Desabafos do povo
Poetas populares do Ribatejo reuniram-se em Samora Correia
Um escape, um prazer, uma forma de contribuir para o mundo melhor. São muitas as motivações dos poetas populares do Ribatejo.
A poesia pode ser um escape para as amarguras da vida, pode ser um momento de prazer, uma forma de ocupação dos tempos livres ou até um meio para contribuir para um mundo melhor.E se alguns dos que escrevem são verdadeiros poetas que respeitam as regras de ouro para um poema bem construído, a maioria são fazedores de versos que colocam no papel os sentimentos que lhes invadem a alma.Filipe Lopes, 31 anos, começou a escrever versos logo que aprendeu as primeiras letras: “Por muito incorrecto/ que o filho seja para a mãe/ ela tem-lhe sempre afecto/ o amor de mãe é completo; Aconselhou-me a saber estar/ foi quem me deu o ser/ ensinou-me a perdoar/ e pediu a Deus para eu vencer”.Foi no café do pai, em Samora Correia, que ouviu os mais velhos, homens que mal sabiam ler e escrever, e ganhou alento para escrever coisas simples, mas com uma enorme carga de sentimento. “A poesia é uma forma de desabafarmos e de contribuirmos para um mundo melhor”, explicou no III Encontro de Poetas do Ribatejo que se realizou no dia 10 de Janeiro e juntou 25 poetas da região e alguns do Alentejo no Palácio do Infantado em Samora Correia.Entre os participantes, quatro jovens provaram que a poesia popular não é coisa de velhos. Que o diga Miguel Ouro, um jovem de Azambuja que já editou um livro e vai lançar a 27 de Fevereiro uma obra sobre a vida e obra do seu conterrâneo Sebastião Mateus Arenque, uma referência da poesia popular.Mais discreta, Luísa Perdigão, 67 anos, residente em Torres Novas, contou que o seu primeiro poema foi uma carta em quadras dirigida à mãe. Ainda era menina e moça e não esperava que a sua veia poética tivesse tanto para dar. Apesar de ser uma mulher humilde, gosta de participar nos encontros de poetas. “É um momento de saudável convívio e troca de experiências”, refere. A poetisa não tem nenhum livro publicado, mas tem poemas seus numa colecção de poesia popular editada pela Câmara Municipal da Chamusca. “Sou sensitiva, escrevo quando necessito de escrever, mas não gosto muito de publicitar a minha poesia”, disse. Ainda assim escreve alguns poemas que publica num jornal e na rádio local de Torres Novas. João de Brito “é um dos mais consagrados” poetas populares do Ribatejo. O “contador de histórias de vida” vive no Cartaxo e as suas obras reflectem uma vida próxima da ruralidade e das paisagens ribatejanas. O poeta lamenta a falta de apoios das entidades oficiais, onde inclui a Câmara do Cartaxo que continua distante dos seus poetas populares. Mas a comunicação social regional também não foi poupada, especialmente os jornais, que continuam a reservar pouco espaço para a divulgação da cultura local e regional onde se incluem os versos e os poemas do povo.A poesia é também uma forma de combater a solidão. Que o diga Maria Efigénia Machado, 64 anos, natural de Samora Correia. A fazedora de versos, que recusa ser poetisa, nunca casou e depois de uma vida em contacto com dezenas de crianças, a morte da mãe deixou-a sozinha. “Muitas vezes escrevo porque sinto necessidade de comunicar e sinto-me muito aliviada”, disse.Maria Efigénia escreve sobre a sua mãe, as suas crianças, a sua terra e a religião cristã. Coloca no papel uma variedade de sentimentos com uma escrita simples, mas bem elaborada. Alimenta o sonho de deixar um livro mais completo que o conjunto de apontamentos que possui. Para já tem a promessa de ver poemas seus numa antologia de poetas populares a editar pela Câmara Municipal de Benavente.
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