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Modelos com pinta

Misericórdia da Golegã comemorou 450 anos com desfile muito especial

O programa comemorativo dos 450 anos da Santa Casa da Misericórdia da Golegã dizia que na sexta-feira, dia 26, se poderia assistir a uma passagem de modelos em lingerie. Mas quem estava a pensar ver desfilar manequins em reduzidos biquinis ficou só com o pensamento. As modelos foram trocadas por gaiatos, que apareceram em palco com roupas de noite... de há dois séculos atrás.

“Ora bolas, assim não vale”, dizia da última fila do cine-teatro Gil Vicente, na Golegã, Manuel Lopes Redol. Com 71 anos bem vividos, o idoso mostrava assim a sua desilusão por não poder ver modelos “a sério”, a passear pelo palco em cueca e soutien. “Ui, isso é que era um regalo, até já me estou a arrepiar todo”. O companheiro do lado, Manuel Alves Correia, abanava a cabeça e retorquia – “és malandreco, és, o que vale é que isso é só fogo de vista..”.Mesmo sem as belas pernas de Naomi Campbell ou os longos cabelos de Linda Evangelista o desfile de saiotes, camisas de dormir de linho bordado e ceroulas mereceu as palmas da assistência, a recordar talvez o tempo em que aquelas peças faziam furor junto do sexo oposto.A grande surpresa da tarde tinha no entanto acontecido minutos antes, quando uma dezena de idosos do Centro de Convívio da Santa Casa da Misericórdia da Golegã mostraram que ainda estão para as curvas, desfilando peças da colecção Outono/Inverno da boutique 111.O que interessava era o espírito e esse não podia ter sido mais jovem na sexta-feira, dia em que se iniciaram as comemorações do 450º aniversário da Santa Casa da Misericórdia da Golegã, cujo programa se estendeu por todo o fim de semana. Homens e mulheres de cabelos grisalhos apareceram em palco transformados em “vedetas” de passarela, com o à-vontade de verdadeiros profissionais.De saias e casacos de cores quentes, maleta ao ombro ou à tiracolo, as manequins da terceira idade rodopiavam, faziam pose, mostravam o joelho e faziam esvoaçar echarpes, para gáudio dos companheiros do dia-a-dia que, na plateia, batiam palmas e riam a bandeiras despregadas.Os homens (apenas dois) pareciam vinte anos mais novos dentro das calças de ganga, das camisas axadrezadas de cores alegres e das swet shirts despretensiosamente caídas sobre os ombros.O delírio atingiu o auge quando Manuel Alves Correia, que pouco tempo antes tinha estado sentado na plateia, apareceu de saia e casaco de cabedal, de mala na mão e botas de salto alto. A assistência dobrava o riso de cada vez que o homem punha a mão na anca, fazia trejeitos com a boca pintada de vermelho vivo e piscava os olhos, a contradizer a letra da música de Madalena Iglésias que saia dos altifalantes – “sei quem ele é, ele é bom rapaz, um pouco tímido até”.Na festa da Misericórdia da Golegã os idosos da instituição mostraram que velhos são os trapos. E que ainda têm muito para dar.

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