rostos desesperados medindo a dimensão da tragédia.

Ao cair da tarde de sábado, a aldeia do Pinheiro Grande era um enorme braseiro. A velocidade com que as chamas, impelidas pelo vento forte e temperaturas elevadíssimas, se propagaram suplantaram a perspectiva dos piores cenários. Em menos de nada, o fogo não poupou casas, animais, terrenos agrícolas e florestas. Perdidos no meio das chamas dois homens, de nacionalidade chilena, de uma equipa de prevenção de fogos florestais ligada à indústria de celulose morreram carbonizados na viatura em que seguiam. O incêndio em Pinheiro Grande ceifou mais duas vidas, duas mulheres que não conseguiram escapar à fúria das labaredas. Transportadas ainda com vida para o Centro de Saúde da vila e transferidas de imediato para Lisboa, acabaram por falecer.As vítimas tinham casa em Lamaceiros. Lúcia Duarte, 35 anos, casada e mãe de dois filhos, trabalhava na Ludoteca da Chamusca e Lurdes Rocha, de 67 anos, viúva que residia em Lisboa, mas conservava a sua casa em Pinheiro Grande, onde se deslocava com alguma frequência. “Elas tentaram fugir e foram apanhadas a alguns metros das casas, não houve hipóteses”, diz José Calado, habitante da mesma zona. Ele não assistiu ao começo do incêndio: “Estava em Sines e ia acompanhando o que se passava por telemóvel. A minha casa salvou-se por milagre, não sei explicar como foi possível”, conta. Sem vizinhos contíguos as chamas queimaram um anexo à casa de habitação, mas não entraram: “Quando cheguei e comecei a ver tudo isto, estava à espera do pior. Foi um milagre...”Intervenção divina é também a única explicação que outra habitante encontra para justificar que a sua casa tivesse escapado: “Fiquei aqui com o meu marido, entrei em pânico e não sei como escapei. Estava tão assustada que comecei a correr por aí, nem sei dizer para onde”. Pegada a esta habitação, a casa de Francisco Romão ficou reduzida a cinzas. “O meu pai conseguiu fugir, levaámo-lo para o hospital de Torres Novas com queimaduras nos braços e na cara, embora sem grande gravidade”, diz Francisco Romão, filho mais velho deste habitante de 86 anos. O idoso morava com um dos filhos, mas na altura do fogo encontrava-se sozinho em casa: “O meu irmão estava a trabalhar. O meu pai conseguiu escapar nem sabe como. A meio do caminho disse-nos que as forças lhe tinham faltado e por pouco não se atirou para o chão. Era o fim dele se isso acontecesse”, continua Francisco Romão.Para além de todos os haveres, o fogo nesta habitação destruiu também um pequeno museu de José Romão: “Havia de tudo aqui, coleccionava objectos há muitos anos. Sempre teve essa mania e ao longo do tempo foi juntando milhares de peças”, continua o irmão mais velho.Depois do fogo, resta um monte de papéis queimados e a placa sobre a ombreira da porta “Museu – Variadas Colecções de José Romão – Inaugurado em 30-11-94”.Margarida Trincão
O cenário de habitações queimadas e árvores carbonizadas é fantasmagórico

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