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“Avozinha” de 80 anos salta de pára-quedas

Avó, filho e neto juntaram-se em Tancos para saltar de três quilómetros de altitude

É com certeza uma família portuguesa radical: avó, pai e neto saltaram no sábado de pára-quedas de um avião para uma das pistas da Base Aérea militar de Tancos, Santarém, somando mais de 160 anos de vida largados a milhares de metros acima do solo.

Pai e neto já são pára-quedistas mais ou menos experientes e só a avó, Maria Vicente, apesar dos seus 80 anos, era a novata nestas andanças. “Se calhar já tinha idade para ter juízo”, reconheceu a “avozinha radical” à Agência Lusa, minutos antes de entrar no pequeno Cessna 206 que a largou a dez mil pés de altitude (cerca de três quilómetros) para um baptismo de voo com pára-quedas.Tendo em conta a idade e a falta de experiência, Maria Vicente saltou presa a um instrutor que a trouxe, sã e salva, até ao solo, pouco depois do seu filho e neto terem também aterrado sem problemas.“Nunca pensei em fazer isto, mas quando o meu filho me desafiou para saltar aceitei”, recorda com um sorriso, confessando que a resposta até surpreendeu João Vicente. O filho confirmou, admitindo que nunca pensou que a mãe quisesse saltar. “Quando lhe disse foi meio a brincar. Ela parou, respirou fundo, e disse que sim”.Ex-militar na Guiné, João Vicente, de 61 anos, contabiliza 132 saltos e mostrou-se muito entusiasmado com o baptismo de salto da mãe, não temendo qualquer problema de saúde devido a esta brincadeira. “Ela é teimosa, mas é resistente”, confidenciou.Há cerca de duas semanas, Maria Vicente assistiu a um salto do filho no avião e no sábado de manhã compareceu sem falta à chamada de voo feita pelo coordenador de operações de saltos, Eleutério Pinto, membro do grupo de Pára-quedistas Boinas Verdes. “É uma coisa que não é costume, mas penso que é também uma forma de tirar a ideia de que saltar de pára-quedas é perigoso”, considerou.A mesma opinião manifestou o coronel Carlos Jerónimo, segundo comandante da Base Aérea militar de Tancos, para quem esta modalidade “é uma actividade mais segura que outros desportos”, rejeitando a ideia feita que o pára-quedismo envolve muito riscos de acidentes.Apesar da aparência frágil, Maria Vicente confessa-se aventureira noutras coisas, nalguns casos até em demasia, tendo em conta a idade. “O meu filho está sempre a ralhar-me porque subo escadas e tento fazer coisas pesadas”, explicou, salientando que este voluntarismo deve-se também ao desejo de “não estar parada à espera da morte”.Vidreira reformada, Maria Vicente reside ainda na Marinha Grande, terra onde nasceu, e promete guardar a memória desta manhã diferente durante muitos anos. “Foi muito bom. Quando vinha mais perto parecia que o estômago estava a doer”, afirmou logo após ter aterrado, embora rejeitando uma nova aventura.“Se fosse mais nova, tinham de me gramar mais”, disse, virando- se para o instrutor, António Lopes, que a trouxe presa durante o salto. Um pouco afogueada e com as pernas ainda presas da descida acentuada, Maria Vicente compreende agora as virtudes de uma modalidade, que começa a estender-se cada vez mais aos civis.“Quem nunca experimentou não pode dizer aquilo que é”, garantiu, rodeada de netos e dos bisnetos e ainda vestida com a roupa de protecção almofadada que levou para as alturas.O neto, Paulo Vicente, de 23 anos, confessou que o “bichinho do pára-quedismo” começa a seduzi-lo cada vez mais e com o curso que está a tirar “cada vez é mais fácil controlar o sítio e a forma como se poisa”.Sobre o salto da avó, este estudante de Engenharia do Ambiente na Universidade do Algarve reconheceu ter ficado surpreendido com a solicitude da octogenária. “É uma pessoa fantástica e muito corajosa”, reconheceu, elogiando também o comportamento da mãe, Judite Salvador, de 54 anos, que também tinha saltado naquela manhã.O ex-marido, João Vicente, propôs aos filhos que pagassem um salto em “tanden” (preso a um instrutor) à mãe tal como ele fazia à sua, pelo que a família Vicente reuniu-se quase toda nas alturas sobre a pista de Tancos.É quase toda e não na totalidade porque o outro filho de João Vicente não quis entrar neste tipo de brincadeiras, remetendo-se para os trabalhos de logística. “Alguém nesta família tem de ter os pés assentes na terra e tratar das coisas aqui em baixo”, afirmou Élio Vicente, no meio da animação que ajudou a fazer, juntamente com alguns primos e bisnetos da idosa.E no meio do entusiasmo, houve tempo para uma “boca” ao irmão por tê-lo deixado sozinho em terra: “Agora ando na rua e todos vão dizer que sou o maricas da família porque não quis saltar”.Lusa

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