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A variedade genética possibilita o aparecimento de abóboras de 100 quilos

A culpa é da genética

Abóboras de cem quilos e batatas do tamanho de melões

Pepinos e batatas gigantes, abóboras de 100 quilos, cebolas do tamanho de melancias. Os fenómenos agrícolas dependem da conjugação de factores genéticos e da fertilidade dos solos. Explicações científicas, pois claro. Que servem muito bem a quem acredita na ciência. Coisas do outro mundo, insistem os menos permeáveis às explicações técnicas. Fenómenos da natureza, podem muito bem dizer uns e outros. Ou do Entroncamento, na versão mais popular.

Abóboras com 100 quilos, pepinos de meio metro, melancias amarelas ou pimentos brancos nada têm de anormal. O seu aparecimento é apenas fruto da variabilidade genética e de alguns cuidados mais meticulosos dos produtores, no que se refere ao gigantismo. Mas estes frutos excepcionais acabam sempre por fazer algum furor, mesmo sabendo que o seu aparecimento nada têm de transcendente. Durante anos foram conhecidos e divulgados os “célebres fenómenos” do Entroncamento. Muitos deles nasciam no quintal de um conhecido agricultor que com mestria e paciência fazia as mais diversas enxertias. A mesma árvore dava frutos de variedades diferentes. Também são conhecidos os ensaios para que uma só planta produza batata e tomate. Tomateiros e batateiras pertencem à mesma família - solanaceas – e o seu cruzamento é possível.Apesar das explicações, estes caprichos do mundo vegetal continuam a suscitar a curiosidade. E o nascimento de produtos horto-frutícolas de dimensão e formas pouco usuais são objecto de notícia nas páginas dos jornais e motivo de orgulho para os agricultores. Na horta de José Ramalho, em S. João da Ribeira, no concelho de Rio Maior, os pepinos têm mais de meio metro e os pimenteiros dão frutos do tamanho de meloas. Também este ano, em Fontainhas, em Santarém, João Garcia desenterrou do seu quintal batatas com mais de um quilo. Por vizinhas, estas batatorras tinham cebolas anormalmente grandes. O horticultor dizia que eram fruto dos cuidados com que trata a sua horta.Pedro Mascarenhas, engenheiro na Hortejo, no Pinheiro Grande, esclarece as causas que levam ao nascimento destes “fenómenos”: “Sem querer dar uma explicação cabal, o aparecimento de frutos gigantes deve-se à junção de dois factores. Por um lado a inexistência de factores inibidores durante o desenvolvimento e por outro as condições e cuidados culturais”.Idêntica explicação é apresentada por Fátima Quedas, docente da cadeira de Genética na Escola Superior Agrária de Santarém: “Dentro de cada espécie a variabilidade genética é muito variada e é conhecida desde há muitos anos. Por outro lado, o desenvolvimento das plantas também está condicionado por questões de fertilidade do solo. O cruzamento destes dois factores dá origem ao aparecimento de coisas excepcionais”.A abóbora menina é um bom exemplo da biodiversidade: “Normalmente, conhecemos frutos com uma ou duas dezenas de quilos, mas é sabido que a variabilidade genética desta espécie permite atingir frutos com mais de 100 quilos”. Produtos destas dimensões tornam-se difíceis de manusear e transportar. Por outras palavras não são viáveis comercialmente. E este é o motivo que faz com as empresas de semente não apostem em produtos gigantes: “O gigantismo é de fácil controlo genético, por vezes há um único gene responsável, mas comercialmente não tem interesse. É mais importante produzir mais fruto, de tamanho aceitável”, diz Fátima Quedas e prossegue: “São normalmente os horticultores que vão fazendo o apuramento das suas sementes”.Se o tamanho suscita a curiosidade, a cor também pode ser inesperada. Ainda há meia dúzia de anos, poucos poderiam imaginar que os pimentos tivessem mais cores do que o verde e o vermelho, quando maduros. Actualmente é vulgar produzirem-se pimentos cor-de-laranja, amarelos e até brancos. A melancia doce e saborosa não é obrigatoriamente vermelha, a polpa pode ser amarela, rosa ou branca. “Melancias de polpa branca, rosada ou amarela já existem desde tempos ancestrais, fazem parte da biodiversidade e a cor tal como o tamanho é de fácil controlo genético. É só uma questão de hábito alimentar. Com o pimento passa-se o mesmo. Desde há muito que os italianos, por exemplo produzem pimentos de várias cores, tornam as saladas mais apetecíveis”, continua Fátima Quedas. Com a globalização não deverá espantar ninguém se qualquer dia começarem a aparecer no mercado nacional melancias de polpa amarela ou branca e mais estranho poderá ser o seu formato: “Não tenho grande informação sobre o assunto, mas já li que os japoneses estão apostados em cultivar melões e melancias do formato de cubos. Penso que neste caso não deverá ser só melhoramento genético, mas também a utilizam de alguns métodos culturais e condicionem o crescimento dos frutos”, adianta a docente.Margarida Trincão
A variedade genética possibilita o aparecimento de abóboras de 100 quilos

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